Atração

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Não esperei até o dia da festa de Natália para terminar com Bruna. Não achei certo fazer isso com ela. Naquele mesmo dia, depois da escola, chamei Bruna para conversar e expliquei que era melhor não continuarmos juntos pois, não queria que ela nutrisse sentimentos por mim que eu não poderia corresponder. Eu não estava na fase de me amarrar a ninguém. Bruna levou a situação muito mais numa boa do que eu imaginava e até me chamou de príncipe no final das contas.
- Tá pronto, Lucas? - perguntou Júnior, entrando no meu quarto. - Roninho e Verinha chegaram.
- Sim. - dei uma última ajeitada no cabelo ao me olhar no espelho e saí para encontrar os meninos. Antes de sair de casa, deixei um beijo em minha avó e pedi sua benção.
- Deus te abençoe, filho. - aquela mulher era minha vida. Por minha mãe trabalhar muito e meu pai sofrer com problemas depressivos, meus irmãos e eu, desde bebês, fomos criados por nossa avó. Vóinha era a pessoa mais incrível e humana que eu conhecia. Ela tinha uma história de vida tão linda que colocaria no bolso qualquer filme de Hollywood. Vóinha sempre foi muito religiosa e fazia questão de nos criar através dos ensinamentos de Deus. Todos os domingos era sagrada a nossa presença na missa. Por causa da minha avó, eu sempre fui muito família e muito correto. Nunca aceitei de injustiças, mentiras e sempre tentava extrair o melhor das pessoas. Por ser considerado “bonzinho” muita gente pensava que eu era trouxa.
- Uia... A noiva ficou pronta… - Roninho falou e Verinha começou a gargalhar. Um dia perguntei para meu irmão, o motivo de chamarem o cara de Verinha e ele disse que foi obra de Carlinhos, para variar. Por ele ser moreno e escandaloso em suas risadas, Carlinhos o comparou com o personagem Vera Verão da Praça é Nossa e o apelido pegou na hora.
- Saí da frente, filhote de cruz credo! - respondi, sem olhar pra cara de Roninho. Verinha gargalhou de novo e eu acabei rindo com ele. Era impossível manter uma seriedade com aquela risada.
- O Carlinhos não vai com a gente de novo? - a pergunta de Emanuel estava presa na minha garganta desde a hora que os meninos chegaram.
- Carlinhos anda mais terrível do que nunca, rapaz. Passando o rodo na geral, já arranjou esquema pra ele e pro Vitor lá na festa… - meu irmão riu. Eu, não.
- O Vitor é um baitola mesmo, não consegue nem arrumar mulher sozinho…
- Pelo menos o cara ainda pega com ajuda de alguém e você? Qual seu saldo nas últimas três festas, RonRon? - Verinha falou e gargalhou a ponto de chorar de rir. Gostei dele.
- Roninho não tá pegando nem resfriado, o que dirá mulher… - completou meu irmão.
- Cala a boca! Eu fiquei com a Sarah…
- A Sarah que morre de amores pelo Carlinhos? - meu irmão riu. - Cara, a Sarah fica com qualquer pessoa para chamar a atenção do Carlinhos… - Roninho ficou sem graça.
- Não importa, mas fiquei.
- O Carlinhos não estava ficando com a Elisa? - falar o nome dele em voz alta, fez minha mão suar. Que negócio doido.
- Com a Elisa e mais algumas. Mas, hoje parece que ele vai de esquema com a Adriana. - Eu conhecia a Adriana. Ela estudava na mesma sala que eu e era muito gatinha. Eu já tive algumas oportunidades de ficar com ela, mas não me lembro o motivo que acabou não dando certo. Devo ter ficado com alguma de suas amigas.
- Entendi. - respondi casualmente.
Não dava para entender qual era a do Carlinhos. Comecei a pensar se ele não tinha dado em cima de mim só pra me testar, sabe? Se eu caísse em sua conversa e por acaso aceitasse ficar com ele, Carlinhos contaria pra todo mundo e eu viraria motivo de piada na cidade. Em seguida, me lembrei de toda a intensidade daquela conversa, do jeito como ele me olhou e sorriu pra mim. Senti minhas mãos tremerem com as lembranças e meu coração bater mais forte. Eu não sentia esse tipo de sensação com ninguém. Meus Deus! Eu precisava tirar esses pensamentos insanos da minha cabeça de qualquer jeito. Era errado, era pecado, era loucura!
A festa tinha um tema esquisito e Natália estava vestida com uma fantasia de borboleta.
- A festa era a fantasia? - cochichei no ouvido do meu irmão.
- Não que eu saiba. - algumas meninas usavam apetrechos na cabeça e acessórios aleatórios. Por sorte, os homens vestiam roupas normais.
- Estou com sede. Vou buscar alguma coisa para beber…
- Beleza, não vai fazer merda, hein?
Caminhei pelo enorme espaço externo da festa, onde uma grande mesa enfeitada, continha diversos tipos de doces, pratos com salgados e o bolo no centro. Passei direto em busca do garçom que servia as bebidas. A festa ainda estava vazia, então, não foi difícil de achar o cara. Peguei um copo de suco de laranja que tomei de uma só vez e resolvi usar o banheiro antes que ficasse lotado demais. O banheiro estava ocupado e eu fiquei esperando do lado de fora da porta.  Não demorou muito para a porta se abrir e eu dar de cara com Carlinhos, saindo de lá. Foi o minuto de silêncio mais longo da minha vida. Carlinhos também pareceu surpreso ao me encontrar.
-Oi… - falei cheio de nervoso.
- E aí, beleza cara?
- Beleza e você? - eu estava me tremendo todo.
- Beleza também.
- Legal.
- É… - aquela falta de assunto já estava me deixando agoniado. - Você sumiu…
- Ando ocupado com alguns projetos.
- Hm… Não sabia que pegar geral tinha virado projeto em Penedo.
- Está com ciúmes? - perguntou, presunçoso.
- Eu? Com ciúmes de você? Está doido, cara? - não queria demonstrar meu nervosismo, mas eu estava.
- É o que parece.
- Está parecendo errado, então.
- Se é o que você diz… - eu odiava esse jeito prepotente de Carlinhos. Eu queria socar a cara dele. E ao mesmo tempo sentia um misto de sensações adversas. Por que ele tinha que ser tão interessante? E por que eu estava pensando que o Carlinhos era interessante? Despertei dos meus pensamentos, quando o vi sorrir na minha frente.
- Tá rindo do que?
- De nada. - ele continuou sorrindo.
- Fala, Carlinhos!
- Você é bonito até emburrado, sabia? - sinto minha bochecha queimar de vergonha.
- Doidiça! - eu não podia estar me sentindo atraído por ele, não podia. Eu precisava urgente dar um jeito nesse sentimento. - Eu tenho que usar o banheiro. Falou, cara! - dito isso, entrei rapidamente no banheiro e fechei a porta sem olhar para trás. Respirei fundo umas dez vezes tentando controlar a respiração e os batimentos cardíacos. Que merda era aquela? Lucas você gosta de mulher, você gosta de mulher, você gosta de mulher… Repeti esse mantra não sei quantas vezes, antes de abrir a porta de novo e voltar para aquela festa com o único propósito de me provar, por qual motivo eu gostava tanto de ficar com mulheres.
Nem se eu tivesse que pegar todas as garotas de Penedo até me apaixonar verdadeiramente por uma delas. Eu ia tirar esses pensamentos estranhos em relação ao Carlinhos por bem ou por mal e iria começar agora.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora