segunda chance?

147 18 94
                                    

Comprar meus móveis foi a única coisa que pensei em fazer para hoje, as olimpíadas continuam e eu não quero mais assisti-las. Foi muito bom para mim essas horas longe de tudo, longe de todos, me fez pensar bastante em tudo que fiz nessa semana que voltei, talvez eu realmente tenha posto minha raiva toda em cima de Corine, mas o que posso fazer? Era o mesmo sentimento que eu tinha, eu não entendo até agora o que me aconteceu e não tenho cabeça para pedir desculpas a ela, preciso me resolver comigo mesma primeiro.

— licença, poderia me informar onde ficam os fogões. — uma mão segura meu ombro me puxando para trás.

— na verdade não, eu também estou procurando — sorri direcionando meu olhar a ele, paralisando logo em seguida — Nathan? Por favor não! Minha vida já está tumultuada demais para você acabar com ela.

— calma, eu vim em paz — o moreno ergue os braços em rendição — estava de passagem, te vi e vim comprimentar. Eu mudei bastante desde a última vez que nos vimos, queria poder mostrar isso a você de alguma forma.

— não sei não, desde quando Nathan Forbes muda de personalidade? — zombei arqueando a sobrancelha.

— Ah para, eu sou um cara legal — o moreno coça a nuca e sorri de lado — bom, eu era, tô tentando mudar, toma um milkshake comigo, vai!

— não, não mesmo, tô ocupada e não estou convencida de que está mudado mesmo.

— Madison Elle Beer, Você não pode recusar, afinal? Não importa o que aconteça?

— tudo se resolve com milkshake — ri ainda sem acreditar, não sabia que ele lembrava da frase que usavamos quando um de nós cometia um deslize — Você se lembra disso?

— tivemos bons momentos juntos, não tem como esquecer isso — sorri ladino, embora fosse verdade ainda era estranho conversar com ele sobre aquilo — enfim, vamos, tenho que voltar para a empresa em algumas horas.

Uma vez na sorveteria, pedi um milkshake grande de morango e um de chocolate para Nathan pois sabia que era o seu favorito. Nós sentamos perto a janela que dava uma bela vista para o museu do louvre, ainda que um pouco longe. Ele sabia que eu era apaixonada por paisagens e arquitetura, via meus quadros quando ia a minha casa, era muito angustiante lembrar de tudo de bom que vivemos a cada vez que olho para ele, mas tento acima de tudo lembrar do que ele me fez de ruim, para não fazer loucuras.

— Nossa esse milkshake é incrível, e essa vista... Nossa! — digo olhando para a janela com brilho nos olhos.

— falei que valia a pena andar vinte minutos de carro pra ver essa vista —olha para mim e sorri ladino — você ainda pinta?

— ah... Não, faz uns oito meses ja — bebo meu milkshake para não olhar diretamente para ele — também parei de cantar, dançar, tocar, enfim tô dando um tempo em tudo.

— o que? Por quê? Você sempre foi muito boa nessas coisas.

— estou tentando me descobrir de verdade, sair da minha zona de conforto, então deixei algumas coisas de lado, quero conhecer outro lado meu que não conhecia antes.

— Tem uma ideia de pôr onde começar? — o homem acena com a mão para o garçom e pede para que retire sua taça — talvez deva tentar algo relacionado a sua área na faculdade.

— Já sei o que fazer sim, fica tranquilo, não vai ser nada relacionado a administração, mais pra frente você verá tudo.

Nathan sorriu e ajeitou uma mecha de meu cabelo antes de mudar de assunto. As horas passavam e nem percebermos, era bom conversar com alguém que me conhece de fato, que veio do mesmo pais que eu. Era tão bom poder falar em inglês que só de lembrar que depois teria que voltar a falar francês me desanimava.

— já está tarde, tenho que ir para casa — levantei-me da cadeira pegando minha bolsa.

— Elle, deixa que eu te levo — observo ele levar a pulseira até a máquina de cartão que apita aprovando o pagamento — meu trabalho não fica muito longe dali como você bem sabe.

— hm... Não sei, sinto que já incomodei muito, além disso não sei se seria bom nós dois sermos vistos juntos.

— Quem vai nos ver juntos, o Jack? — ele arqueia a sobrancelha e eu mordo o lábio inferior apreensiva o que para ele já significa tudo — não fizemos nada de mais, eu não tenho nada a esconder, mas se você tiver, por mim tudo bem irmos separados.

— Não, você tem razão. Vamos juntos.

Seguimos conversando ainda no carro, dessa vez ele focou em falar sobre os meus pais, como eles estavam, o que faziam, se meu pai tinha finalmente tirado a ideia da cabeça de pintar o cabelo de azul e outras coisas, mas eu não estava prestando atenção, estava pensando que por mais agradável que tenha sido o dia não era ali que eu queria estar, nem, pela primeira vez na vida, com ele que eu queria estar. Sinto falta do simples, do divertido, das longas conversas sem sentido, do perfume que não sinto a um tempo, a verdade é que eu não sinto mais nada pelo Nathan, eu sinto pelo Jack.

— bom, chegamos — ele disse puxando o freio de mão depois de parar o carro — Obrigada por aceitar meu convite.

— não há de quê, então tchau — me virei para sair do carro mas hesitei e voltei para minha posição inicial — Você ainda tem meu número?

— tenho sim

— ótimo, nós falamos quando der — sorri de canto e caminhei para fora do carro batendo a porta em seguida.

O carro de Nathan seguiu a rua, já eu fui andando para o sentido oposto até uma loja de artesanato, lá comprei uma tela branca, tintas e pincel. Já em casa, coloquei uma música que gostava a alguns anos atrás para tocar e comecei a pintar, eu não sabia ao certo o que estava pintando, mas sabia exatamente em quem estava pensando, e junto da música algumas lágrimas escaparam de meu rosto que não sequei, somente continuei a pintar cantando a parte que mais me identificava.

— Pourtant quelqu'un m'a dit. Que tu m'aimais encore. C'est quelqu'un qui m'a dit Que tu m'aimais encore Serait-ce possible alors? ¹

Legenda:

1- No entanto, alguém me disse
Que você ainda me amava
Foi alguém que me disse
Que você ainda me amava
Seria possível, então?

A música colocada nesse capítulo:

Viagem do amor (Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora