Acordo

586 42 2
                                    

Ponto de Vista - Carlinhos

- Me amarrota que eu tô passada, bicha! - exclama Paulo de boca aberta. - Dessa vez você está falando sério mesmo, Carlinhos? Ou é só mais uma de suas ilusões mentirosas?
- Seríssimo.
- E o que vocês vão fazer agora?
- Não sei.
- Eu sabia que Lucas iria acabar cedendo, mas não imaginei que fosse dessa forma.
- Confesso que nem eu, amigo... - não dava pra guardar esse segredo comigo, eu precisava desabafar com alguém.
- Você já falou com ele hoje?
- Ainda não. Estou com medo dele não querer falar mais comigo, dizer que está arrependido e não me querer mais por perto... - eu estava me sentindo tão inseguro.
- Eu não acho que Lucas faria isso, ele demorou muito tempo para deixar esse beijo acontecer pra depois simplesmente, se mostrar arrependido, não faz o feitio dele. Lucas pode até estar confuso no momento, mas arrependido acho pouco provável.
- Será, cara?
- Conversa com ele, Carlinhos. - Paulo botou a mão no meu ombro. - Vocês tem muito o que acertar ainda... - ele olhou pra mim e sorriu. - Estou muito feliz por você meu amigo, você merece todo esse brilho que estou vendo nos seus olhos agora. - eu sorrio pra ele de volta.
- Obrigado meu amigo. - eu nem merecia a amizade de Paulo, por tantas vezes que o nome dele já esteve nos órgãos de proteção ao crédito por minha causa.
- Não tenha medo Carlinhos, o que Deus escreveu ninguém apaga e se for da vontade de Dele vocês dois ficarem juntos, não importa o que aconteça, vocês irão permanecer juntos... - Paulo foi embora e eu permaneço deitado na minha cama olhando para o teto. Ali sozinho, junto a coragem necessária para enfrentar a minha maior fera. Lucas.
Pego o meu celular e escrevo uma mensagem pra ele.
"E aí cara? Como você está?"
Lucas foi mais ligeiro do que imaginei na resposta.
"Estou bem Carlinhos e você?" - pelo menos ele não estava me ignorando. Já era um começo.
"Tranquilo também..." - lá estava eu com aquela maldita falta assunto de novo. Coragem, Carlinhos! Mando outra mensagem em seguida.
"Posso esperar por você na praça depois da sua aula hoje para conversarmos?"
"Pode" - pelo menos ele também não disse nada sobre não querer me ver mais.
"Blz cara, te vejo mais tarde então" - Lucas não responde mais nada e eu também não. Pelo visto, o dia ia se arrastar hoje até a bendita hora que Lucas sairia do colégio.
_

Sinto meu coração disparar quando vejo Lucas atravessar a rua da praça e caminhar na minha direção.
- Oi! - diz ele, ao se sentar do meu lado. Lucas tira a mochila das costas e apoia em seu colo.
- E aí?
- E aí... - nós dois parecíamos dois estranhos que haviam acabado de se conhecer.
_- Parece que vai chover hoje, né? - brinco descontraidamente, olhando para o céu que raiava um sol de mais de 35 graus. Deu certo, Lucas riu. - E aí como você está? Como está sua cabeça? - eu estava angustiado com aquela situação.
- Eu... Eu não sei bem o que te dizer... - Lucas suspira olhando para frente. Ele observa as crianças correrem pela praça enquanto fala comigo. - Eu estou com vergonha pra ser sincero...
- Vergonha do quê, exatamente? De ter ficado comigo? - eu não quis demonstrar a decepção no meu tom de voz por trás dessa pergunta.
- Não. Na verdade estou com vergonha de você mesmo.
- Oxi, de mim?
- Sim.
- E por quê?
- Eu te machuquei todo ontem Carlinhos. Eu parecia mais um pré adolescente que nunca beijou ninguém na vida - Lucas coloca a mão no rosto de forma envergonhada e eu sorrio. Ele era tão lindo...
- Não podemos deixar de considerar que eu fui o seu primeiro beijo... - Lucas olhou pra mim, sorrindo.
- Era exatamente isso o que estava passando na minha cabeça naquele momento... - ele diz isso e eu quase me derreto com a vontade que estou de agarrá-lo aqui no meio da praça mesmo e dar-lhe outro beijo.
- E aí, foi bom pra você? - pergunto em tom de brincadeira. Eu preferia manter o bom humor para camuflar o nervosismo.
- Foi... interessante. - ele diz e eu o encaro de cenho franzido.
_- Interessante não era bem a resposta que minha auto estima estava esperando ouvir de você... - Lucas sorri com uma cara de criança arteira. - Lembra quando você falou comigo pela primeira vez e eu disse que era para você tomar cuidado, porque um dia tropeçaria no seu próprio ego? Pois bem, esse dia chegou. - ele diz escondendo um esboço de sorriso.
- Ah... Tá malzinho, então? - ele só arqueou a sobrancelha e desviou os olhos de mim. - Sendo assim, serei obrigado a tentar buscar na sua boca outras vezes, a resposta que o meu ego tanto estava esperando...
- E qual era essa resposta?
- No dia que você me disser, eu te conto.
- Fala Carlinhos! Você sabe que eu odeio essas coisas, sou super curioso.
- Não falo. Pode morrer de catapora. - Lucas cruzou os braços, fazendo um bico emburrado.
- Eu queria te pedir um favor... - ele fala de repente, ainda sem olhar pra mim. - Será que podemos manter isso só entre a gente? - lembro que já contei para Paulo, mas disfarço.
- Claro... - digo na maior cara de pau. Eu sabia que Paulo não ia contar a ninguém, mas eu precisava dizer pra Andréa também... - Claro, com certeza. - minto. Mas, era uma mentirinha leve. Eu confiava nos meus amigos, eles jamais falariam algo pra alguém.
-Valeu. - Lucas agradece, olhando pra mim. - Como vamos fazer agora? Pra ninguém desconfiar da gente?
- Sugiro que continuemos seguindo nossas vidas, nossas rotinas, tudo igual... - respondo, casualmente.
- Concordo. Isso engloba nosso envolvimento com mulheres também, né? - ele pergunta e apesar de eu estar com um ódio sem fim dentro do peito com essa resposta, acabo dizendo que sim.
Lucas e eu, não combinamos nada a respeito de ficarmos novamente ou algo do tipo. Apenas acordamos que iríamos deixar as coisas acontecerem, seguindo a ordem natural do processo. Eu não queria impor nenhum tipo de condição para ele nesse momento, pois sabia o quanto era tudo muito novo e difícil em sua cabeça. Quando surgisse alguma oportunidade nova e vontade de ambos, a gente via no que dava. Como vontade eu já tinha de sobra, só me restava agora, criar as oportunidades. Claro que isso eu não contei para Lucas, mas no que dependesse de mim, todo dia teríamos uma oportunidade diferente. Logo que cheguei em casa pego o meu celular do bolso e ligo para Babau.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora