Oratório

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Ponto de Vista - Carlinhos

- Babau, o que acha de marcar com o pessoal no Oratório hoje a noite? - digo ao irmão do Lucas na maior casualidade, tentando disfarçar minha ansiedade.
- Boa Carlinhos, tô solteiro de novo. É bom que já levo umas minas pra gente traçar... - fala ele pegando o seu celular do bolso, todo animado. - Quem você vai querer? A Amanda, a Milena ou a Gracy? Estou sabendo que a Carolzinha está bem afim de você...
- Convida todas que eu decido lá quem eu vou querer... - eu digo fingindo a mesma animação. Depois eu daria um jeito de distribuir os esquemas para os meus amigos e ficaria numa boa, focado em quem verdadeiramente me importava. Eu era mestre em fazer isso. - Ei cara, você sabe se o Lucas já voltou do colégio?
- Você está perguntando isso pra mim? - disse rindo. - Se você que é você não sabe do Lucas, imagina eu.
- Oxi, o irmão é seu.
- Mas você tem visto muito mais ele do que eu, ultimamente. - era verdade. Resolvi mudar de assunto.
- Que horas você vai marcar com o pessoal?
- O que acha das sete?
- Fechado.
Mandei uma mensagem para Lucas dizendo que o encontraria no Oratório mais tarde. Eu estava suando frio, mas minha decisão já estava tomada. Coloquei uma camisa branca justa e uma calça jeans. Ajeitei meu cabelo com gel e passei o melhor perfume que eu tinha. Olhei para o meu visual no espelho e sorri. Porra, eu estava muito gato! Como podia alguém ser capaz de negar um pitelzinho desse?
Cheguei no Oratório e encontrei a mesa da galera só pelo barulho. Lucas, pra variar, já estava lá despejando sua simpatia e seu sorriso para todo mundo que o cercava.
- E aí! - cumprimento a todos com um aceno e me sento numa das cadeiras do canto da mesa. Milena se sentou do meu lado, já rindo.
- Seu paquera tá soltinho, soltinho, hoje... - disse ela olhando para Lucas.
- Que paquera? Bebeu, Milena? - ela me deu um soco forte demais no braço. Milena era meio doida.
- Pra cima de mim, Carlinhos? Acha que eu sou besta? - indaga aproximando a boca do meu ouvido. - Eu sei que você arrasta um caminhão pelo Luquinhas... - cochichou. Olhei sem graça pra ela.
- Cala a boca mulher, se fecha... - Milena parecia um furacão, por onde ela passava causava confusão. Ela era extravagante, falava alto e vivia cada dia como se fosse o último. Assim como nós, o sonho de Milena era tentar a vida em uma cidade grande onde as oportunidades eram muito melhores. Ela riu e se levantou, caminhando para o canto da mesa com a outra parte do pessoal.
Encaro Lucas novamente e percebo o que Milena falou, ele estava um pouco bêbado. Lucas estava conversando com Gracy e Bruno, rindo sem parar. Querendo fazer parte da conversa, decidi me aproximar deles.
-Do que vocês estão rindo tanto, posso saber? - peguei uma long neck dentro do balde de gelo que estava em cima da mesa e abri. Eu, provavelmente, passaria a noite toda com aquela garrafinha na mão, eu não era muito de beber.
- O Lucas está relembrando a história do dia dos namorados com o presente da Jéssica... - diz Gracy limpando uma lágrima dos olhos. Eu rio também. Lembro-me que zuei muito com o Lucas através de mensagens por causa daquilo, falei que se ele estivesse namorando comigo, jamais passaria aquele tipo de vergonha pública na frente dos seus amigos.
- Bem feito pra ele que tem um dedo péssimo pra escolher namoradas... - digo dando uma direta mesmo. Ele só me encara e sorri, bebendo outro gole da sua cerveja. - Ow Zé Bonitinho, manera na bebida aí, porque você é menor de idade. Se você passar mal, nós estamos fudidos...
- Tá bom, pai. - ele responde rindo com deboche. Eu abro a boca pra responder, quando sinto alguém agarrar o meu pescoço.
- Oieee! - Carolzinha chega, me cumprimentando toda animada. - Tá gatinho hoje hein, Carlinhos? - diz ela sorridente.
- Eu sou gatinho, Carol. - dou uma piscada sedutora pra ela, só para dar uma provocada. Eu sabia que Lucas estava olhando pra gente.
- Gatinho e está ficando todo malhadinho também... - disse a garota apertando o dedo no meu abdômen. Lucas fechou a cara, colocando sua garrafa de volta na mesa.
- Preciso ir no banheiro, já volto. - ele fala olhando para Gracy. Ela só acena pra ele com a cabeça e continua conversando com Victor. Uns cinco minutos depois, engatei Carolzinha numa conversa com Babau e me aproximei de Bruno.
- Bubu, eu preciso de um favor seu. - peço ao meu amigo, olhando em volta para verificar se não tem ninguém prestando atenção na gente.
- O que é Carlinhos?
- Pode vir comigo? - puxo Bruno pelo braço e parto com ele discretamente na direção do banheiro também. - Eu preciso que segure essa porta e não deixe ninguém entrar até eu sair, tudo bem? Não fala pra ninguém cara, estou confiando em você.
Bruno me encara assustado, mas acena com a cabeça concordando com o meu pedido. Eu estava muito nervoso quando entrei naquele banheiro. Eu tinha um objetivo em mente e só sairia daqui essa noite, com ele totalmente cumprido. Eu já estava no meu limite da espera e não conseguia mais aguentar. Eu fui paciente esse tempo todo apenas esperando o tempo de Lucas, mas e o meu tempo? Eu precisava saber o que iria fazer da minha vida daqui pra frente, com ou sem Lucas. De hoje não passava.

Para Todo Sempre CarluOnde histórias criam vida. Descubra agora