Briga no colégio

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Eu nunca imaginei que um dia eu sorriria pelos cantos por causa de um cara. Terminei a prova de história e fiquei na área externa de recreação do colégio, esperando a hora passar. Eu estava relendo no meu celular as mensagens de texto que eu havia trocado com Carlinhos na noite anterior e não conseguia deixar de sorrir.
Cada dia que se passava, eu gostava mais e mais dele. Até hoje, eu não sei dizer como criei coragem para aceitar namorar com Carlinhos, mas, eu não podia mais fugir ou negar os meus sentimentos. Eu compreendi que ser gay não era uma opção imposta por mim, mas gostar de Carlinhos era algo que eu simplesmente sentia dentro do meu coração. Eu nunca havia me sentido daquela forma com nenhuma outra mulher antes. Todas as vezes que eu pensei estar apaixonado por alguém, não chegaram aos pés de tudo o que eu sentia sempre que eu estava com Carlinhos. Eu não queria saber de mais ninguém, só dele.
- Ow Beiçola, estão dizendo por aí que você virou baitola e está pegando o cara de mosquito, é verdade? - a pergunta cheia de maldade do Igor, me pegou desprevenido. Ergui os olhos da tela do meu celular e direcionei o meu olhar pra ele.
Essa não era a primeira vez nas últimas semanas que eu estava tendo que lidar com aquele tipo de piada direcionada a mim. Desde que eu parei de ser visto amorosamente com mulheres e comecei a andar mais com o Carlinhos, que os moleques do colégio e da rua, não paravam de me atacar com brincadeiras homofóbicas.
- Não vejo como isso possa ser da sua conta, mano. Tá afim de me beijar por acaso? - no começo, eu até dava uns pitis e ficava puto com as gozações que eu sofria, mas depois de conversar com Carlinhos, eu somente decidi ignorar. Eu sabia que uma hora ou outra, isso iria acabar acontecendo mesmo. Ainda mais aqui Penedo, a terra da fofoca.
- Endoidou, beiçola? Eu sou é macho, rapaz! Muito macho!
- Pois então devia estar ocupando o seu tempo atrás de mulher ao invés de estar aqui enchendo o meu saco.
- Tá explicado porque a sua boca é tão grande, pra você poder chupar melhor uma ro…
- Pra beijar muito melhor que você Igor, pode ter certeza… - Adriana chega o cortando e se senta do meu lado. - Aliás, ter ficado com você naquela festa, está na lista de maiores arrependimentos que eu já tive na vida...
- Sua rapariga.
- Melhor ser rapariga do que ter uma boca de esgoto.
- Eu não tenho boca de esgoto.
- Tem sim, pelo visto você não andou lendo a listinha retrô das garotas que está circulando pelo colégio…
- Que lista é essa? - Igor pergunta, curioso.
- Dos meninos mais bonitos e dos melhores beijos do ano… - ela sorriu. - Não fui eu que criei a lista, mas super votei. Veja quem é o cara que está liderando as duas, depois volte aqui pra dizer asneira sobre o Lucas de novo. - Igor forçou uma estrondosa gargalhada.
- O pobretão do Carlinhos votou nessa lista também? Aliás cara, com tanta gente bacana pra você escolher virar a casaca, foi pegar logo o cara mais estranho e fodido do bairro? Péssimo gosto o seu pra baitolas... - enquanto os ataques eram direcionados somente a mim, tranquilo. Eu até aguentava. Mas ouvir Igor falar mal do Carlinhos me tirou do sério.
Sem pensar duas vezes, me levantei do chão e sai peitando, com meu dedo apontado na cara do imbecil.
_- Escuta aqui, mano! - o meu tom de voz agressivo e jeito de olhar furioso fez Igor arregalar os olhos. - Já faz dias que eu venho aguentando suas piadinhas de mau gosto e relevo porque você é um saco de estrume que não merece o meu tempo, mas ouse abrir essa fossa que você chama de boca para falar merda sobre o Carlinhos outra vez, que eu não vou poupar a minha força quando estiver enfiando um murro nessa sua cara de fantasma… - Adriana e Igor permaneceram paralisados, em completo silêncio, após o meu explosivo ataque de fúria. Era muito difícil eu sair do sério desse jeito, mas eu havia acabado de descobrir um ponto fraco em meu autocontrole e o nome dele era Carlinhos. Eu conhecia o meu namorado e sabia o quanto ele era inteligente e batalhador, não era qualquer playboyzinho filhinho de papai que iria menosprezá-lo desse jeito não. Eu defenderia Carlinhos até a morte se fosse preciso. Era eu por ele, ele por mim e Deus por nós dois. Esse era o nosso combinado. Sem querer dar margem para mais discussões, peguei minha mochila do chão e fui embora. Assim que saí do colégio, mandei uma mensagem para Carlinhos.
“Acabei de tretar no colégio por sua causa… :/” - não demorou nem um segundo, ele me ligou.
-Você está machucado Lucas? Quem te bateu? - a preocupação em sua voz, me fez sorrir.
- Oxi, rapaz! E por que você acha que eu apanhei?
- Porque você é uma mocinha… - ele brinca debochado. Carlinhos sabia que eu odiava ser tratado no feminino e vivia fazendo isso só pra me irritar.
- Já estou arrependido de ter me metido numa briga por sua causa…
- O que aconteceu, lindo? Quer que eu vá te buscar?
- O playboy babaca do Igor veio me encher o saco de novo, mas dessa vez falou mal de você também, aí não aguentei…
- Você bateu nele?
- Não, mas foi por pouco. Deixei aquele idiota sem fala…
- Isso é normal. Você vive me deixando sem fala também com a sua beleza… - eu ri. Carlinhos sempre me fazia sorrir. - Onde você está agora?
- Saindo do colégio…
- Me espera aí na praça que eu vou te encontrar…
- Tá. - ele desliga o telefone e eu continuo sorrindo. Era muito fácil esquecer de todos os problemas quando eu estava com Carlinhos. Ele fazia qualquer dificuldade parecer muito pequena perto da grandeza do que estávamos construindo dia após dia um com o outro. Era como se eu conhecesse Carlinhos minha vida toda e mesmo estando juntos apenas três meses, eu sinto como se nós nunca tivéssemos passado um dia sequer separados. Todos os meus problemas só se tornavam reais quando eu estava longe dele. Minha tia Tânia começou a colocar caraminholas na cabeça da minha mãe por eu não parar mais em casa. No colégio, cada vez mais os moleques estavam me atormentando pela minha proximidade com Carlinhos. Júnior me defendia para os amigos dele, mas também começou a achar estranho. Ele me perguntou duas vezes se eu tinha alguma coisa pra contar, mas eu não consegui dizer nada. Apenas falei que nos tornamos muito amigos e estávamos trabalhando juntos em alguns projetos de carreira. Eu sabia que esse era só o começo de muitos obstáculos que ainda estavam por vir se eu levasse esse relacionamento com Carlinhos adiante, mas eu não conseguia mais imaginar minha vida de outra maneira. Pedras como o Igor, seriam as menores que eu teria que tirar do meu caminho para viver a vida que eu sonhava e ser feliz.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora