Cap. 21 - Embate

38 16 1
                                    

“Eu sempre consigo tudo o que quero...” – O Daemon de cabelos brancos e olhos dourados provocou, inclinando-se sobre a mulher e prendendo-a entre o seu corpo e a cama de lençóis revirados.

Apesar da sua postura autoritária, intimidante, beijou-a com ternura, entregando-se apenas à sensação do contato entre as suas peles.

Ela deveria se aborrecer com aquelas palavras arrogantes que demonstravam a prepotência do Daemon nórdico.

Apenas a algum tempo atrás, teria tomado tais palavras como uma afronta, uma ofensa... o que de fato tomou, quando o jovem Administrador Regional proferiu-lhe a mesma frase como uma ameaça.

Bem, o destino sempre tão irônico, fez com que esse desejo se tornasse mútuo entre eles, dois seres completamente opostos, de Terras e culturas tão distantes e diferentes.

Por isso o amor é uma força transformadora...

Quando ele deslizava os beijos pela pele morena dela, descendo do pescoço para o colo, ela o empurrou gentilmente, afastando o suficiente para poder encará-lo nos olhos.

Por mais que se entregasse a ele, que tentasse confiar plenamente nele e que aquele amor tentasse preencher o seu coração, ainda havia uma mancha que pairava sobre eles, uma pequena nuvem escura que jogava sombras sobre as esperanças dela de que, realmente, pudesse transformar Imăm em um homem mais indulgente.

–– Eu queria ser a única que você quisesse de verdade... e estaria mais tranquila em saber que você já tem a tudo...

Imăm sorriu ante aquilo que lhe pareceu uma demonstração de insegurança e ciúmes da Filha do País do Verão. Beijou-a novamente, antes de replicar.

–– Você é a única, hoje e para sempre, acredite! Esse sentimento que tenho, essa necessidade que tenho de você, é inédito para mim e não creio que virei, algum dia, sentir as mesmas coisas por outra mulher que seja! Você é única, Mitra! Pode ficar tranquila...

Desta vez foi ela quem sorriu. Como sempre, ele a subestimava.

–– Não me refiro a outra mulher, sequer a pessoas... falo dessa sua ambição, Imăm, dessa sua fome por poder e por querer abarcar mais do que seus braços são capazes de envolver. Seria muito melhor para todos nós, seríamos mais felizes, se eu fosse mesmo tudo o que você quer...

~*~

Victor acordou em sua confortável e ampla cama, na mansão em que mora com os pais e o irmão caçula.

Acordou com as palavras de seu sonho ecoando em sua mente, como se ainda estivessem sendo sussurradas em seu ouvido.

Aborrecido, joga de lado o edredom negro de grafismos cinza e vermelho, sentando-se na cama e levando as mãos ao rosto, permanecendo desta forma por segundos incontáveis.

Impaciente, desliza asperamente as mãos para os cabelos, prendendo os cachos escuros para trás, agora mais compridos do que o aceitável e já lhe causando incômodo.

Permanece dessa forma de olhos fechados, controlando sua ansiedade ao tentar cadenciar sua respiração, até que se levanta de rompante e abre a enorme janela de vidro e madeira de lei, deixando que a beleza da manhã de Outono se derrame em seu quarto em gotas ensolaradas e brisa fresca.

A visão que se tem do quarto de Victor, que fica no terceiro pavimento do casarão, é de uma vista privilegiada, abençoada pela natureza e ainda permitida de existir pelo homem.

Era o pico de um pequeno morro ainda todo arborizado e que se podia ver uma cascata deslizando pelas partes planas e rochosas.

Naquele lugar, em todas as épocas do ano, sempre estaria, pelo menos, cinco graus abaixo da temperatura média do resto da cidade.

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora