-Vocês dois? Modelos?- Roninho nos aponta e começa a gargalhar. - Só se for pra posar na globo rural, né? - disse debochado, sem parar de rir. - Já estou até vendo a imagem de dois viadinhos na capa...
- Roninho você com essa cara aí não serve nem pra ser modelo de cemitério, meu filho! Tá querendo falar o quê? Pelo menos eu, o Lucas e a Kelminha vamos ganhar uma grana com isso...
- Eu, com certeza, compraria uma revista do Luquinhas... - Maxsuel alargou um sorriso cheio de dentes ao dizer isso. Eu não disse nada, só o olhei. - Eita que não está mais aqui quem falou! - se defendeu, erguendo as mãos pra cima.
- Tá... E vocês começam a passar essa vergonha, a partir de quando?
- Nós não vamos passar vergonha "Olhos de Tandera"... - argumentei, convencido. - Nós seremos sucesso!
- Cara, vocês são iludidos demais, isso sim!
- Eu não sou iludido Zóio de peixe, só acredito nos meus sonhos. Eu ainda serei muito famoso, você vai ver...
- Vai ser famoso onde, mano? Naquele blog fundo de quintal que vocês trabalham?
- Pelo menos a gente trabalha né, Roninho? E você, faz o que da vida? - rebateu Lucas, irritado. Mesmo depois de tanto tempo, meu namorado ainda se estressava com as provocações de Roninho.
- Uii...Tá nervosinho, Abelardo? Por acaso o Carlinhos não anda dando no couro com você? - eu ia responder, quando o Babau se antecipou na discussão.
- Mais respeito com meu irmão, Roninho. Você sabe que eu odeio esse tipo de provocação com ele. - Roninho percebeu que foi longe demais e recuou.
- Foi mal cara, eu estava só de sacanagem... - já era algo recorrente Babau se meter em brigas na rua para defender o Lucas.
Desde que o nosso relacionamento ficou mais evidente no bairro, que as gozações e o preconceito com a gente haviam aumentado significativamente. Por isso, nós dois estávamos ralando tanto para conseguirmos vencer na vida. Eu queria que todos engolissem seus julgamentos ao nosso respeito e nos enxergassem pela nossa capacidade, não pela nossa sexualidade.
- Vamos embora logo Carlinhos, eu ainda preciso finalizar uma matéria lá no blog antes de viajarmos... - disse Lucas, todo cheio de bico. Eu achava tão bonitinho quando ele ficava emburrado daquele jeito. Eu adorava filmá-lo assim.
- E vocês vão viajar para onde? - perguntou Verinha com curiosidade. Eu nem ia falar nada, mas como adorava causar a inveja em Roninho, não exitei em responder.
- Nós vamos passar o final de semana na Barra... - falei pausadamente, sem tirar os olhos de Roninho. - Passear de lancha... - ergui os olhos. - Curtir o sol com uma piscininha deliciosa... - empinei o nariz. - Aproveitar aquele mar verdinho e todo paradisíaco... - ajeitei meu óculos de sol nos olhos e sorri com deboche. - Se eu lembrar, mando algumas imagens pra vocês... - Eu já era metido naturalmente, quando me davam ousadia então, eu virava um nojo.
- Há, até parece. - duvidou Roninho com uma cara de desdém. - Vocês não tem dinheiro nem para uma passagem de ônibus, o que dirá para pagar uma hospedagem na Barra de São Miguel. - eu ri.
- Aprenda uma coisa zóio de peixe, nessa vida você não precisa ter dinheiro para curtir a riqueza, basta ter contatos... - levantei o óculos de sol mandando uma piscadinha pra ele e saí andando com Lucas ao meu lado. Ele estava quieto e o conhecendo do jeito que eu o conhecia, tinha certeza que ainda estava puto pela discussão com Roninho.
- Vai continuar com essa cara de cu, mesmo?
- Não enche Carlinhos, não quero conversar.
- Gato, você é muito rancoroso... Não pode ser assim, faz mal pra saúde... - fui cutucar o seu braço, ele desviou.
- Sai Carlinhos, eu não estou afim de falar com ninguém agora. - Lucas era o tipo de pessoa que remoía as coisas por dias. Enquanto eu gostava de resolver tudo na hora, ele era o oposto. Se fosse preciso, era capaz dele passar anos sem falar com alguém só por birra. Só eu sabia o que eu sofria quando a gente brigava, Lucas era orgulhoso demais...
Lucas e sua tromba de elefante, foram os primeiros a entrar na sala. Emburrado, ele jogou a mochila de qualquer jeito em cima da sua mesa e se sentou de frente para o computador. Logo que eu me acomodei no meu lugar, ativei a câmera para começar a filmar o nosso blog. Hoje eu iria mostrar um pouquinho da nossa sala para as pessoas conhecerem.
- E aí, pessoal? - cumprimentei o povo, ajeitando a câmera de frente pra mim. - Beleza? - perguntei, empolgado. Camila que trabalhava com a gente também havia acabado de chegar e estava ligando o computador quando iniciei a gravação. - Esse é o nosso local de trabalho, essa é a redação do blog da juventude...
- Oooiiiiii! - Camila deu um tchauzinho animado pra câmera quando a filmei e em seguida, se sentou na cadeira para continuar o seu trabalho.
- No Aqui Acontece... E aí Lucas? Fazendo sua matéria? Vamos dar um tchauzinho pros seus fãs? - virei a câmera para o meu namorado que se ajeitou na cadeira me ignorando completamente. - Lucas? - chamei seu nome de novo na esperança dele não ter me ouvido, mas o "fio do cranco" me ignorou outra vez. Fiquei muito sem graça, mesmo assim, tentei não perder a pose. - Eeeitaaa, como ele tá compenetrado gente, esse menino não é assim... - eu juro que eu mataria o Lucas quando eu finalizasse essa gravação. Ele sabia que eu fazia a filmagem ao vivo e não tinha como editar. O cretino estava propositalmente, me fazendo passar a maior vergonha do planeta e o pior era que eu nem tinha nada a ver com as tretas dele com Roninho. Já logo me irritei. Aquele infeliz ia me dar atenção por bem ou por mal, até parece que eu ia me permitir pagar esse mico de graça. Levantei da minha cadeira e caminhei até ele. - Vamos lá perturbar... Vamos perturbar... - ao sentir minha presença, Lucas olhou pra mim fazendo uma careta debochada com a boca e voltou a me ignorar. Ele só podia estar me testando. - E ae? Vem, vira... - sem a menor paciência, segurei o rosto dele por debaixo do queixo e o forcei a olhar pra mim.
- Uoooo... - Lucas estava fingindo animação, quando eu enfiei o dedo dentro do nariz dele para aprender a me respeitar. - Sai, velho... - ele disse rindo. Não que eu tivesse fetiches por arrancar catotas do nariz do meu namorado, mas foi a primeira coisa que veio na minha cabeça para irritá-lo. Apesar da minha raiva, acabei rindo também da minha porquice. Em seguida, continuei filmando a parede com o logo do blog louco para acabar aquele vídeo logo.
- Esse é o nosso local de trabalho, bem legal né? Aqui acontece com... você! Tchau! - interrompi o vídeo e olhei furioso para Lucas.
- Você é idiota, por acaso?
- Eu já tinha avisado antes que não estava para conversa... - respondeu na maior naturalidade. Lucas me irritava tanto. Camila percebendo o climão, saiu da sala dizendo que precisava ir ao banheiro.
- Você fica puto com o Roninho e vem descontar em cima de mim, cara? Você acha isso certo? Porra, Lucas! Olha o carão que eu passei por sua causa e todo mundo vendo. Tem horas que você é pior que criança... - na hora da raiva, eu não tinha filtro mesmo. Lucas abaixou a cabeça soltando um longo suspiro. - Você gostaria que eu fizesse isso contigo? - eu já nem estava mais tão irritado, aquela cara de bebê arrependido do Lucas já tinha me quebrado, mas eu queria mesmo era fazer um drama. Geralmente, em nossas brigas, eu era sempre o errado agora que eu estava com a razão, resolvi tirar proveito. Deu certo. Lucas se levantou da cadeira e caminhou até minha mesa.
- Desculpa amor, você está certo... - ele veio passar a mão no meu rosto e eu virei a cara fazendo charme. Eu queria mesmo era ser mimado. - Ei... - Lucas abaixou a cabeça me dando um cheiro no cangote. - Nós vamos viajar amanhã, eu não quero que a gente fique mal um com o outro...
- Nem sei se ainda estou no clima de viajar Lucas... - falei, fingindo chateação. Até parece que eu perderia essa viagem por algum motivo, sou besta nada rapaz! Lucas começou a distribuir beijos pelo meu pescoço, arrepiando os pêlos da minha nuca. Eu não ia aguentar fingir essa irritação por muito tempo. Lucas estava jogando baixo comigo, roçando seus lábios por todo o caminho do meu rosto, até alcançar a minha boca. Ele sorriu, porque já tinha percebido que eu estava vendido.
- Tem certeza que você não está no clima de viajar, pretinho? - provocou, colocando uma mão por cima da minha calça jeans. - Pois não é o que parece... - a última provocação de Lucas jogou o fio do meu autocontrole pelo ralo. Por impulso, me levantei abruptamente da cadeira, puxei meu namorado pelo tecido da camiseta empurrando-o com tudo para cima da minha mesa. Fiquei posicionado de frente para ele. - Carlinhos... - disse num sussurro.
- Fica quieto, Lucas... - ordenei, capturando sua boca. Lucas estava excitado pela adrenalina do momento e eu estava subindo pelas paredes, já no meu limite. Eu era louco por aquele cara! Depois da conversa com Zoelma, Lucas pareceu ter ficado mais tranquilo. Minha mão desceu pelo abdômen definido do meu namorado até o cós de sua calça jeans. Não parei de beijá-lo enquanto abria o botão e puxava o zíper para baixo. Eu queria devorar Lucas ali mesmo, bem em cima da minha mesa. Eu só me dei conta do lugar que estávamos, quando o barulho da porta atrás de nós, chamou nossa atenção.
Viramos para trás e encontramos Camila, parada igual uma estátua na entrada, com uma mão apoiada na maçaneta e os olhos arregalados, fixos em nossa direção. Camila sabia do nosso namoro, mas nunca havia presenciado nós dois em um momento tão... íntimo. Lucas e eu quase nunca fazíamos esse tipo de demonstração de afeto em público. Na frente das pessoas, tentávamos ser os mais discretos possível, mesmo não escondendo nosso relacionamento.
- Err... Hã... Acho que a feijoada que comi no almoço me deu diarréia... - Camilinha colocou a mão na barriga fazendo uma careta engraçada. - Eu vou precisar voltar para o banheiro... é... não precisam se preocupar comigo... tchauzinho! - ela deu um aceno com a mão e saiu, fechando a porta novamente.
Lucas me encarou por alguns segundos antes de nós dois cairmos na gargalhada.
- Será que traumatizamos nossa amiga? - perguntou Lucas, abotoando a calça e ajeitando a camiseta.
- Provavelmente, cara... - eu ainda estava rindo quando dei um soco falso na barriga de Lucas. - Vai, agora sai de perto de mim que eu não tenho estrutura pra ficar do seu lado não...
- Oxi... Por que, preto?
- Porque você é muito bonito e eu quero te beijar toda hora. - Lucas sorriu sem graça e voltou pra sua mesa. Tentei me concentrar no meu trabalho de novo, mas não obtive sucesso. - Ei... - Lucas que já estava com os olhos compenetrados no computador novamente, desviou a atenção para olhar pra mim. - Te amo. - a minha declaração inesperada o fez abrir um sorriso tão lindo que a minha vontade era congelar o tempo naquele momento, só pra ficar lhe admirando o máximo que eu pudesse.
- Eu também te amo. - respondeu, voltando a trabalhar.
A satisfação de ouvir aquelas palavras sairem da boca dele, não tinha preço. Apesar de ter se tornado algo frequente esse tipo de declaração entre a gente, eu ainda escutava com a mesma melodia da primeira vez. Será que as coisas sempre seriam assim entre a gente?_
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Para Todo Sempre Carlu
FanfictionPara Todo Sempre é uma Fanfic inspirada no romance de Carlinhos Maia e Lucas Guimarães. Porém, apesar de ter me baseado em alguns fatos reais para elaborar a história, é importante frisar que nada aqui é realmente real. Tudo é ficção e obra da minha...