Dia dos Namorados

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Ponto de Vista - Lucas

- Lucas, eu estou falando com você! - diz a professora de matemática, chamando a minha atenção. - Está dormindo acordado?
- Foi mal, professora.
- Eu acho bom o senhorito prestar atenção na minha explicação, porque eu não vou responder a dúvida de ninguém no dia da prova. - diz, brava. Eu juro que tentava prestar atenção no que ela dizia, mas a minha cabeça estava a mil.
Fazia duas semanas que eu tinha engatado em outro relacionamento. Era o quinto, em 6 meses. Eu continuava procurando encontrar a mulher que me faria esquecer os sentimentos estranhos que eu vinha nutrindo por Carlinhos, mas parecia que sempre faltava algo. Hoje era dia dos namorados e minha empolgação estava abaixo de zero. Júnior, meu irmão mais velho, inventou de comemorar o dia chamando todos os casais para trocarem presentes no Oratório, um barzinho localizado no centro de Penedo. Meu irmão mais velho, por incrível que pareça, também estava namorando e todo apaixonadinho querendo impressionar a Joyce, sua garota. Aproveitei que ele iria no Boticário na hora do seu almoço e pedi para que comprasse um kit para que eu pudesse dar pra Jéssica também. Eu, apesar de não ter dinheiro, sempre gostei de ostentar, me vestir bem e usar coisas legais. Nisso, Carlinhos e eu, éramos muito parecidos. Ele estava sempre buscando algo novo para se dar bem na vida e tinha em mente alguns projetos. Eu admirava muito a inteligência de Carlinhos, ele era bastante visionário e sonhador. Depois da nossa briga, ele acabou me dobrando e fizemos as pazes. Eu havia me tornado seu confidente e parceiro de sonhos também. Ele queria dar uma vida melhor para seus pais e eu para minha família.
Combinamos de nos encontrar no Oratório no final da tarde. Jéssica estava empolgada e ansiosa para o nosso encontro, já eu, estava mais ansioso com o presente que eu iria ganhar dela mesmo. Afinal, pra que estar namorando no dia dos namorados, se não for pra ganhar presente? Júnior e Joyce se sentaram nas cadeiras do meu lado direito, Jéssica do meu lado esquerdo e os outros dois casais de amigos nossos na nossa frente. Carlinhos não quis ir, alegando que iria fazer outra coisa. Na verdade, eu sabia que ele não iria, porque não queria me ver nesse clima de romance com Jéssica. Pedimos nossos lanches e Joyce bateu palmas animada.
- Vamos trocar os presentes? Eu começo, bebê! - falou ela para Júnior dando um selinho em sua boca. Eca! Aqueles dois eram mel puro, não sei da onde vinha tanta empolgação. Nunca me senti empolgado desse jeito com nenhuma namorada. A maioria dos casais, estavam com sacolas da Boticário nas mãos. Eu estava mesmo precisando de um perfume… Olhei para a sacola de Jéssica e vi que era diferenciada. Devia ser alguma roupa, o que era uma maravilha também! Uma camiseta de marca é sempre bem vinda…
Depois de fazer um discurso todo meloso, Joyce entregou o presente para Júnior que ficou feliz da vida por ter ganhado o perfume que tanto gostava. Todo mundo na mesa aplaudiu e Junior retribuiu o presente de Joyce. A sequência foi a mesma com os outros casais, todos pareciam bem satisfeitos com seus presentes. Eu só queria pegar o meu presente logo e ir pra casa. Carlinhos ficou de me chamar no MSN às dez horas da noite. Era minha vez de dar o presente. Júnior gastou trinta reais com o kit que fez da Boticário pra Jéssica. Tinha maquiagem, um creme de corpo e um creme de mão. Tive que pegar dinheiro com minha vó pra comprar esse presente, espero que o retorno seja bom. Jéssica ficou muito feliz também. Ela cheirou o creme tantas vezes que achei que estivesse se drogando. Em seguida, pegou a sacola ao seu lado.
-Esse presente vai para o namorado mais lindo e mais maravilhoso do mundo! Comprei de todo o coração e achei sua cara… - ela sorriu, me entregando a sacola. - Espero que goste. - eu forço um sorriso, pegando a caixa dentro da sacola e desembrulho a embalagem. Todo mundo estava em silêncio olhando pra mim na mesa. Era uma camisa. Ao tatear o tecido, achei o material um pouco estranho, de qualquer forma, continuei o processo até a camisa sair completamente do saquinho e eu abri-la mostrando para toda galera. O minuto de silêncio após isso, foi intenso. Eu mesmo estava em choque.
Olhei para Júnior com uma expressão indecifrável no rosto. Eu queria morrer. Ou melhor, eu queria matar. Logo que me encarou, Júnior não aguentou e caiu na gargalhada. Em seguida, foi desencadeada uma sequência de gargalhadas com todos olhando pra minha cara. Que vergonha! A camisa era da marca Ralph Lauren, mas nitidamente falsificada. Até o símbolo do cavalinho era meio troncho. A costura completamente deformada e uma estampa que nem no carnaval dava para ser aproveitada.
- Você achou isso minha cara Jéssica? - pergunto, irritado. Eu tava puto.
- Sim gatinho, por quê? Não gostou?
- Nossa, é linda cara! Quero ver você usá-la na festa de sábado… - debochou um amigo nosso.
- Vai combinar com sua bermuda xadrez, Agostinho Carrara. - zombou meu irmão me comparando ao personagem de um programa de TV chamado A Grande Família. O Agostinho era interpretado por Pedro Cardoso e sempre vestia umas roupas extravagantes que não tinha nada a ver com nada. Jéssica vendo minha cara, fechou o sorriso.
- Não gostou Lucas? - eu não queria responder, mas respondi.
- É ótima, Jéssica. - falei pra ela e em seguida, cochichei pro meu irmão. - Amanhã mesmo vou terminar com essa garota. - ele não parava de rir.
_- Por causa da camisa? É bonita, pow! - respondeu todo cheio do deboche.
- Amanhã eu termino. - eu já não tava mais afim dela mesmo, já ia unir o inútil ao desagradável. Podem me chamar de interesseiro e o que for, mas não dá pra ficar com alguém que não faz ideia dos meus gostos. Carlinhos jamais me daria uma camisa dessas. Olhei para o relógio e vi que tinha dado minha hora. - Vamos pedir a conta? Preciso ir embora. - depois desse dia, Jéssica ficou só na memória mesmo. E a camisa, voinha adorou reaproveitá- la como pano de chão.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora