Ainda era cedo quando Mariellen chegou ao casarão dos pais, no interior do Paraná, acompanhada de Herbert, ambos vindos do aeroporto.
O jardim bem cuidado que contornava a casa, o pomar que tomava para si todos os fundos do sítio e as montanhas azuladas ao longe, remeteram a mulher aos idos tempos de sua juventude, e quando entrou na casa, de decoração clássica, austera e escura, a sensação que teve foi a de que o tempo jamais passou.
A mãe a recebeu na entrada.
A frieza da recepção por parte de Fátima, mesclada ao sorriso seco e forçado, quase fizeram Mariellen se arrepender de ter se deslocado do Rio de Janeiro até ali, mas lembrou-se imediatamente que estava ali por seu pai, uma pessoa que estava com uma doença fatal e que implorou por sua presença.
–– Parece que estão muito bem. Fizeram boa viagem? – A mãe perguntou em forçada descontração.
–– Sim, foi uma viagem tranquila. – Mariellen respondeu mecanicamente, sem emoção.
–– Herbert, meu filho, me alegra que tenha acompanhado a Mari. A última vez que os vi, achei vocês muito distantes, cada um para o seu lado.
O comentário tecido de forma venenosa deixou o casal sem graça, mas Herbert se saiu bem na contra-argumentação.
–– A vida é feita de fases, Dona Fátima, e digo à senhora que estamos numa fase muito boa agora, encaminhando para melhor!
–– É o que realmente espero e desejo... que seja, finalmente, uma fase ótima e fértil para vocês dois.
A raiva subiu das entranhas de Mariellen, parando bruscamente em sua garganta.
A mulher travou os dentes para impedir que se desmanchasse em impropérios contra a própria mãe, que sempre encontrava uma oportunidade para espicaçá-la, não importanto quanto tempo permanecessem distantes, sem se ver.
A mulher, simplesmente, não possuía qualquer sentimento materno em relação à própria filha.
Ela desviou-se da idosa, entrando na sala grande, buscando pelo pai.
Cansado demais para ir recepcionar a filha e o genro, Elias aguardava aconchegado em sua enorme poltrona de estofado em couro escuro.
Até a claridade do dia o incomodava, então o homem permanecia nas sombras da própria sala sisuda.
Após a vista se acostumar à penumbra, Mariellen focalizou o pai, que a olhava apreensivo, sentando no canto ao lado da arca onde ficavam os seus objetos preferidos: livros de encadernação em couro; uma tevê e um aparelho de som, ambos pequenos e de última geração, que faziam um contraste gritante com toda a antiguidade da sala; e os cachimbos com os seus acessórios, que era uma coleção muito estimada pelo homem.
–– Não acreditei que viria mesmo, Mari...
–– Assim me ofende, pai! Se eu disse que viria, é claro que o faria!
–– Não é que duvidei da sua palavra, mas na atual circunstância, parece que tudo se torna irreal, impossível de realizar.
Mariellen se compadeceu e antes que pronunciasse algo, o pai se levantou da poltrona.
–– Vamos à sala de leitura, quero falar a sós com você.
~*~
A foto tremia nas mãos de Yashalom.
Seu cérebro encontrava enorme dificuldade de processar o que Sarah falara.
Como assim o bebê que aquela garota carregava na barriga era ela?!
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Hybrida - Asas Negras
Romance💥 História Completa e Finalizada 💥 Um ser híbrido extraplanar vive o despertar de suas faculdades especiais sem saber do que se trata ou de quem ele é, tornando-se uma vítima inocente daqueles que buscam vingança contra o pai que sequer conhece. A...