Pensamentos

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Esfreguei a mão no rosto tentando ignorar o maldito frio na barriga que eu estava sentindo. Eu não conseguia sequer raciocinar algo coerente, apenas o nome dele ficava martelando na minha cabeça o tempo todo. Lucas, Lucas, Lucas... Eu estava endoidando! Parado na frente do computador há quase uma hora, eu já tinha lido e relido nossa conversa umas doze vezes. Eu havia me tornado tudo aquilo que eu mais criticava, um idiota apaixonado.
-Há-há! Achei você! - gritou Elisa pertinho do meu ouvido, quase me matando do coração.
- AAAAHH... QUE ISSO ELISA, MULHER? - botei a mão no peito só para confirmar que o meu coração ainda batia lá dentro. - Tá doida de chegar assim desse jeito atrás dos outros? Está tentando me infartar? - no mesmo segundo fechei ligeiro a página do meu Orkut e me levantei da cadeira.
- Por que não atendeu seu telefone quando eu te liguei? - perguntou a morena, vindo atrás de mim. Eu nem vi que o meu telefone havia tocado. Elisa me abraçou, depositando um beijo na minha boca. Quase que instantaneamente, dei um passo para trás. - O que foi Carlinhos?
- Nada. Você só me pegou de surpresa... - forcei um sorriso, tentando parecer o mais natural possível. - O que está fazendo aqui a essa hora? - Ela não costumava aparecer tão tarde.
- Senti sua falta e decidi passar aqui para te convidar pra gente sair...
- Estou sem grana, não vai dar.
- Mas é só um sorvete, Carlinhos. Não é nada demais...
- Não posso aparecer na sorveteria, Elisa. Estou devendo mais de vinte reais para o Seu Valdir que me vendeu fiado na semana passada e eu ainda não consegui o dinheiro pra pagar. - essa parte era verdade. Eu tinha mais dívida pendurada em Penedo do que a mamãe tinha de roupa no varal de casa.
- Eu pago pra você, lindo. - ela era persistente. Eu juro que estava tentando fazer uma recusa de forma educada, mas Elisa não estava colaborando. Depois que eu perco a minha paciência, ainda me chamam de grosso. Forcei uma tosse fingida.
- Além do mais, estou um pouco ruim da garganta, vamos deixar esse sorvete pra outro dia... - fiz uma encenação digna de um Oscar. Elisa cruzou os braços, chateada.
- Poxa, Carlinhos... - murmurou fazendo um bico magoado na tentativa de me seduzir. - Queria tanto ficar com você hoje...
- Elisa nunca mais faça essa careta, pelo amor de Deus! Você está parecendo uma manga chupada... - digo rindo.
- Credo, Carlinhos! Você não sabe mesmo ser um cara romântico. Quebrou todo o clima... - oxi, que clima? Elisa revirou os olhos e pegou a bolsa que estava em cima da cadeira. - Olha, se eu já não estivesse acostumada com seu jeito gozador, te mandaria pra puta que o pariu agora mesmo!
- Isso você tem razão, eu sou um cara bem gozador mesmo... - falei em tom de malícia.
- Só se for com as suas quengas, porque comigo, estou esperando até hoje... - Elisa era muito safada, por isso eu evitava ficar sozinho com ela. Eu nunca tinha entendido direito o motivo de eu não sentir aquela coisa toda que todo mundo falava sobre sexo. Que era legal, gostoso, que dava prazer... Eu perdi minha virgindade com uma prima minha e as outras vezes que eu transei, foi mais pra cumprir tabela mesmo. Nunca tinha sentido o tal tesão de verdade por nenhuma mulher, até botar os meus olhos em Lucas. O simples fato de pensar no nome dele, já me causava arrepios em lugares nada apropriados. Eu desejava cada parte daquele menino como se minha vida dependesse disso. Pensar em Lucas, me fazia sentir um verdadeiro cachorro na porta da padaria, vendo o frango girar na vitrine sem poder experimentar.
- Tudo tem sua hora Elisa. Agora acho melhor você ir embora. Eu preciso ir pra casa e não quero te passar resfriado... - eu disse que eu era um ótimo mentiroso quando eu queria, não disse?
- Tá bom, então... - ela abaixou a cabeça tentando esconder a decepção. Antes de sair, Elisa olhou pra trás. - Ei, você passa na minha casa sexta pra me buscar ou prefere que eu vá até a sua e vamos juntos de lá?
- Oi? - do que ela estava falando?
- Alô-ôu... - cantarolou, estalando os dedos na minha frente. - A festa, Carlinhos! Do amigo do Roninho na sexta... Lembra? - Elisa cruzou os braços, irritada. - Nós vamos juntos, certo? - merda! Eu tinha esquecido completamente da Elisa quando convidei o Lucas para ir na festa comigo.
- Elisa, eu nem sei ainda se eu vou nessa tal festa... - disse enquanto caminhava para fora da Lan House. - Agora eu preciso mesmo ir pra casa, mamãe já ligou aqui umas três vezes atrás de mim. - menti de novo. Mamãe nem sabia usar o telefone, coitada.
- É impressão minha ou você está me evitando?
- Ah não Elisa, não começa com essas maricagens pro meu lado que você sabe que eu detesto isso... - me irritei.
- Tá bom, desculpa. - pediu com os olhos cheios de lágrimas. Eu juro que não queria magoá-la, mas não ia dar certo além de todos os meus conflitos internos, eu ainda ter que lidar com ciumeira de peguete. - A gente se fala depois, então... Tchau! - ela saiu batendo o pé e eu fui pra minha casa.
Deitado na minha cama, não sei quanto tempo eu passei somente olhando para teto relembrando de a toda minha conversa com o Lucas de hoje cedo. Eu ria dos momentos divertidos, chorava quando pensava no meu sentimento platônico por ele e no quanto eu ainda poderia sofrer com isso. Outra vez, aquele misto das mais diversas emoções invadiu meu peito quase me sufocando. Eu ainda nem conhecia Lucas direito e já sentia como se o conhecesse a vida toda. Foi então, que toda a ansiedade de encontrá-lo pessoalmente, me atingiu em cheio juntamente com o cansaço causado pela adrenalina do dia, me levando para as profundezas dos meus sonhos.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora