Cap. 30 - Evidências

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Dona Nadir estava sentada em sua cama, recostada nos travesseiros, quando Sarah sentou-se ao seu lado, entregando a ela uma fotografia.

Ainda mais curiosa agora, depois que a Cuidadora contou sua história, admirava a bela moça retratada.

Era Mariellen, grávida de sete meses, sentada em sua poltrona de vime ao lado da janela ensolarada.

Bem conservada, a foto ainda mostrava as cores brilhantes e a cena mais parecia pertencer a um século atrás, pelo jeito antigo da moça; seus cabelos dourados caindo em cachos pelos ombros; a tez pálida como alabastro de quem nunca se expõe ao sol; a arquitetura colonial antiga vista na janela e os campos ondulados a se perderem de vista, com pomares a um canto e montanhas desbotadas ao fundo.

–– Então essa é a mãe... – Concluiu Dona Nadir, sem esconder o tom de admiração, ainda com a fotografia em suas mãos pouco firmes.

Sarah sorriu sem graça.

–– E depois que eu resolver esse problema com Yashalom, pretendo procurá-la... fazer o que deveria ter feito há anos.

–– Não acha que ela já sabe dessa história? De que a filha sobreviveu e foi dada pra adoção? Não se esconde esse tipo de segredo por tanto tempo.

–– Pode ser. Mas ainda acho que ela deve saber por minha boca isso, mesmo que já conheça a história e tenha aceitado os fatos dessa forma. É um peso que quero tirar da minha consciência.

–– Embora você tenha sustentado a mentira dos seus patrões, você fez muito em ter se responsabilizado pela menina, não permitido que ela fosse enviada a uma instituição em que poderia estar até hoje. Crianças não são facilmente adotadas como as pessoas pensam.

–– Mas isso não alivia a mentira que contei a ela... se a senhora tivesse visto o desespero dela quando eu... quando eu confirmei... aquilo! Se quer saber, é a única coisa de que me arrependo, de verdade!

~*~

Quando Yashalom entrou na floricultura, acompanhada de Moisés e Victor, Virgílio a interceptou apreensivo, com o jornal do dia aberto sobre o balcão.

–– Yasha! Você leu o jornal hoje? Ou assistiu ao telejornal do meio-dia?
A garota estranhou, sentindo um ligeiro desconforto no estômago.

–– Não, Seu Virgílio... nunca leio jornais e nem chego a tempo da escola pra ver o da TV... por quê?

Virgílio virou o jornal para ela, apontando uma notícia.

–– Aconteceu aqui perto, naquele bosque da praia. Como você costuma andar praqueles lados, fiquei preocupado! E você só anda com esse celular desligado!

–– Não gosto da radiação que ele emite... – Yashalom sussurrou baixinho, mas ainda assim Victor foi capaz de ouvir. Dirigiu um rápido olhar intrigado para ela antes de ser capturado pela curiosidade que Virgílio apontava no jornal.

Yashalom leu a notícia em que se dizia que três homens foram encontrados em meio ao arvoredo da praia, sendo que dois estavam mortos e um terceiro ferido e inconsciente.

Um dos homens foi encontrado carbonizado apenas na parte superior do corpo e o outro teve a causa da morte ainda não determinada; o terceiro, sobrevivente, encontra-se internado em estado grave.

Os três foram encontrados por volta das sete horas da noite e não houve testemunha que indicasse o que poderia ter acontecido.

A polícia abriu uma investigação para apurar os fatos que pareciam não fazer nenhum sentido.

Eram três homens. Era o arvoredo da praia. E era a mesma hora.

Yashalom começou a tremer de pavor, ficando ainda mais pálida.

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora