Cap. 31 - Fadas

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Dois desagradáveis sentimentos doíam em seu peito, quando Wojtyla retornou do desdobramento: mágoa e ciúmes.

Como se tudo que o envolvesse nos últimos dezessete anos não fosse suficientemente humilhante, ter que suportar tal sentimento baixo e mesquinho como o ciúme era condená-lo definitivamente ao inferno!

–– Não! Isso é impossível! Tem que ser!

A mágoa ele até compreendia, afinal viu Yashalom falar e agir com aquele cara estranho de uma forma tão natural e mais desembaraçada do que ela jamais fora com ele, ao menos conscientemente.

E, ainda pior, o cara tinha conhecimento de algo dela que ele não tinha... o que ela quis dizer, afinal, sobre “Naquele dia, em que aquilo aconteceu?”

Que dia?

E o que aconteceu nesse dia?!

Sentiu novamente a estranha raiva inflar em seu peito e a vontade louca de destruir algo para tentar aliviar a frustração que tal sentimento o infligia!

E, no instante seguinte, o seu celular e a lâmpada do abajur, que estavam sobre o criado-mudo, estouraram simultaneamente, tirando o garoto de seus devaneios.

Praguejou em sua língua nativa, arrancando a camiseta do corpo e batendo com ela sobre o celular que se incendiava.

A situação foi tão ridícula que o fez recuperar o seu autocontrole. Pegou o smartphone, vendo o visor LCD arrebentado de dentro para fora.

–– Isso é humilhante! Além de me deixar influenciar por sentimentos, sentimentos miseráveis e mesquinhos ainda por cima!, ajo como um fedelho que está aprendendo a lidar com a sua Força!?

Levantou-se irritado, indo para o banheiro e jogando o celular no cesto de lixo.

Arrancou o restante da roupa e enfiou-se no chuveiro desligado, na esperança de que a água fria esfriasse os seus malditos ânimos.

~*~

Victor aproveitou o resto do dia de folga levando o irmão ao cinema do shopping, como uma forma de gastar as horas restantes até que ambos pudessem retornar para casa no horário de sempre, poupando-o de justificativas ou mesmo manipulações, e a situação era minúscula demais para merecer um desperdício de energias como essa.

Na saída, Moisés saltitou até o balcão da delicatessen, se apoiando na borda de frente à pipoqueira.

–– Irmão, compra mais pipoca?

–– Claro. – Victor virou-se para as garotas do balcão, fazendo os pedidos.

–– Uma pipoca pequena e duas coca-colas.

A garota alargou um enorme sorriso, não perdendo a oportunidade de flertar com o rapaz.

–– Comum, zero ou light?

–– Comum, as duas.

As outras garotas riram e cochicharam entre si, ouriçadas com o rapaz que não lhes dava a mínima, preocupado apenas em pagar a conta.

Victor passou o saco de pipocas para Moisés que, pequeno nas mãos do rapaz, se tornou enorme das pequeninas mãos do menino, recebendo-o com um enorme sorriso de dentes irregulares.

Abriu as latas de refrigerante, colocando os canudos e dando a de Moisés para que ele desse uma bicada, incapaz de segurar o saco de pipocas e a lata de refrigerante ao mesmo tempo.

–– Como estão os machucados? Ainda doem?

–– Machucados? – Moisés falou depois de engolir, franzindo a testa. –– Aaah! Tinha me esquecido!

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora