perdi meu chão

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Morar fora da faculdade é mais complicado do que eu me lembrava, tive a brilhante ideia de acordar no mesmo horário de sempre e acabei me atrasando umas meia hora, o que como consequência me fez ouvir dez minutos de sermão do professor de contabilidade depois do horário. Quando sai, Loren me esperava na porta com um sorriso na cara, como o de quem me ouviu levar bronca com dezenove anos na cara.

— Ai ai ai, não pode chegar atrasada neném — ela diz imitando a voz de bebe me fazendo revirar os olhos.

— Péssima ideia morar fora do Campus — desabafei indo na direção do pátio — a única coisa boa foi não ter que escuta aquelas retardadas que eu tinha que chamar de colegas de quarto.

— Os móveis já chegaram?

— ainda não, só o colchão, então além de atrasada eu dormi super mal — sentei-me na cadeira da grande mesa redonda — pede alguma coisa pra mim por favor.

— peço sim, mas antes toma — ela me entrega um envelope rosa-claro com detalhes em dourado — convite da festa da Corine.

Fico com ele em mãos ainda sem acreditar, confiro o nome no verso e realmente aquele convite era para mim. Confesso que fiquei feliz, sentia saudades dela e dos meninos do time de basquete, porém, ao mesmo tempo sinto um frio na barriga enorme, não vejo Jack desde que brigamos a pouco menos de um mês e mesmo magoada ainda não consigo esquecer o quão importante ele foi aqui para mim e o quão estranha foi aquela atitude tomada por ele, não era normal, e por mais que eu quisesse confronta-lo, tenho medo de descobrir que tudo o que ele disse naquele dia fosse verdade.

— Ei, Mad! Você me ouviu? — Loren balança sua mão em frente ao meu rosto fazendo-me recuar.

— ah? Não, desculpa, pode repetir?

— eu disse que só tinha Coq au vin¹ — pôs a bandeja na minha frente e se sentou com uma Tupperware.

— nossa deu até mais fome — sorri pegando o talher no lado direito da bandeja — Loren? Não vai comprar comida hoje? Logo você!?

— Bom, estou tentando reduzir meu consumo de carne, então pedi um almoço vegano e trouxe de casa — ela sorri e começa a comer.

— ah, a Corine te convidou também? — indaguei pegando o convite para finalmente abri-lo — espera, como você está com o meu convite se disse que havia parado de falar com ela?

— você não queria saber do Jack, se ele tá bem, se tá namorando ou coisa assim — me olhou esperando uma resposta e apenas assenti com a cabeça — então, pedi desculpas e voltei a falar com eles.

Não posso negar, não o esqueci e a falta de informações sobre ele me deixava louca por isso eu posso sim ter perguntado uma coisa ou outra para Loren que vem se tornando uma das melhores pessoas que apareceram em minha vida, ela até tenta me incentivar a ficar com outras pessoas, o que não dá certo, mas o fato de ela tentar me deixa feliz, porque de algum modo mostra que se preocupa comigo.

Peguei o papel dentro do envelope começando a ler as informações, dizendo primeiro que seriam duas festas, uma pool party e um baile formal de máscaras, e depois as informações sobre o tal baile. “Todos devem estar mascarados”. “Serão três valsas ao longo de toda a festa”. “Par da (o) convidada (o): Jack Gilinsky”. Meu coração se acelerou, olhei para Loren com os olhos arregalados e negando com a cabeça.

— Não, não mesmo, eu não vou — coloquei o Convite em cima da mesa e voltei a comer.

— eu te entendo, eu no seu também não iria — ela deu um sorriso de canto — se você quiser eu falo com a Corine para eu ser o par dele, aí vai ter certeza de que ele não vai ficar com ninguém.

— Loren, a vida é dele, não posso impedi-lo de seguir — dei de ombros suspirando — e outra, o Angelo e você merecem dançar juntos.

— Amiga eu faço esse sacrifício por você, Jack não pode ficar desfalcado — exclamou assertiva me fazendo pensar por alguns segundos segundos.

— tá... Eu vou, não posso deixar Corine na mão.

Tive mais cinco tempos de aula antes de ir para o trabalho, minha cara estava péssima por ter dormido no colchão puro, então, antes de atender os clientes fiz uma maquiagem rápida para não parecer desleixada. Parecia que nada estava colaborando, o restaurante estava cheio por conta da mudança no menu, as pessoas ligavam incansávelmente a procura de uma reserva de última hora, faziam fila aos montes para entrar e quem estava lá dentro, demorava muito para sair pois queria provar todos os pratos.

Quando o expediente acabou, fui na cozinha para ajudar a mãe do Jack, fiquei com a louça e fui uma das últimas a sair dando de cara com Corine que se arrumava no vestiário. Pensei em recuar, esperar ela sair para depois me trocar mas não posso ficar fugindo dos meus problemas sempre que eles aparecem.

— Oi — ela disse olhando para o armário.

— Oi...

— Você... recebeu o convite? Pedi para a Loren te dar — coloca seu moletom fino e retira a bolsa do armário.

— recebi sim, que bom que está chegando, você sempre falou tanto dessa festa.

— Verdade, tudo está uma louca agora que nem falo mais tanto dela — a de cabelo rosa da uma leve risada — tenho que ir, nos vemos amanhã no trabalho.

Sai de lá logo depois, decidi passar a noite na universidade para ver se conseguiria dormir melhor, peguei um uber chegando dez minutos depois no Campus. Ainda eram oito da noite, então parei para comer na cantina pensando em como seria ótimo estar com a minha casa toda mobiliada agora.

— Madison — a voz rouca ecoa em meus ouvidos me fazendo sentir borboletas no estômago.

— Jack? — virei de costas tentando manter-me forte.

— A... Corine pediu para eu te dar isso, como você é meu par na festa tenho que colocar em você. — põe uma caixa de madeira em cima da mesa que ao abrir revela um colar dourado com rosas da mesma cor e um par de brincos — eu tinha escolhido para você na época...

— é lindo...— olhei para baixo, não queria que ele me visse com os olhos marejados.

Ouço seu suspiro, ele delicadamente pega o cordão e fica atrás de mim a minha espera. Segurei meu cabelo num coque embaraçado, só então permiti que uma lágrima escorresse pelo meu rosto. Ele terminou de fechar, ajeitou o cordão em meu pescoço e por costume deu um beijo em meu pescoço, e mais lágrimas desceram.

— Me desculpa, eu esqueci que... — fiz um gesto com a mão o interrompendo.

— Tá tudo bem, era só isso — apertei meus lábios um conta o outro — eu... Preciso colocar alguma coisa em você também?

— creio que não, mas se por ventura tiver ela vai te dar uma caixa igual a essa.

Por ventura... Formal demais...

— Então... Tchau — evitei contato visual, estou totalmente desconcertada, se ele tentar me abraçar não vou conseguir segurar.

— Tchau.

Ele saiu, e o a angústia subiu até minha garganta, respirei fundo tentando segurar a vontade de chorar mas ela era maior que eu. Chorei compulsivamente por meia hora naquele pátio e o resto da noite inteira em meu dormitório, apenas lembrando dos bons momentos que passamos juntos.

Viagem do amor (Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora