Fazendo as pazes

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Eu ainda não podia acreditar que o Carlinhos havia arremessado meu celular na piscina, de graça. Eu estava puto, muito puto! Eu tinha ganhado esse celular de presente de vóinha no último Natal e estava novinho. Como que ele teve coragem de fazer isso? O que ele tinha na cabeça? Titica de galinha? Eu não sei se estava mais puto por ter perdido o celular ou pela falta de confiança que Carlinhos demonstrou ter em mim. Será que mesmo após um ano juntos, ele ainda não tinha se convencido que o meu coração era só dele? Que merda! Carlinhos via tudo que eu tinha que passar para estar com ele e parecia estar cagando pra isso. Em casa, a minha vida tinha virado um verdadeiro inferno. A minha tia Tânia não parava de me atormentar e atormentar a vida do Carlinhos depois das especulações que estavam rolando na família sobre o nosso possível envolvimento.
Eu não queria ir pra casa agora, eu sabia que Carlinhos ia bater lá atrás de mim e eu não estava com a mínima vontade de falar com ele hoje. Subi a rua de casa e fui bater na casa da Gracyelle, minha amiga de infância.
- Oi, gato lindo! Cadê o Carlinhos? - eu não precisei responder, Gracy olhou pra minha cara e, imediatamente, entendeu o recado. - Vocês brigaram de novo, Luquinhas?
- Dessa vez o Carlinhos ultrapassou todos os limites, amiga… - entrei na casa de Gracy e fomos direto para o seu quarto. Gracy era uma das meninas mais cobiçadas do bairro.
- O que o Carlinhos aprontou dessa vez? - ela pergunta, se jogando em sua cama.
- Nada de mais, só arremessou o meu celular novinho na piscina do clube. - Gracy ficou paralisada por um minuto inteiro, antes de perguntar.
- Ele fez o quê? - e então, começa a rir.
- Não tem graça, Gracyelle. - falo bravo. - Pare de rir. - ela ri ainda mais.
- Desculpa, amigo. Mas, eu não consigo imaginar essa cena sem visualizar algo engraçado... - Gracy ria tanto, que eu fui me lembrando da cena e acabei rindo também. A situação em si foi engraçada, mas o descontrole emocional de Carlinhos não. - Mas me conta, como foi que isso aconteceu? - expliquei todo o ocorrido para Gracy que ouviu tudo sem tirar o sorriso do rosto. Quando terminei de contar a história, ela pegou o travesseiro e deu um rodopio na cama. - Aaahhh amigo... Que bonitinho! Eu achei fofo, vai? - falou em meio a um suspiro. - Nunca ninguém teve uma crise de ciúmes dessas por mim…
- Gracy, eu acabei de te contar que perdi o meu celular novinho por conta de uma crise de ciúme infundada do meu namorado e você acha isso fofo?
- Ah Luquinhas, o Carlinhos é louco por você...
- Não, Gracy. O Carlinhos é só louco. Ponto. - ela riu de novo.
- Eu conheço você Luquinhas, duvido que não faria o mesmo se a situação fosse inversa…
- Chegar a esse nível, Gracy? Jamais! - eu era ciumento, mas não era pra tanto, né? Tudo bem que Carlinhos nunca tinha me testado pra eu saber. Mas, eu acho que era bem mais controlado que ele, com certeza.
- Ahãm, sei. - rindo, Gracy se endireita na cama colocando o travesseiro em seu colo. - E onde ele está agora?
- Não faço idéia. O larguei sozinho lá no clube e vim embora.
- Tadinho do meu amigo, deve estar desesperado atrás de você.
- Tadinho? Tadinho de mim Gracyelle que não tenho mais celular.
- Você já tentou botar pra secar? Uma vez o meu caiu na privada, sequei com secador de cabelo e deu certo. - ela se levanta da cama e caminha até mim. - Cadê o seu celular? - retirei o aparelho no bolso e entreguei na mão dela.
- Boa sorte… - desejo com desânimo. Era praticamente impossível Gracielly conseguir salvar meu aparelho.
- Qualquer coisa se não der certo, você pede outro pra Maxsuel, já que foi ele que causou tudo isso... - disse ela debochada me olhando da porta do banheiro. Nós dois rimos.
- Ai que ódio, Gracy! O Carlinhos tem o dom de me tirar do sério... - eu ainda estava me lamentando quando o celular da Gracy começa a tocar. Havia alguns momentos em que aquela ligação intensa que eu tinha com Carlinhos, me assustava demais. Eu já sabia que era ele ao telefone mesmo antes de Gracielly olhar o visor. Minha amiga segura o telefone e olha pra mim.
- É ele, o que eu faço?
- Ignora.
- Eu não posso fazer isso com o Carlinhos, Lucas. Ele é o meu amigo também… - diz fazendo uma cara de coitada. Saco! Gracy era tão imparcial. Ela atendeu. - Oi, amigo… - um segundo depois, Gracielly me encara com os olhos esbugalhados. Eu não ia obrigá-la a mentir por minha causa, Carlinhos era amigo dela também. Fiz um sinal de “ok” com a mão e ela suspirou aliviada. - Sim, ele está aqui. Mas, eu acho melhor vo… Vish, ele desligou. - disse olhando o aparelho. Não deu nem cinco minutos, a campainha da casa de Gracy dispara a tocar. Era Carlinhos.
- Conversa com ele, Luquinhas…
- O Carlinhos não consegue respeitar nem a minha vontade de ficar sozinho…
- Deixa de ser orgulhoso Lucas e resolve isso de uma vez... - ela pegou a chave do portão e me encarou. - Quanto mais tempo você perde sendo orgulhoso, mais tempo ganha sendo infeliz… - eu era orgulhoso, mesmo. Mas era de mim, não conseguia mudar isso de uma hora pra outra.
À contra gosto, eu autorizei Gracy a  liberar a entrada de Carlinhos na casa dela. Minha amiga não voltou mais para o quarto e Carlinhos entrou sozinho, com as mãos atrás das costas. Eu até poderia pensar que ele tinha comprado um celular novo pra mim, se eu não soubesse que não tínhamos dinheiro nem para colocar de gasolina na nossa bis. Carlinhos não tinha a menor condição de fazer isso. Com o nariz quase no teto de tão empinado, cruzei os braços no peito e olhei pra ele.
- Eu achei que tivesse dito que não queria conversar com você hoje…
- Você sabe que eu detesto deixar as coisas mal resolvidas entre nós.
- Pra mim já está tudo muito bem resolvido. Foi ótimo saber que depois de mais de um ano comigo, sua confiança em mim é abaixo de zero.
- Eu confio em você Lucas, eu só não confio nos outros perto de você…
- Jura que você está me dizendo isso? - pergunto, forçando um sorriso sem humor. Eu estava indignado. Carlinhos olha pra mim, chateado.
- Desculpa, tá legal? Eu sei que exagerei, mas não consigo controlar o ciúme que sinto por você, Lucas. Desculpa se eu sou esse cara inseguro que morre de medo de te perder! Desculpa se eu fico maluco toda vez que vejo alguém dando em cima de você. Eu não vou dizer que nunca mais vou fazer o que fiz hoje, porque é incontrolável isso dentro de mim. Me entenda também, poxa? Eu lutei muito pra ter você comigo Lucas e dia após dia é uma batalha diária pra você se desconstruir e me aceitar de corpo e alma na sua vida. Eu não estou te cobrando nada, não é isso... Eu vou te esperar o tempo que for necessário, mas será que VOCÊ vai esperar por mim? Será que um dia você vai realmente se sentir pronto pra mim? Ou vai perceber que tudo isso não passou de uma confusão da sua mente e que sente falta da vida que tinha antes com mulheres? Lucas, eu preciso que você entenda que não tem sido fácil pra mim também... -
Carlinhos desabafa passando a mão no rosto. - Eu amo tanto você que às vezes eu me sinto perdido sem saber o que fazer com tudo isso… - uma lágrima escorreu por seus olhos. - Eu sei que nunca falei isso tão explicitamente pra você, mas eu te amo, Lucas. Amo como nunca amei ninguém em toda minha vida e não posso imaginar um dia sem você, cara. - Carlinhos foi tão profundo em cada palavra que quebrou qualquer resquício de raiva que eu podia estar sentindo dele naquele momento. Nenhum bem material valia o que tínhamos um pelo outro.
- Cara, entenda de uma vez por todas que o fato de eu não me entregar a você por completo, não tem nada a ver com falta de sentimento ou dúvidas sobre a minha sexualidade, é só uma questão de medo mesmo… - confesso, me aproximando dele. - Eu sei que um dia nós iremos conseguir quebrar essa barreira por completo, eu sei que vamos! Nós estamos evoluindo aos poucos… - puxei Carlinhos para os meus braços, alcançando sua boca com a minha. Beijar Carlinhos era tão deliciosamente bom. Ele parecia conhecer cada detalhe de tudo que eu gostava e a cada dia, era uma nova descoberta tanto de sentimentos, quanto dos nossos limites.
Eu estava tão emocionalmente envolvido por aquele momento, que não me importei quando Carlinhos deslizou a mão pelo meu peito nu e desceu até alcançar o botão da minha bermuda.
Ele abriu lentamente o fecho, esperando que eu o pedisse para parar, como já havia feito diversas vezes quando as coisas começavam esquentar a esse ponto. Mas, dessa vez, eu não disse nada. Eu não era nenhum virgem no assunto, eu já tinha tido relações com mulheres outras vezes. Aquela seria a primeira vez que eu permitiria que um homem tocasse em mim.
Carlinhos não largou minha boca em momento algum, ele me beijava com tanto gosto que era impossível não me sentir um cara de sorte. Carlinhos me empurrou a passos lentos para trás, até alcançarmos a cama de Gracy. Eu queria fazer algo por ele também, mas eu ainda tinha muita vergonha. Eu podia sentir sua rigidez roçar em minha barriga enquanto ele me beijava e deslizava a mão por cima da minha sunga. Meu coração batia com a frequência de uma britadeira.
- Você está de boa? - perguntou, sem se afastar.
- Aham… - foi o que consegui responder.
- Eu sou completamente apaixonado por sua boca, sabia? - ele sussurrou mordiscando meus lábios. - Na verdade, eu sou completamente apaixonado por você… - Carlinhos continuou apertando o meu membro por cima da minha sunga, me fazendo gemer baixo. Ele sorriu, quando viu o efeito que aquilo estava causando em mim. Passei minhas mãos por trás de seu pescoço, pela nuca, o direcionando ao encontro da minha boca outra vez.
- Carlinhos, a Gracy pode entrar aqui a qualquer momento…- murmuro com dificuldade. Ele sorri, puxando levemente o lóbulo de minha orelha com os dentes.
- Ela não vai entrar aqui, não se preocupe… - Carlinhos não parava de me estimular e eu já não estava conseguindo segurar mais.
- Carlinhos eu vo… - minha frase foi interrompida quando senti meu gozo quente encharcar a frente da minha sunga. Uma sensação de alívio e prazer me atingiu, fazendo com que eu relaxasse completamente na cama. Era a primeira vez que eu gozava sem tirar a roupa. Era a primeira vez que eu deixava Carlinhos me tocar dessa forma. Permaneci deitado, com Carlinhos apoiado em meu peito. O silêncio no quarto não era tão constrangedor. Eu podia sentir a alegria da aceitação de que mais uma etapa daquela barreira que existia entre nós havia sido quebrada.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora