Convite

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“Que foto é essa hein, meu filho? Estão te pagando quanto para assombrar as pessoas na internet?
Assim que enviei a mensagem, a resposta veio ligeira.
“Hahahahaha acho que o cenário não me favoreceu muito, né?”
“Nem um pouco”.
Respondo logo em seguida.
“Eu tirei essa foto no quintal da minha avó, foi a primeira que eu achei salva aqui no PC quando criei o meu perfil do Orkut, depois acabei com preguiça de trocar...” - Lucas era bem comunicativo dando trela a alguém que nem conhecia. Será que ele era uma borboleta aberta assim com todo mundo? Logo comecei a me irritar de novo.
“Ei cara, você não acha perigoso ficar dando tanto assunto para um desconhecido? Eu posso ser um psicopata, sabia?"
“Bom, se você for mesmo um psicopata, pelo menos eu sei a Vila que você mora e que é amigo do meu irmão.”
Ah, então ele já me conhecia? Não pude deixar de sorrir com essa notícia.
“Ei cara, você me conhece?”
“E quem não te conhece, Carlos?” - eu sabia que era um cara popular, mas não imaginava que fosse desse jeito. Ah, na verdade eu imaginava sim. Eu sempre fui meio egocêntrico, não vou mentir, adoro tudo o que aumenta ainda mais minha auto estima. É de mim, fazer o quê? Não vou mudar. Eu não conseguia tirar o sorriso bobo do rosto, me aproximar do Lucas havia sido bem mais fácil do que eu imaginava.
“Também não é pra tanto…” - fingi falsa modéstia, esperando que ele dissesse algo mais ao meu respeito. Eu queria muito descobrir o que mais Lucas sabia sobre mim.
“É sim...”
O maior problema agora era que eu conversava com Lucas, como se o conhecesse a minha vida toda e isso estava começando a me assustar. Para o bem da minha saúde mental, ele não devia ser tão legal assim comigo. Eu não percebi que estava perdido em pensamentos, até que outra mensagem dele chamou minha atenção.
“Sumiu?”
“Não, estou aqui ainda…” - cada frase trocada com ele, fazia meu coração ficar cada vez mais apertado. Que porra era aquela que estava acontecendo comigo?
"Acredito que o motivo que o levou a me enviar uma mensagem, não tenha sido só pra esculhambar a minha foto de perfil, né?” - Droga, o que eu ia dizer agora? Eu era um excelente mentiroso quando me convinha, mas por algum motivo, eu não queria mentir para Lucas.
“Na verdade, foi sim.” - parcialmente essa foi a verdade. A parte que eu queria me aproximar, porque ele era o cara mais bonito que eu havia visto na vida, eu deixei de fora.
“Poxa cara, que honra…” - senti o tom de ironia em sua frase e ri alto. Lucas era o tipo de cara que devia estar sempre acostumado a receber elogios, por isso, quando levava uma crítica ficava boladão. Eu, particularmente, odiava ser criticado, mas adorava criticar os outros. Era de mim isso também, meu jeitinho.
“Desculpa, cara! Mas, se você não tem um amigo honesto para te dizer a verdade, me senti na obrigação de fazer esse bem pra você.”
“Isso quer dizer que agora eu devo te agradecer, por sua incrível ‘generosidade’ em me esculhambar para o meu próprio bem?”
“É basicamente isso mesmo. De nada.”
“Hahahahaha, posso te dizer uma verdade também?” - Será que eu ia querer saber? A  minha curiosidade foi maior do que o meu medo..
“Diga…”
"Para alguém que tem a sua fama e anda na rua se a achando a última bolacha do pacote, até que virtualmente você é um cara gente boa.”
“Ei, está me chamando de metido?” “Estou sim, tu anda na rua que não olha nem para o chão que pisa. Cuidado para não tropeçar no próprio ego qualquer dia desses e se machucar.”
Oxi… Ele estava me esculachando? Eu não era tão fresco assim... Ou era? Comecei a me irritar.
“Acho que está enganado. Não sou eu que estudo na escola dos riquinhos...” - já logo jogo na cara, porque sou desses.
“E daí que eu estudo em escola particular? Isso não quer dizer nada.” - Ele tinha razão, mas eu não gostava de perder uma discussão.
“Quer dizer que o mauricinho aqui é você!”
“Hahahahaha, o fato de ser metido não tem nada a ver com dinheiro. E outra, para sua informação, eu sou bolsista.” - Bolsista? Eu tinha começado viado errado, mesmo! Nem pra eu me interessar por um cara rico pra poder encostar meu pau na sombra. Penso rindo dos meus próprios pensamentos, às vezes eu era tão besta que nem eu me aguentava.
“Olha cara, vai rolar uma festa na casa de um amigo do Roninho na próxima sexta-feira, por que você não vai também e aí conversa comigo pessoalmente para tirar suas próprias conclusões ao meu respeito?” - oh merda! Eu havia acabado de convidar um cara para sair e por mais que eu não quisesse admitir, eu enfiei no convite não só segundas, mas terceiras, quartas, quintas e todas as intenções possíveis.
“Estou sabendo dessa festa, meu irmão não fala de outra coisa. Mas, não sei se vai rolar pra mim…” - senti o tom de chateação em sua frase. Aquilo me incomodou.
“Por quê?” - eu quis saber.
“Primeiro, porque o Roninho é um imbecil que me enche o saco toda vez que me vê e segundo, porque minha avó com toda a certeza, não vai deixar eu ir.” - Que gracinha, ele era o netinho da vovó.
“Não se preocupe com o Roninho, ele só é cão que late. Venha comigo, vai? Eu te protejo do olho de peixe...” - e de todo o resto, eu quis dizer. Mas não disse. Reli minha frase e quase me bati por ter sido tão implorativo no pedido. Droga! Lucas não me respondeu por um longo período depois disso o que me deixou preocupado. Será que eu havia assustado o garoto?
“Cara, eu vou precisar sair agora, vou ver se consigo ir na sexta e te aviso. Falou!” - e foi desse jeitinho que acabou a nossa primeira conversa.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora