Cap. 35 - Verdades

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Ainda era cedo quando Mariellen chegou ao casarão dos pais, no interior do Paraná, acompanhada de Herbert, ambos vindos do aeroporto.

O jardim bem cuidado que contornava a casa, o pomar que tomava para si todos os fundos do sítio e as montanhas azuladas ao longe, remeteram a mulher aos idos tempos de sua juventude, e quando entrou na casa, de decoração clássica, austera e escura, a sensação que teve foi a de que o tempo jamais passou.

A mãe a recebeu na entrada.

A frieza da recepção por parte de Fátima, mesclada ao sorriso seco e forçado, quase fizeram Mariellen se arrepender de ter se deslocado do Rio de Janeiro até ali, mas lembrou-se imediatamente que estava ali por seu pai, uma pessoa que estava com uma doença fatal e que implorou por sua presença.

–– Parece que estão muito bem. Fizeram boa viagem? – A mãe perguntou em forçada descontração.

–– Sim, foi uma viagem tranquila. – Mariellen respondeu mecanicamente, sem emoção.

–– Herbert, meu filho, me alegra que tenha acompanhado a Mari. A última vez que os vi, achei vocês muito distantes, cada um para o seu lado.

O comentário tecido de forma venenosa deixou o casal sem graça, mas Herbert se saiu bem na contra-argumentação.

–– A vida é feita de fases, Dona Fátima, e digo à senhora que estamos numa fase muito boa agora, encaminhando para melhor!

–– É o que realmente espero e desejo... que seja, finalmente, uma fase ótima e fértil para vocês dois.

A raiva subiu das entranhas de Mariellen, parando bruscamente em sua garganta.

A mulher travou os dentes para impedir que se desmanchasse em impropérios contra a própria mãe, que sempre encontrava uma oportunidade para espicaçá-la, não importanto quanto tempo permanecessem distantes, sem se ver.

A mulher, simplesmente, não possuía qualquer sentimento materno em relação à própria filha.

Ela desviou-se da idosa, entrando na sala grande, buscando pelo pai.

Cansado demais para ir recepcionar a filha e o genro, Elias aguardava aconchegado em sua enorme poltrona de estofado em couro escuro.

Até a claridade do dia o incomodava, então o homem permanecia nas sombras da própria sala sisuda.

Após a vista se acostumar à penumbra, Mariellen focalizou o pai, que a olhava apreensivo, sentando no canto ao lado da arca onde ficavam os seus objetos preferidos: livros de encadernação em couro; uma tevê e um aparelho de som, ambos pequenos e de última geração, que faziam um contraste gritante com toda a antiguidade da sala; e os cachimbos com os seus acessórios, que era uma coleção muito estimada pelo homem.

–– Não acreditei que viria mesmo, Mari...

–– Assim me ofende, pai! Se eu disse que viria, é claro que o faria!

–– Não é que duvidei da sua palavra, mas na atual circunstância, parece que tudo se torna irreal, impossível de realizar.

Mariellen se compadeceu e antes que pronunciasse algo, o pai se levantou da poltrona.

–– Vamos à sala de leitura, quero falar a sós com você.

~*~

A foto tremia nas mãos de Yashalom.

Seu cérebro encontrava enorme dificuldade de processar o que Sarah falara.

Como assim o bebê que aquela garota carregava na barriga era ela?!

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora