Primeira Vez

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Fizemos em silêncio, o curto caminho da praia até a casa de Zoelma, na moto de Carlinhos. Eu estava pensando em tudo que aconteceu na lancha e meu coração batia forte, acelerado. Eu nunca pensei que teria coragem de fazer o que eu fiz, mas já tinha um tempo que eu andava sentindo essas vontades. Inconscientemente, eu coloquei muitas barreiras e desculpas em meus próprios pensamentos, por medo de aceitar aquilo que eu verdadeiramente queria. Quando eu disse que só queria me entregar a Carlinhos para ele acreditar nos meus sentimentos e por preocupação de ser traído, eu sabia que era o meu subconsciente arrumando outra desculpa para fugir do fato de aceitar que eu era gay. Mesmo eu achando que já tivesse aceitado essa condição no dia que concordei em namorar com Carlinhos, eu percebi que estava errado e a minha aceitação ia muito além disso. Depois das palavras de Carlinhos, eu consegui enxergar o que ele e Zoelma estavam tentando me dizer a semana toda. Eu mesmo estava me boicotando por medo de aceitar os meus desejos e quem eu realmente era. Eu estava deixando qualquer interferência externa bloquear ainda mais isso dentro de mim. Minha prima sempre me disse que a opinião dos outros não importavam, porque no final não seriam os outros que estariam comigo, mas aqueles que verdadeiramente me amavam. E Carlinhos me amava. Ele só podia me amar, para estar comigo tanto tempo esperando o momento em que eu finalmente me aceitaria. Eu queria chorar. Eu sempre queria chorar, mas eu não ia fazer isso agora. Não quando eu enfim, me sentia preparado e pronto para dar mais um passo importante na minha relação com Carlinhos. Eu ainda estava nervoso, mas dessa vez não tinha mais a ver com dúvidas e sim, com expectativas.

Carlinhos estacionou a moto e deixamos o isopor vazio, na área da churrasqueira. Apesar de já ser umas duas horas da manhã, os amigos de Ramon e Aminie continuavam animados por toda a casa. A maioria nitidamente influenciados pelo alto consumo de bebidas alcoólicas.
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Eu entrei na sala com aquela mesma sensação do dia em que beijei Carlinhos pela primeira vez no banheiro do bar. Era como se estivesse escrito na minha testa que eu havia acabado de chupar meu namorado ao ar livre dentro de uma lancha. Mas, diferente do dia do meu primeiro beijo, eu não estava me sentindo mal ou confuso por isso. Aquele dia eu só tinha vontade de sumir, hoje eu não via a hora de fazer de novo.
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Bruno, a paquita da Xuxa, deu uma olhada rápida pra gente na hora que entramos, mas logo desviou o olhar. Pelo visto, ele pareceu entender bem o meu recado em se manter longe de Carlinhos. Sim, Carlinhos não sabia, mas eu tinha feito isso. Eu havia passado o dia todo com a mente a mil por causa daquela história. Assim que voltamos do passeio de lancha, eu avisei Carlinhos que iria tomar banho e subi para o quarto. Eu precisava ficar um pouco sozinho. Peguei minhas coisas e fui para o banheiro, coincidentemente, no mesmo momento em que Bruno saía dele. O cara estava passando por mim de cara fechada e sem dizer nada, nem parecia o mesmo mister simpatia que eu vi na churrasqueira jogando charme para o meu namorado.

_-Ei, cara. - chamei, segurando seu braço. Ele podia ser mais alto que eu, mas eu tinha força.

_- E aí? - perguntou confuso, encarando minha mão no braço dele.

_- Olha mano, eu não gosto de confusão e sou super da paz… - falei, apertando os meus dedos um pouco mais forte em seu braço. - Posso ver que você é um cara inteligente e já percebeu que o meu amigo lá embaixo, não está na pista…
_- Não sei do que você está falando, mano. Pode soltar o meu braço?
_- Você passou o dia todo testando minha paciência velho, não tente fazer isso agora... - usei um tom de voz mais sério e ameaçador. - Só vou te dizer uma coisa cara, mantenha esses seus olhos azuis bem distantes do Carlinhos e não teremos mais nenhum tipo de problemas, ficou entendido? - A paquita da Xuxa me encarou sem dizer nada e saiu rapidamente quando eu larguei bruscamente o seu braço. Sorri em satisfação com isso. Eu até podia ter cara de otário, mas de otário rapaz, eu não tinha era nada! Queria ver aquele projeto de Ken mexendo no que era meu de novo.
_- Lucas, você já vai querer subir ou prefere ficar aqui embaixo com o pessoal? - perguntou Carlinhos, me despertando dos meus pensamentos. Olhei para ele de cenho franzido.
_- Você está me perguntando se eu prefiro ficar a sós com você ou aqui, com esse monte de gente bêbada? - ele riu meio sem jeito.
_- Ah… É. - era impressão minha ou meu namorado estava tímido?
_- Cara, você está com vergonha de mim? - perguntei num tom de deboche. - Essa é a primeira vez que vejo isso acontecer…
_- Maricagem, Lucas! - disse desviando os olhos. - Vergonha o quê, deixe de besteira… - Carlinhos saiu andando e foi para a cozinha. Fui atrás dele. Eu estava me divertindo muito com aquilo.

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2020 ⏰

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