Cap. 08 - Defesas

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Era o final das aulas do turno da manhã.

Wojtyla atravessava o pátio interno do colégio em sua habitual tranquilidade, quando sua atenção é despertada pela voz retumbante do mediano Coordenador.

O garoto voltou-se para ele de má vontade, como que adivinhando o que ouviria.

E como Rubens não era nenhum exemplo de discrição quando se tratava dos alunos, ele falaria um assunto particular na frente de quem quer que fosse, desde que o assunto fosse uma repreensão.

–– Sr. Wojtyla, suponho que saibas por onde andas a tua tutelada Yashalom de Sant’Anna. Ela se ausentou da escola no intervalo e não retornou. Também tenho informações que ela se desentendeu com uma colega de classe, mas como a aluna não prestou nenhuma queixa, não poderei aplicar uma advertência à tua tutelada por isso. Mas posso punir a vocês dois pelo mau comportamento da Srta. Sant’Anna!

O garoto quase riu, mas manteve-se firme em sua compostura, embora não conseguisse suprimir uma expressão sarcástica.

–– Não senhor, não sei por onde anda a minha tutelada e também não tenho nenhuma informação de tal desentendimento entre ela e uma colega.

Sem se dar por atingido pelo sarcasmo do aluno, Rubens mantém sua postura arrogante, olhando para Wojtyla de queixo erguido – mesmo porque o garoto era uns dois palmos mais alto do que ele.

–– O senhor foi designado para tutelar a Srta. Sant’Anna em todos os assuntos relacionados à escola! Além de ainda não ter aparecido os bons resultados, me deparo com a aluna desaparecida em horário de aula e um boato de indisciplina a envolvendo!

–– Senhor, tenho feito o meu melhor e vejo que Yashalom está se esforçando, mas precisamos dar a ela mais algum tempo. Afinal, ela é uma aluna fraca.

–– Percebo o quanto está dando o seu melhor, Sr. Wojtyla, tanto que a tutelada fugiu da escola...!

Picuinhas!

Se havia algo que o nórdico odiava era isso: picuinhas!

Embora seu sangue tivesse fervido, o rapaz permaneceu com a mesma frieza de antes.

–– Com certeza procurarei saber o que aconteceu, Prof. Rubens!

O Coordenador dá as costas ao rapaz e segue o seu caminho, ainda falando em sua voz ressonante.

–– Implementamos esse sistema de Tutela Estudantil a fim de melhorar o desempenho dos alunos mais fracos e proporcionar oportunidades para os alunos-tutores. Somos referência nesse tipo de acompanhamento aos alunos! Até então tem sido promissor. Não nos decepcione, Sr. Józef Wojtyla!

–– Claro que não... imbecil!

Do nada, o Coordenador tropeça nos próprios pés e desaba pesadamente no chão do pátio lotado de alunos, fazendo um estardalhaço que conseguiu chamar a atenção de todos, embora houvesse um falatório insuportável.

Alguns alunos não conseguiram conter as gargalhadas enquanto outros poucos, mais indulgentes, correram até o homem, ajudando-o a se levantar.

Wojtyla apenas dá um sorriso enviesado e satisfeito.

Quando se vira, dá de cara com Enzo, que apreciava com sádico contentamento a cena que se tornaria antológica nos anais da Escola Federal Darcy Ribeiro.

–– Quem te conhece não te compra, Józef! Essa sua postura de bom moço engana a qualquer um, sabia?

–– Não sei do que fala, Enzo...

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora