Zoelma

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   Zoelma era uma sexóloga super conhecida no Estado e também muito bem sucedida. Ela dava várias palestras sobre o assunto pelo Brasil e ainda tinha um quadro de perguntas em um dos programas da nossa rádio local. Eu e a minha tremenda cara de pau tentaria a sorte de conseguir agendar uma conversa com ela.
- Preto, a gente não tem nem dinheiro pra pagar o tempo de uma mulher dessa, tá doido? Ela deve cobrar uma fortuna! - Lucas disse isso, mas não saiu do meu lado enquanto eu aguardava o melhor momento de abordá-la na saída da rádio.
- Relaxa, Lucas. Eu sei o que estou fazendo… - tentei passar confiança, mas a verdade é que eu não fazia a mínima idéia do que fazer ali.
- Você acha mesmo que aquela mulher toda chique vai falar com dois pé rapados igual a nós? No mínimo, vai achar que somos dois trombadinhas querendo o dinheiro dela…
- Seja otimista, gato! Vai dar tudo certo… - o programa da rádio já tinha acabado fazia uns dez minutos, fiquei na espreita do prédio só acompanhando o movimento da entrada e saída de pessoas. Não demorou muito, avistei a mulher loira atravessar a porta de vidro e caminhar na direção de um veículo que estava estacionado próximo a entrada. - Olha ela ali, vamos!
Lucas até tentou segurar o meu braço para me impedir, só que eu já tinha disparado na frente.
- Ei, Zoelma! - acenei pra ela como se fôssemos melhores amigos. Zoelma estava prestes a entrar em seu carro, quando olhou pra mim.
- Oi? - disse semicerrando os olhos, como se estivesse tentando se lembrar da onde é que me conhecia.
- Eu sou o Carlos e sou seu fã! - falei, esticando a mão pra ela. - Eu acompanho seu programa na rádio e acho muito maneiro... - a mulher loira apertou minha mão, me abrindo um enorme sorriso. Eu encarei Lucas. - Esse aqui é o Lucas, meu namorado. - apontei para Lucas que ficou vermelho na hora. A gente nunca dizia isso pra ninguém, ainda mais para um desconhecido. Mas, Zoelma me transmitiu uma paz e uma confiança tão grande logo de cara, que eu já quis contar minha vida todinha pra ela.
- Prazer, Carlos... - ela devolveu o sorriso grande para Lucas também. - Vocês formam um belo casal, é nítida a sintonia que existe entre vocês... - Zoelma disse isso com tanta naturalidade que nem parecia que estava se referindo a um casal de homens. Geralmente, a primeira reação das pessoas era o choque. - Eu fico muito feliz por ter jovens como vocês gostando do meu trabalho… - rolou um pequeno minuto de silêncio até que eu criasse coragem pra fazer o que tinha que ser feito.
- S-sabe… - eu não podia começar a gaguejar agora. - Eu sei que seu tempo deve ser muito corrido, mas é que eu e o meu namorado estamos tendo… É… A gente namora há quase três anos, sabia? - é claro que ela não sabia Carlinhos, a mulher nem te conhecia, como vai saber? Que vergonha!
- Caramba! Três anos é bastante tempo… - ela olhou pra mim e para Lucas. - Vocês se descobriram muito cedo, imagino o quanto tenha sido complicado lidar com isso na idade de vocês… - dei um cutucão disfarçado em Lucas que acenou com a cabeça. Nós estávamos vidrados na mulher. Ela manjava mesmo dos paranauê.
- Na verdade era sobre isso mesmo que gostaríamos de falar com você… - respirei fundo, olhei de um lado para outro e encarei a mulher. - Nós ainda estamos com algumas dificuldades para lidar com certas coisas, quer dizer, o Lucas tem dificuldade para…
- CARLINHOS! - Lucas me repreendeu e Zoelma sorriu mais.
- Olha, eu estou morrendo de fome. O que acham de irmos no restaurante que tem ali do outro lado da rua e vocês me contam um pouquinho mais sobre a história de vocês enquanto lanchamos? - Zoelma era tão simpática. Ela não forçava gentileza, ela era uma fonte de luz natural. Eu queria muito aceitar o convite, mas nem Lucas e nem eu estávamos com dinheiro para pagar nada. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Zoelma me interrompeu. - Eu faço questão de pagar o jantar de vocês, estou bastante curiosa para ouvir o que vocês têm pra me falar… - Lucas sorriu pra mim e aquele sinal era o que eu precisava para aceitar o convite de Zoelma.

Entramos no restaurante e Zoelma pediu ao garçom que nos colocasse em uma mesa mais afastada, encostada na parede. Percebi que ela estava tentando nos dar privacidade, para nos sentirmos mais à vontade. Era incrível como de maneira tão espontânea, ela se preocupava com cada detalhe. A mesa era de quatro lugares. Zoelma se sentou na minha frente e Lucas ao meu lado. Por debaixo da mesa, Lucas colocou uma mão na minha perna. Eu sabia que ele estava procurando apoio em mim e para tranquilizá-lo de que eu estava lá, apertei sua mão na minha. Zoelma aparentava estar muito confortável com a nossa presença, ela olhava o cardápio descontraidamente e antes de fazer seu pedido, perguntou o que iríamos querer. Eu nunca havia conhecido alguém como Zoelma. Ela tratava todos a sua volta com a mesma cortesia e respeito. Acabamos que eu e o Lucas pedimos um cheese salada com fritas e um suco de laranja com acerola. Enquanto aguardávamos a chegada do nosso pedido Zoelma olhou pra nós.
-Pronto! Agora já podem começar a me  contar como é que se conheceram, porque eu sou fascinada numa bela história de amor...

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora