Aposta

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Uma simples frase que tirou duas toneladas de peso das minhas costas. Quando eu assumi isso para Lucas, eu assumi também todos os riscos do negócio. Joguei essa revelação no colo dele, deixando que o próprio decidisse o que fazer com ela. O garoto de 15 anos tinha minha vida em suas mãos. Lucas podia contar isso para o Babau e eu seria o cara mais esculhambado de Penedo no dia seguinte. Seria um prato cheio para os meus amigos que adoravam uma gozação. Eu não sei se estava preparado para enfrentar todo o preconceito e julgamentos das pessoas em cima de mim, mas, se o meu destino tivesse que ser esse, eu enfrentaria. Lucas permaneceu não sei quanto tempo em silêncio, na mesma posição e aquilo começou a preocupar.
-Ei cara, você está bem? - ergui uma das mãos para tocá-lo no ombro, mas desisti no meio do caminho.
- Eu... Eu sou hétero. - falou repentinamente, passando a mão entre os cabelos. - Eu gosto de mulher, sabe?
- Eu sei o que significa uma pessoa hétero Lucas, não precisa me explicar… - eu era viado, não burro.
- Eu, eu… Eu não sei o que te dizer, cara.
- Não precisa dizer nada, eu só precisava te falar isso, porque estava me matando por dentro.
- Mais alguém está sabendo?
- Meu amigo desconfiou hoje na porta da sua casa, mas no geral não. Eu não contei pra ninguém.
- Eu também não vou contar pra ninguém, não se preocupe.
- Você quer que eu me afaste de você por causa disso?
- Não! - respondeu rápido demais. - Quero dizer, por que eu iria querer isso?
- Geralmente é isso o que acontece quando se é hétero e descobre que um cara está afim de você.
- Você não é o primeiro cara a dizer isso pra mim. Eu tenho outros amigos gays, Carlinhos.
- Eu não sou gay. - quando eu disse isso, Lucas me encarou de cenho franzido. - Ou devo ser também, sei lá! O que eu quero dizer é que eu não sou afim de outros caras, eu sou afim de você. E eu também fico com mulheres, o que faz de mim hétero também… - minha mente estava uma confusão danada. Eu era basicamente um puto. Lucas começou a rir. - O que foi?
- Você é engraçado, cara.
- Está me chamando de palhaço?
- Não. Estou dizendo que você é divertido.
- Sou, é?
- Muito.
- Para alguém que acabou de ser surpreendido por uma declaração inusitada, você até que está reagindo muito bem.
- Como assim?
- Confesso que eu estava esperando uma reação mais exagerada, tipo, um soco no olho, gozação, xingamentos, essas coisas…
- Não vou negar que você me pegou de surpresa mas, eu não sou esse tipo de babaca. Independente de qual seja a sua opção sexual, todo mundo merece ser respeitado. - esse menino existia mesmo? Estar perto do Lucas fazia com que eu quisesse trabalhar para me tornar um ser humano melhor. Ele despertava algo bom dentro de mim. Era muito doido isso.
- Você não está facilitando pro meu lado, cara…
- O quê?
- Quanto mais você mexe a sua boca, mais vontade eu tenho de te beijar… - ele riu, completamente sem jeito.
- Doidiça, Carlinhos. Eu já falei que o  meu negócio é com mulheres… - vesti minha armadura da autodefesa para não me sentir abalado com o “feche” que ele estava me dando.
- Eu preciso te dizer outra coisa ao meu respeito...
- O quê? - Lucas cruzou os braços, dando ainda mais destaque aos seus bíceps torneados, o que acabou desviando a minha atenção. Ele era todo malhadinho.
- Eu nunca desisto do que eu quero. - afirmei com segurança.
- Eu não quero te dar falsas esperanças. Não vai rolar, cara.
- Eu não vou forçar a barra com você, fique tranquilo. Mas você não pode me impedir de ao menos lutar, mesmo que sua resposta seja eternamente não.
- Eu não quero te magoar.... - Lucas era muito bondoso. Qualquer outro cara hétero, já teria quebrado a minha cara com essa insistência. E ele estava aqui, na minha frente, todo preocupado com os meus sentimentos.
- Você não pode escolher isso por mim Lucas e pra ser bem sincero, nem eu.
- Como assim?
- Não quero entrar nesse assunto agora, mas um dia você ainda vai me entender. Ninguém escolhe sofrer, Lucas.
- Eu sinto muito por isso.
- Não sinta. No fundo, eu sei que você sabe que também não tem escolha. É só questão de tempo até você perceber isso.
- Cara, é sério. Não se iluda, não vai rolar… - eu sorri.
- Você está me dizendo isso tantas vezes que eu estou começando achar que está tentando convencer mais a si mesmo do que a mim… - eu disse que não ia forçar a barra, mas não disse que iria jogar limpo. Eu tinha uma arma fortíssima ao meu favor que era o meu poder de persuasão e eu não a economizaria com Lucas.
- Acho melhor eu voltar pra festa, Babau deve estar me procurando… - eu ri outra vez. Nessa técnica que Lucas tentava usar comigo, eu já era mestre. A última coisa que Babau devia estar fazendo nesse momento era procurar o Lucas. Eu conhecia o cara, ele estava era atrás de mulher. Babau e Verinha não sossegavam até arrumar um rabo de saia qualquer pra se atracarem. Lucas estava gentilmente me afastando. Por mais que eu soubesse que ele estava no direito dele, eu não conseguia permitir que isso acontecesse.
- Relaxa, cara. Eu não vou agarrar você. Não precisa ter medo de mim... - falei em tom de brincadeira. Só eu sabia o quanto estava sendo difícil cumprir aquela promessa. Cada parte do meu corpo clamava por Lucas. O moreno me encarava com tanta intensidade que eu achei que fosse derreter. Naquele breve segundo, eu sentia com todo o meu coração que era apenas eu e ele no mundo. Era como estar dentro de uma bolha. A nossa conexão estava mais forte do que nunca. E foi ali, que eu tive a plena certeza, de que aquele menino era o homem da minha vida.
- Eu não estou com medo de você, eu só…
- Aeeeee.. Até que enfim eu te acheeiii! - o susto com aquela voz estridente, nos fez dar um passo pra trás quebrando completamente nossa troca de olhares. Eu nunca havia sentido tanta raiva de Bruna como agora. Ela chegou cambaleando com um copo de bebida na mão e se empoleirou do lado de Lucas. - O que vocês dois estão fazendo aqui sozinhos? A festa está bombando lá dentro...
- É? E você podia explodir junto com ela… - murmurei entre dentes, para que só eu pudesse ouvir. Pelo sorriso disfarçado de Lucas, ele deve ter ouvido também. Bruna não.
- Lucas você se importa se eu pagar uma aposta que fiz com as meninas? - Bruna estava bêbada e eu não estava gostando nada daquilo, eu conhecia bem o tipo de aposta que elas faziam. Eu já tinha sido alvo dessas apostas, umas três vezes. Lucas na maior inocência e sem entender nada, fez a última pergunta que deveria ter feito.
- Que aposta? - e então, sem mais nenhuma explicação, ela o beijou.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora