Cap. 32 - Descoberta

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Victor estava na cabana dos terrenos da Mansão Bogarim, encostado à pilastra de madeira entalhada da varanda, vendo a chuva cair forte em gotas pesadas que se chocavam com violência contra o telhado de olaria e as plantas que ornamentavam o entorno.

Deixava a sua mente vagar à revelia, agora que havia acalmado o seu coração, reorganizando os seus sentimentos.

A sua mente o levou ao passado distante, ao episódio de sua vida que ele considerava o mais doloroso.

Nem as suas derrotas, nem mesmo a sua morte física no Mundo Místico lhe causavam tanta dor e tanto ódio como lhe causava esse pedaço de passado em particular.

Era a primeira campanha que liderou contra as Terras do Sul.

O seu exército, autoconfiante demais e despreparado para investir em um território de geografia e clima muito adversos, sofreu uma terrível derrota, tendo uma baixa numerosa.

Retornaram fragmentados para as Terras do Norte e ele recebia seus líderes militares no palácio governamental.

Um dos oficiais trazia um embrulho longo e delgado feito em tecido de seda púrpura, arrematado com um cordão dourado. O Daemon aproximou-se de Imăm, receoso.

-- Senhor, temos uma má notícia para vos comunicar.

Impaciente, como sempre ficava em toda e qualquer cerimônia que exigia formalidade demais, respondeu com sarcasmos.

–– Caso não tenha percebido, Capitão, nós sofremos uma derrota... toda notícia será má!

Os oficiais presentes se entreolharam.
Eram os mesmo que traíram Karol, auxiliando Imăm a usurpar a Guarda das Terras do Norte e matando todos os sete membros do Presbitério.

Apesar de apoiarem Imăm, eles o temiam, pois ele era um Daemon passional e imprevisível.

–– Senhor... a má notícia que vos trago não tem a ver com a nossa derrocada.

–– Então não deve ser importante, logo não pode ser má. Fale logo e pare de ocupar o meu tempo!

O Capitão baixou a cabeça para o embrulho que tinha em mãos, só erguendo os olhos novamente depois de obter a coragem necessária para encarar novamente o Guardião e lhe comunicar a fatalidade.

–– Senhor... é sobre a nossa senhora, a Grande Dama Mitra...

Imăm ficou paralisado em uma máscara indefinível.

O Capitão estendeu o embrulho para ele, mantendo sua cabeça respeitosamente baixa.

Ele pegou o embrulho automaticamente.

Sem desviar os olhos do tecido púrpura, ordenou em voz quase inaudível que o militar falasse.

–– A Grande Dama Mitra pereceu no campo de batalha. Ela estava ao lado do Exército do Sul e os nossos soldados não a reconheceram. Soubemos depois que ela defendia um dos soldados, o meio-irmão Zach, se sacrificando por ele. A Serpe negra que sempre a acompanhava ficou descontrolada e matou muitos dos nossos, até que conseguimos abatê-la.

Imăm flutuava entre o mundo real e o mundo dos sonhos.

Embora soubesse que estava acordado e que aquele pesadelo era bastante real, todos os seus sentidos estavam entorpecidos.

Perguntou sem nenhuma emoção em sua voz, com uma frieza cortante.

–– E o soldado que a matou? Onde está?

–– O soldado e quase todos daquele pelotão foram mortos pelo garoto e a Serpe. O garoto é um Daemon poderoso! Infelizmente não conseguimos abatê-lo como fizemos com o animal. Se ele receber um treinamento adequado, será um soldado perigoso no futuro!

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora