Hybrida - Asas Negras

Cap. 36 - Acertos

A sala de chá estava clara, arejada e cheirando a flores, como de costume. Vitória estava sentada em sua poltrona, tendo Moisés brincando aos seus pés.

Victor entrou ignorando completamente o irmão e a mãe.

A pouco menos de uma hora ele retornara à casa.

Estava mais sombrio, taciturno.

Ele ali ia atraído pelas flores dos arranjos, que impregnavam o ar com seus perfumes e com a sutil Energia Vital nelas empregada.

Moisés levantou-se do chão e correu até o rapaz, que o impediu de se atirar nele.

Foi rude com o irmão, mas não lhe importava nem um pouco os sentimentos e protestos do pequeno.

Parou frente ao enorme arranjo que ficava entre os quadros dos fundadores da mansão, e liberou a sua clarividência.

Então o que viu foi uma áurea violácea em volta do arranjo, poderosa o suficiente para afastar e neutralizar os fluídos de energia negra que escorriam das telas.

Foi quando um fio premonitório atravessou a cabeça de Victor, e ele pressentiu que Yashalom despertava em sua Força.

~*~

Wojtyla retornou do desdobramento, mesmo a contragosto. Manteve-se centrado ainda por algum tempo, esperando que as sensações se amainassem.

Yashalom permanecia adormecida, não apenas pelo efeito da Magia de Enzo, mas também por ter desprendido enorme força abruptamente, fazendo suas energias se esvaírem.

Enzo se aproximou do amigo, que agora se mostrava resignado.

–– Espero que tenham se entendido, meu velho.

–– Digamos que... agora eu sei exatamente a razão de me dedicar a ela.

–– Oras, antes não sabia? Ela é a nossa passagem de volta pra casa! Cuidamos dela porque Zach, muito pouco delicadamente, nos incumbiu disso.

Wojtyla puxou Yashalom para os seus braços, erguendo-a ainda adormecida, aconchegando-a em seu colo.

–– Sim, no início... mas hoje faço unicamente por ela!

~*~

Sarah estava sentada à mesa da copa-cozinha, com a cabeça apoiada nas mãos entrelaçadas, como se orasse.

Tentava compreender o que havia se sucedido sem, no entanto, acreditar no que havia presenciado.

Era absurdo demais para ser real, embora os estilhaços de vidro e louça espalhados pelo chão da sala denunciassem o contrário.

Saiu de sua reflexão ao ouvir o clique seco da porta se abrindo.

Ficou em suspensão até ver a forma delgada de Enzo.

Depois disso, uma luz branca invadiu os seus sentidos e tudo se apagou.

Wojtyla entrou carregando Yashalom nos braços, levando-a até o quarto dela, colocando-a com cuidado na cama.

Minutos depois Enzo surge à porta, com ares de cansaço.

–– Está feito, General! Manipulei as memórias de Dona Sarah, adulterando a lembrança do despertar de Yashalom. Aproveitei e implantei nela o otimismo de que tudo está bem e que deve prosseguir com os planos que tinha antes desse ocorrido.

–– Ótimo, Grian! – Falou Wojtyla em meio sorriso. –– Só espero que esses planos não sejam o de levar Yashalom daqui. – Advertiu de bom humor.
Um luminoso sorriso se fez à face de Enzo.