Era uma vez um celular...

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Ponto de Vista - Carlinhos

O dia amanheceu lindo. Estávamos no verão e Penedo que já era naturalmente quente, ficava ainda pior nessa época do ano. Marquei com Lucas de curtirmos o dia no clube da cidade. Lucas adorava uma piscina e eu adorava apreciá-lo de sunga, então, iria ser ótimo unir o útil ao agradável.
Chegamos no clube por volta das onze da manhã, pegamos duas cadeiras na beira da piscina, eu enchi o nosso isopor com gelo, água e cerveja, botei meu óculos de sol no rosto e me ajeitei na cadeira para bronzear um pouco a minha pele esbranquiçada.
- Carlinhos, você vai entrar na piscina agora?
- Não, Lucas. - respondo protegendo a minha vista com o braço, para conseguir enxergá-lo melhor. Meu Deus, Lucas era bonito demais! A perfeição em forma de homem.
- Beleza, eu vou lá então. Estou morrendo de calor… - Lucas se aproxima de mim e desliza o dedo indicador por meu rosto. - Ei, você passou protetor solar, Carlinhos? O seu nariz já está ficando todo vermelho…
- Lucas, quem tem essas maricagens de passar protetor é você…
- Não é maricagem Carlinhos, é cuidado! Você sabe o mal que uma insolação pode causar para sua pele e para sua saúde? Vai, senta direito aí que eu vou passar protetor nas suas costas. Eu não quero você todo ardido quando eu for te abraçar mais tarde… - ele pega o tubo de protetor na mesinha e espreme o creme em sua mão. Lucas era tão vaidoso, estava sempre se cuidando de alguma forma. Confesso que muitas vezes, eu só tinha certos cuidados comigo pra ficar mais bonito pra ele. A verdade é que eu não estava nem aí para o tal protetor, o que eu queria mesmo era sentir suas mãos grandes percorrerem o meu corpo. Endireitei-me na cadeira e fiquei lá, apenas saboreando a sensação dos seus dedos em contato com a minha pele. Ouvi o celular dele apitar na mochila, mas ignorei. Não queria interromper aquele momento que era todo meu.
- Lucas, eu acho que esse negócio não está dando muito certo pra mim…
- Por quê? - olho pra baixo na direção da minha sunga e ele, imediatamente, entende o recado. Lucas arregala os olhos, ficando totalmente sem graça.
- Carlinhos, rapaz! - rapidamente ele pegou uma toalha e jogou em cima do meu colo. - Esconde isso, pelo amor de Deus! Que vergonha...
- A culpa é sua, não minha.
- Minha? Você não controla o seu pinto e a culpa é minha? - ouvi o celular dele apitar de novo. Dessa vez, Lucas também ouviu e pegou o aparelho dentro da mochila.
- Claro que é sua culpa, quem man… - interrompi a minha fala, quando o vi rindo ao encarar o seu aparelho. Logo me irritei. - Quem é Lucas? - Ele digita alguma coisa no celular e nem olha pra mim. Aliás, ele nem me ouviu falar com ele. Fiquei puto. - Me dá esse telefone aqui agora, Lucas! Com quem que você tanto fala aí, hein? - ele olha pra mim, quando me vê levantar da cadeira e esticar o braço para arrancar o aparelho de sua mão. Lucas se desvia
- Doidiça, Carlinhos!
- Anda, me passa esse telefone?
- Não.
- Luucas… - na minha cabeça já estava passando mil e uma coisas. - Me dá logo a merda desse telefone, cara! Deixa eu olhar pra saber com quem é que você está cheio das graças. Está me escondendo por quê?
_- Eu não estou de graça com ninguém Carlinhos, para de ser paranóico! Eu só achei engraçado qu… - antes dele sequer concluir a frase, eu arranco o aparelho da mão dele e encaro o visor para ler a mensagem. Para minha raiva, a tela estava bloqueada. - Ei, me devolva isso aqui, Carlinhos! - ordenou nervoso, com a mão estendida na minha direção. - É o MEU telefone e você NÃO tem o direito de pegá-lo assim, desse jeito...
- Ah... Tá nervosinho, por quê? Está com medo de eu descobrir algo? Você está me traindo, Lucas? - eu já não conseguia mais raciocinar, nem medir minhas palavras, pensar que Lucas pudesse estar com outra pessoa acabava comigo. Eu sabia que era um cara inseguro, mas porra! Ele era o homem da minha vida, como não ter medo de perdê-lo? Estávamos namorando há pouco mais de um ano e todos os dias era uma luta diária para estarmos juntos, eu não podia simplesmente permitir que outra pessoa viesse e levasse o que era meu.
- Carlinhos você está falando merda cara, devolva agora o meu celular senão…
- Senão o quê, Lucas? Vai terminar comigo pra ficar com a sua amante? Ou seria um cara?
- Carlinhos cala essa merda de boca, seu otário e devolve aqui o meu celular!
- Ah, você quer seu celular? Pois vá buscar essa bosta lá na piscina agora! - eu não pensei em mais nada quando eu apertei o aparelho na minha e arremessei-o com toda a minha força dentro da água. Lucas ficou me encarando um segundo inteiro com uma expressão incrédula no rosto, sem saber o que dizer.
- Você... Não... Fez isso, cara… - disse ele lentamente olhando pra piscina. Sim, eu tinha feito. Depois que a razão finalmente me atingiu, eu percebi que talvez, eu pudesse ter exagerado um pouco. Eu não ia dar o braço a torcer agora, Lucas estava puto demais para ouvir qualquer coisa que eu quisesse falar. Com os olhos cheios de lágrimas, ele pulou na piscina e foi procurar o aparelho. Eu tinha certeza que já era. Fingindo não dar a mínima pra ele, coloquei o meu óculos de sol no rosto de volta para esconder a minha vergonha e continuei tomando sol como se nada tivesse acontecido. Se Lucas não pensava em terminar comigo antes, agora tinha grandes chances disso acontecer.
Eu estava desesperado, mas não queria demonstrar. Não agora, pelo menos. Eu precisava manter um tico de dignidade em mim. Olhei para Lucas dentro da piscina e mandei uma mensagem para Maxsuelzinho, um amigo nosso em comum.
“Mano, eu acho que acabei de foder o meu relacionamento com o Lucas.”
Depois de um ano juntos, foi inevitável não abrir o nosso namoro para mais algumas pessoas de nosso convívio e de nossa confiança. Maxsuel era uma delas. Ele era gay também e se tornou muito amigo nosso, após vários lugares que frequentávamos em comum.
“O que aconteceu, amigo?” - ele foi rápido na resposta.
“Fiquei nervoso, perdi o controle e arremessei o celular do Lucas na piscina do clube. Eu vi que ele recebeu umas mensagens de alguém e ficou todo cheio de risinhos com frescura para me dizer de quem era. Achei que ele estava me traindo e fiquei com ciúmes.” - digito rapidinho, sempre com os olhos no meu namorado observando se ele não estava me encarando. Eu tinha certeza que se Lucas me visse com o celular na mão iria tentar fazer o mesmo comigo. Eu hein? Eu não era besta...
Lucas retirou o seu aparelho encharcado da água, colocou na beira da piscina e continuou lá dentro. Em nenhum momento, ele olhou pra mim. Lucas estava cem por cento me ignorando...
“Rapaz, eu mandei umas três mensagens para o Lucas agora pouco falando de um boy que peguei ontem, será que foram as minhas?” - como eu ia saber se eu nem deixei o Lucas falar? Ele disse que achou engraçado alguma coisa, mas no calor da emoção acabei agindo por impulso.
“Não sei velho, mas se as mensagens foram as suas mesmo, você tem obrigação de me ajudar a reverter isso. Depois a gente se fala cara de lua.” - enviei a mensagem pra ele e guardei o celular.
Uns quinze minutos depois, Lucas saiu da piscina com um bico tão grande que mal cabia na boca, secou o seu corpo, passou a toalha pelo cabelo, pegou sua bermuda e a vestiu, completamente mudo. Todos esses movimentos foram feitos em câmera lenta e da maneira mais sexy que eu já tinha visto. Lucas era sedutor até comendo quiabo. Eu já estava subindo pelas paredes de tanto tesão por aquele cara e ele ainda não sentia segurança alguma de se entregar pra mim. Acho que era isso que me causava tanta insegurança também. O fato de imaginar que ele talvez me abandone pra poder voltar a ter relação com mulher. Ainda em silêncio, Lucas guardou suas coisas na mochila e me deu às costas para ir embora.
-Lucas… - chamo o seu nome, sem sucesso. Ele nem olhou pra mim. - Lucas… - ele só ergueu uma mão pra cima, impedindo que eu continuasse a falar.
- Carlinhos, eu não estou afim de conversar agora. - disse sério. - Vou embora.
- Eu te levo. - nós havíamos vindo na minha Bis.
- Não precisa, eu vou de ônibus.
- Mas…
- Quando eu estiver afim de falar com você, te mando uma mensagem. - disse ele cheio de ironia. Eu sabia que ele não me mandaria mensagem alguma, até porque agora estava sem celular pra fazer isso.
-Lucas… - me ignorando completamente dessa vez, Lucas partiu me deixando completamente sozinho. Merda! Por que Lucas tinha que ser tão marrento?

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora