Cap. 24 - Melancolia

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O céu estava completamente limpo naquela noite e as estrelas pareciam tão próximas do firmamento, graças à nitidez que se tinha do espaço, através de uma atmosfera pura, sem poluentes, em que as cores e as luzes se mostram mais brilhantes e mais fortes.

A lua, enorme e luminosa, estava minguando.

O céu noturno não era negro, mas de um azul escuro e que parecia conter luz própria, sendo mais luminoso próximo ao firmamento.

As estrelas multicoloridas brilhavam em profusão.

A pureza daquele ar era tamanha que era possível enxergar a nebulosa que cortava o céu e se deitava atrás do mar de árvores da mata, em tons de preto e verde, com as copas cintilando com o reflexo do luar.

Vagalumes enchiam o ar como se invejassem as próprias estrelas, às vezes em enxame tão denso que iluminava por instantes as folhas dos arbustos e as águas do rio.

Insetos e outros animais noturnos quebravam o silêncio com seus ruídos que chegavam a ser ensurdecedores, tamanha era a quietude daquele lugar ermo.

Grian de Réquiem deleitava-se tanto com a visão daquele céu esplendoroso que parecia descer e engolir a própria terra, quanto com os sons da noite, naquela música natural repleta de vida e energia.

Embora estivesse vivenciando aquilo naquele momento, seu coração sangrava com a saudade daquilo tudo e com as lembranças que remetiam.

Na Terra, ainda que embora existissem lugares distantes da civilização e intocados pela mão do homem, não havia mais aquela pureza da atmosfera.

A poluição e os venenos lançados no ar, na água e na terra ofuscavam tanto a visão quanto o som; tudo era mais baço e abafado.

O Daemon sentiu a aproximação do outro, o que lhe fez deixar de lado a sua contemplação.

Ele trajava vestimentas simples, apenas túnica e calça largas de algodão rústico, tão diferente do que ele costumava usar quando ainda era um habitante daquele mundo.

Os cabelos vermelhos e semilongos estavam soltos, tendo a brisa por emaranhar os fios sedosos e finos.

Os olhos de um intenso castanho-avermelhado estavam desprovidos da habitual vivacidade.

Não era apenas a nostalgia do momento que o deixava estranhamente melancólico, mas, especialmente, a situação em que ele, juntamente com Karol, estava enfrentando.

Apesar de ser uma pessoa positiva e de bons pensamentos, ele não podia evitar a preocupação pelas dúvidas e por sua incapacidade de lidar com a situação de forma energética e decisiva, por conta da sua subexistência como Enzo Ramasses.

–– Saudações, Zach. – Cumprimentou em sua voz jovial, que não fora afetada por sua repentina melancolia.

–– Grian... – Zach respondeu com uma leve mesura. –– O que o tráz aqui fora de tempo? Espero que nada grave tenha ocorrido.

Zach estava com o semblante carregado, o que lhe dava a aparência de ser mais velho do que era de fato.

Ele também se vestia de forma simples, sem os trajes requintados que costumava usar por conta de sua posição.

Apenas a bata de gaze sobre a calça larga e os cabelos presos por uma faixa de algodão.

–– Yashalom está bem, antes de tudo. Infelizmente, os nossos inimigos descobriram como fazer com que espíritos transitem de um Plano para o outro, e tivemos aborrecimentos hoje.

–– O quê?! – O semblante sempre plácido e inexpressivo de Zach se desmanchou em um quase desespero. Ele se forçou a não avançar em Grian para tirar-lhe logo de uma vez o que tinha a informar. –– E a minha filha está mesmo bem? Aconteceu algo a ela?!

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora