Ponto de Vista - Lucas
Cheguei da academia acabado e com os braços formigando de tanta dor. Hoje eu peguei pesado no treino de bíceps, tríceps e peitoral. Eu estava tão dolorido que senti dificuldade até de segurar uma sacola vazia. Percebi uns olhares estranhos do Robson pra cima de mim enquanto eu treinava, mas resolvi fingir que não vi. Carlinhos estava me esperando na loja da Mari, uma amiga nossa, para falarmos sobre alguns projetos de carreira com ela. Apesar de sermos considerados muito jovens, tanto Carlinhos quanto eu, tínhamos o sonho de conquistar a nossa independência financeira para podermos viver em paz e dar uma condição melhor para nossas famílias. Carlinhos havia botado na cabeça que um dia ainda seria rico e que não iria desistir até conseguir seu objetivo. Carlinhos era inteligente e muito bom de lábia, a mente dele parecia uma máquina de idéias. Eu gostava dessa obstinação dele em lutar pelas coisas que queria e de não desistir até conseguir. Afinal, foi graças a sua persistência que estamos juntos há quase dois anos.
Tomei um banho pra tirar o suor da academia e fui encontrar Carlinhos na loja da Mari. Nós nunca nos beijávamos em público e tentávamos ao máximo manter a descrição do nosso relacionamento, mesmo sabendo dos boatos que rolava solto por aí a respeito de nós dois. A cada dia ficava mais difícil de negar que existia algo entre a gente. Carlinhos nunca foi muito bom em disfarçar o seu ciúme na frente dos outros. Assim que entrei na loja, as vendedoras vieram direto falar comigo, as meninas de lá me adoravam. Carlinhos sorriu pra mim e eu pisquei, acenando com a cabeça pra ele. Esse era o nosso jeitinho discreto de nos "beijarmos" publicamente. Eu ainda estava cansado por causa do treino, então, após cumprimentar as meninas, caminhei na direção do meu namorado e me sentei no sofá perto dele.
- E aí, tudo bem? - ele pergunta, passando a mão na minha franja.
- Estou quebrado, mas estou bem. - respondo esboçando um sorriso. - Acho que exagerei na academia hoje, cadê a Mari?
- Está no escritório finalizando um pedido de compras com um representante e já vem… - ele diz e eu aceno em concordância. Nisso, uma outra vendedora amiga nossa, aparece vindo do estoque e abre um sorriso ao me cumprimentar.
- Luquinhas! Você está bem, meu amor? - ela sorri e me abraça. - Estava com saudades de você, por onde andou? - eu abri a boca para responder, quando ela me interrompe com o dedo no meu pescoço. - Luuuucaaass do céu! Que chupada foi essa no seu pescoço? Hmmmm que a noite foi boa ontem, hein? - ela fala num tom de safadeza e Carlinhos me encara pálido. Percebi meu namorado fechar as mãos em punho nitidamente nervoso, porque justamente na noite de ontem, eu não havia dormido na casa dele, mas na minha. Eu mesmo levei um susto após o comentário da nossa amiga e levei a mão no meu pescoço.
- Que chupada? - pergunto, assustado. Ela ri, achando que eu estou dando de doido. Carlinhos parece não enxergar mais nada à sua frente, apenas eu. Seu rosto vai ficando vermelho, sua testa começa a suar e ele pega no meu braço.
- Lucas, vamos ali? - sua voz quase não saí. Arregalo os olhos sem entender nada.
- Oxi, Pre...
- Vamos ali? - ele foi mais incisivo dessa vez. Em seguida, Carlinhos se vira para a vendedora da loja que parecia mais confusa do que eu. - Avisa a Mariana que a gente volta depois pra falar com ela. - Saímos na rua e Carlinhos rumou direto para a nossa Bis que estava estacionada na frente da loja. Carlinhos se manteve em silêncio até me dar o meu capacete e sentar no banco da frente da moto. - Sobe. - seu tom autoritário como se eu tivesse feito alguma coisa errada, me deixou puto.
- Você não está achando que isso é um chupão mesmo, né?
- Lucas, sobe. - Carlinhos tremia de nervoso e eu comecei a me tremer de raiva. - Foi por isso que você não quis dormir em casa ontem? Pra ficar de safadeza por aí? - antes de subir na garupa, me abaixei na frente do retrovisor para analisar a marca vermelha no meu pescoço e então, suspirei aliviado, me lembrando da onde é que tinha saído isso.
- Isso aqui foi por causa do aparelho que eu fiz hoje na academia no meu treino para bíceps. Sabe aquele que você segura e se abaixa assim? - falei demonstrando o movimento que eu fazia no aparelho. Carlinhos pareceu nem me ouvir.
- Lucas, sobe. - ordenou novamente. Com raiva, sentei atrás dele e me segurei no apoio de trás da moto, só para não abraçá-lo. - Nunca vi nenhum aparelho da academia ter boca pra chupar os pescoço dos outros, já os caras que treinam com você… - ele começou a falar assim que deu partida.
- Carlinhos você não está desconfiando de mim outra vez, né?
- Lucas, até a vendedora da loja notou que isso é uma chupada, assume cara! Vai ficar mais bonito pra você… - Carlinhos falava de um jeito como se suas palavras fossem verdade absoluta, o que fez meu sangue ferver.
- Pára a moto, Carlinhos! Eu quero descer. - ordenei dando um soco nas suas costas.
- Quer descer pra correr nos braços do seu amante? É isso? - provocou ele pra me irritar. Carlinhos entra na sua rua e eu me seguro pra não chorar. De ódio.
- Cara, pelo amor de Deus! Pelo amor de Deus, pára de falar tanta merda! - Carlinhos estacionou na frente da sua casa e seguiu rumo até a casa do Paulo, que além de ser seu melhor amigo era seu vizinho também.
- Vamos ver o que o Paulo diz sobre isso.
- O QUÊ? - pergunto, surpreso. - E que porra o Paulo tem a ver com isso?
- O Paulo é o meu melhor amigo e jamais mentiria pra mim. - paro na calçada incrédulo e cruzo os braços na frente do peito.
- Você está dizendo que confia mais na palavra do Paulo do que na minha, Carlinhos? É isso?
- Estou dizendo que eu quero uma segunda opinião sobre esse assunto. Vem, está com medo da perícia? Não é você quem sempre diz que quem não deve, não teme?
- E o Paulo virou o juíz do nosso relacionamento, por acaso? Se ele disser que essa marca no meu pescoço causada pelo aparelho que eu fiz na academia é um chupão, você vai acreditar nele e não em mim?
- Lucas quanto mais você reluta, mais culpado parece ser. - ele vira as costas pra mim e usa seu ar de superioridade para abrir o portão da casa do nosso amigo, sem nem comunicar sua chegada. Sigo atrás dele, mas porque eu estou a ponto de espancá-lo. - O Paiquito tá aí? - Carlinhos pergunta para Madalena, mãe de Paulo, como se fosse dono da casa dela também. Carlinhos e Paulo eram amigos de infância e foram criados juntos, então era normal esse tipo de intimidade entre eles. Por diversas vezes, Paulo também invadia a casa de Carlinhos sem avisar. Uma vez ele quase nos flagrou num momento mais íntimo em que Carlinhos estava me acariciando por debaixo das cobertas, morri de vergonha.
- Está no quarto dele. - falou apontando o outro cômodo. - Sua mãe está em casa? Preciso falar com ela sobre o esgoto do quintal.
- Não sei, não passei em casa. - Carlinhos passou por ela parecendo um bicho do mato. Envergonhado pelo comportamento do meu namorado, forcei um sorriso para a mãe do nosso amigo tentando amenizar a falta de simpatia oferecida por ele.
- Boa tarde, Dona Madalena. - dei um beijinho respeitoso no rosto dela e em seguida, fechei a cara de novo quando entramos no quarto do Paulo. - Precisava ser grosseiro assim com ela também? Seu sem educação! - eu esbravejo, fazendo Paulo nos encarar.
- Oxente, que guerra é essa aqui no meu quarto?
- Paulo preciso que analise esse chupão no pescoço do Lucas. - ele afirma e eu reviro os olhos.
- Eu já falei que não tem nenhum chupão aqui! - Carlinhos me ignora.
- Paulo, venha aqui. Venha ver se isso aqui é uma chupada mesmo. - Paulo fica vermelho e me encara totalmente sem graça.
- Amado… - Carlinhos o interrompe.
- Anda, Paulo! Olha isso logo! - Paulo direciona o olhar na minha direção como se estivesse me pedindo permissão e eu dou de ombros.
- Veja logo essa merda, antes que seu amigo me mande para um hospício! - Paulo se aproxima de mim e bota a mão no meu pescoço. Em seguida, faz uma careta.
- A-ma-dô… - ele ajeita os óculos nos olhos e aperta a marca mais uma vez. - Amado tá parecendo, mas eu acho que não foi não. O Lucas não tem coragem de fazer isso com você não… - Carlinhos continua me encarando desconfiado e eu perco a linha de vez.
- É lógico que eu não tenho coragem de fazer isso com ele, mas eu devia fazer! - eu grito, com raiva. - Eu devia mesmo fazer, pra você deixar de ser tão idiota!
- Lucas eu não sei o que você ainda está tentando se defender se já está três a zero pra chupada... - ele disse isso e eu não enxerguei mais nada na minha frente. Parti pra cima do meu namorado, enfiando o meu pé com tudo na lateral das suas costelas. Paulo deu um grito assustado ao vir Carlinhos cair de joelhos no chão, resmungando com a mão no local onde eu havia o acertado. Eu imediatamente o encarei com um olhar arrependido, quando o vi caído no chão daquele jeito. Só faltava eu ter machucado Carlinhos de verdade. Vendo-o ali sem se levantar, o sentimento de culpa me atingiu e eu corri até ele.
- A culpa foi sua, Carlinhos! - eu digo tremendo de ódio e de medo por ter lhe causado algum ferimento grave. Paulo parecia em choque. Ele nunca tinha me visto perder o controle dessa forma. Pra falar a verdade, nem eu. Carlinhos continua no chão e abaixa a cabeça controlando a respiração. - Ei, fala comigo. Eu te machuquei? O que está sentindo, Carlinhos? - pergunto com meus olhos cheios de lágrimas. Carlinhos vira o rosto lentamente na minha direção e sorri, um pouco ofegante.
- Tesão. Porra, eu tô muito excitado agora.
- QUÊ? - pergunta Paulo e eu ao mesmo tempo.
- Essa sua pezada me deixou muito de pau duro, sério. - ele não podia estar falando sério.
- Sumam daqui vocês dois! - diz Paulo nos enxotando pela porta do seu quarto. - Vocês dois se merecem, são dois malucos, isso sim. - após colocar nós dois pra fora, ele fecha a porta na nossa cara.
- Viu o que você fez? Agora o nosso amigo acha que eu não bato bem por sua causa! - Carlinhos ri e olha pra mim.
- Se tem uma coisa que você sabe fazer é bater bem Preto, pode ficar tranquilo. - fala ele em tom de safadeza.
- Carlinhos! - fico com vergonha por recentemente ter dado mais esse passo em nosso relacionamento. Antes era só Carlinhos que me tocava e agora, eu já estava tocando nele também.
- Vem, vamos pra minha casa. - Carlinhos segura a minha mão e eu me lembro que esse era o momento ideal para eu descontar a raiva que ele me fez passar.
- Carlinhos, eu preciso te contar uma coisa...
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Para Todo Sempre Carlu
FanfictionPara Todo Sempre é uma Fanfic inspirada no romance de Carlinhos Maia e Lucas Guimarães. Porém, apesar de ter me baseado em alguns fatos reais para elaborar a história, é importante frisar que nada aqui é realmente real. Tudo é ficção e obra da minha...