Cap. 09 - Inconstância

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Yashalom terminava de acertar os últimos detalhes de um arranjo quando Virgílio aparece à porta, anunciando uma visita.

Intuitivamente, a garota sabia de quem se tratava, mas mantinha uma boba esperança de que fosse qualquer outra pessoa deste mundo, menos ele.

Por algum motivo que ela não compreendia, aquele garoto lhe causava desconforto, como se ele estivesse próximo a ela com o único objetivo de vigiá-la e controlá-la.

Wojtyla – que desta vez preferiu aparecer de forma civilizada, anunciando-se antes – entrou na sala receoso.

Sabia que Yashalom não queria vê-lo.

Mas ele precisava sondá-la e descobrir o que se passara com ela, pois, preocupado demais com a forma, esqueceu de buscar o conteúdo: afinal, o que a aborreceu tanto ao ponto de agredir uma colega de classe?

–– Yashalom... como você está?

A garota deu de ombros, sem se dignar a sustentar o olhar para o veterano.

Havia um misto de raiva e vergonha pelo garoto, que a impedia de dirigir-se normalmente a ele.

Mesmo que indiretamente e sem nenhuma culpa disso, ele fora o estopim do que ocorreu na escola pela manhã.

Mas, havia o lado empático que conseguia ser maior que o rancor... assim como ela, Wojtyla também foi uma vítima da intriga e, para ele, talvez fosse muito pior.

Abandonou o que fazia e relaxou, dando a devida atenção ao rapaz.

–– Eu estou bem... para você estar aqui, acho que já sabe o que aconteceu... espero que o Coordenador Rubens não tenha lhe dado uma chamada por minha causa!

Wojtyla sentiu-se aliviado ao perceber que Yashalom baixara suas defesas.

Seria muito mais fácil conversar com ela e esclarecer qualquer mal entendido, se houvesse algum.

Ele não poderia, em hipótese alguma, perder a pouca confiança que ela tinha por ele; não poderia permitir que ela se afastasse dele, pois senão teria que usar de táticas invasivas e tentar controlá-la à força.

Não era essa a sua intenção, embora isso fosse o mais fácil a se fazer.

Ademais, se ele assim fizesse, se controlasse a vontade e interferisse no livre-arbítrio dela, ele seria severamente punido!

Puxou um banco alto que estava próximo à bancada e sentou-se quase de frente à garota, evitando qualquer tipo de afronta, como olhá-la diretamente nos olhos.

–– Bem, na verdade não sei exatamente o que houve, mas Rubens chamou minha atenção por você ter saído da escola antes da hora, afinal ele não iria perder essa oportunidade, não é mesmo?

Yashalom respirou fundo, pesarosa. Já estava sendo muito complicado para ela ter que se virar em tudo sozinha sem a presença da mãe; suportar coisas estranhas que vinham acontecendo ao seu redor e dentro de si, como aqueles sonhos estranhos e apagões de consciência; e para piorar, a escola inventa que ela precisa de um reforço e convoca um aluno do último ano para acompanhá-la e tomar conta dela como se fosse uma pirralha estúpida que só faz coisas erradas!

Não morria de amores por Wojtyla, mas nem por isso tinha qualquer prazer em vê-lo ser advertido por sua causa!

–– Eu... odeio isso, odeio mesmo! Depois que aquele imbecil do Tábua-corrida inventou de me meter nessa Tutela Estudantil, tudo só tem piorado para mim, na escola! Não me sinto nada bem em saber que você fica sendo repreendido por cada coisinha que eu faço ou deixo de fazer! Isso é ridículo!

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora