Capítulo 33 - Ironia

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Trabalhei a noite toda em ritmo frenético. Mal dei atenção às meninas quando voltaram animadas e cheias de sacolas e novidades. Deixei que Zamask se virasse com Tecno explicando a barraca de cima abaixo, respondendo todas as suas perguntas.

Me concentrei exclusivamente em prestar atenção total às imagens e sons que me rodeavam, consegui calcular a velocidade e modular o som, transformando em palavras discerníveis. Levei o dia todo, não me recolhi para dormir, sob os protestos de Zamask, mas fui capaz de criar um sistema de tradução simultânea que transformava minhas palavras na sequência certa de comandos para o traje inimigo e assim fiz todas as funções dele funcionarem.

Assim que o sol se pôs fui ao galpão, chamei Kallox e o arrastei para a sala onde trabalhava com o traje inimigo. Mostrei para ele como funcionava, pedindo adaptações para que o traje voasse imitando os ocupantes alienígenas. Ele desceu comigo ao laboratório e analisamos o sistema das asas biológicas do inimigo no cadáver.

— Vai ser complicado, mas não impossível. Posso fazer! – ele me animou.

— Nem imagina o alívio dessa sua declaração.

— Vai invadir a nave deles durante a batalha, não vai? – ele sorriu maldoso e eu assenti.

— Zamask vai enlouquecer.

— Ele não vai saber.

— Phoebe...

— Não! Não há alternativa que eu consiga enxergar melhor do que essa até agora. Se encontrar outra, claro que vou optar por ela, mas no momento é o que tenho. Posso desorientar todo o sistema deles, mas se fizer isso de dentro do sistema central, posso alcançar todo o exército deles de uma vez. Ele pode gritar e ficar bravo comigo depois, se sobrevivermos.

— Você quem sabe. – Kallox deu de ombros.

— Falando em sobreviver, você precisa subir e se alimentar. As meninas já sabem, portanto esperam isso a qualquer momento.

— Preciso conversar com você antes. – ele se virou saindo do laboratório e eu o segui, sua expressão era preocupada.

— Não se preocupe Kallox, estarei lá. Não...

— Não é isso. Quero falar sobre Alice.

— O que tem ela?

— Sei que Gollar e Deallus também ainda não se alimentaram. Não quero nenhum dos dois perto dela.

Olhei para ele em choque. Comecei a sentir o cheiro que se desprendia dele e não sabia se batia nele ou ria. Era muita ironia.

— Caralho! Sério?

Ele assentiu apenas.

— Quando aconteceu?

— Assim que a vi. Tenho me mantido ocupado para me forçar a não me aproximar, não quero que tenha uma ideia errada do que está acontecendo comigo.

— Ok! Vamos lá. – Bufei pensando, olhei bem para ele e decidi – Mestiços não identificam sentimentos pelo cheiro, ela pode até sentir algo diferente no seu cheiro, mas não sabe o que significa. Fique tranquilo, desde que não a assuste, pode se aproximar, conversar com ela. Não vou impedir Kallox. Assumi a responsabilidade de não deixar que nenhum mal aconteça a essas meninas, não de privá-las de viver e terem suas próprias experiências.

— Ela é muito jovem.

— Ela completa dezessete anos em três dias. Pelos padrões do complexo, se eu não tivesse mexido nas fichas, ela já teria passado pelos testes sexuais. É considerada sexualmente madura desde os quinze.

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