Cap. 34 - Revelação

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Yashalom estava com a cabeça enterrada debaixo do travesseiro, pois foi o melhor que ela conseguiu de uma fuga ilusória.

A sua noite havia sido péssima, entrecortada de insônia e rápidos cochilos povoados de pesadelos. Só conseguiu dormir mesmo quase pela manhã, mais por exaustão que qualquer outra coisa.

Ao menos foi um sono pesado, ininterrupto e sem sonhos.

Apenas acordou ao ouvir a porta da entrada bater e os sininhos presos a ela tilintarem.

O seu corpo parecia de chumbo e pesava uma tonelada.

Ela mal conseguia mexer os dedos, quanto mais suspender as mãos para tirar o travesseiro de cima da cabeça.

Lindinha dormia encolhida e empoleirada sobre suas costas, e a fraqueza que a menina sentia era tanta que mais parecia um elefante que estava ali ao invés de uma gata.

Sarah despontou na porta do quarto. Estava tensa e não ficou nada satisfeita em ver que a filha ainda dormia.

Retirou o travesseiro da cabeça da garota e o semblante dela nunca pareceu estar em pior estado.

A gata pulou para longe assim que Sarah entrou, escondendo-se debaixo da cama.

–– O que aconteceu, Branca? Você está péssima! Por acaso andou bebendo?! – Bradou num misto de preocupação e repreensão.

Se Yashalom tivesse mais forças, teria gargalhado ante a pergunta da mãe, mas ela continuava fraca como um gatinho novo.

Apenas riu com ar desgraçado e se forçou a erguer o corpo, pondo-se sentada sobre as pernas.

Estava completamente desgrenhada, mais do que o normal para alguém que acaba de acordar.

Ainda trajava o vestido longo e o casaquinho de tricô, pois quando chegou em casa, tudo que queria era se esconder do mundo e não se preocupou com mais nada além do seu próprio sofrimento.

Os seus cabelos sempre naturalmente alinhados como se fossem passados a ferro, estavam com pontas para todos os lados.

Os olhos estavam fundos, enegrecidos, e sustentavam olheiras roxas sob eles, que se tornavam muito mais evidentes na pele de alabastro dela.

–– Não, mãe, eu não bebi... – A voz estava embargada, áspera e infeliz.

–– E por que está desse jeito?! – Sarah apontou para ela, da cabeça aos pés.

Não passou despercebido pela mãe que a menina não estava vestida com o pijama de dormir e que estava mais que evidente que ela chegara da rua e pulara direto na cama.

Yashalom pensou em inventar uma das suas fabulosas desculpas, mas seu cérebro estava embotado demais.

E ela já estava cansada disso.

–– Porque eu tive uma noite péssima! E porque eu estou péssima! E estou pressentindo que o mundo vai acabar!

Sarah se retraiu, sentindo o coração se comprimir.

–– Mas por que esse drama todo, menina?! Vai me dizer que criou um monte de caraminholas na cabeça só porque eu falei que precisávamos conversar?!

A menina sentiu-se ofendida. Drama?!

Quisera ela que tudo que estava passando fosse mera frescura de adolescente!

Ao sentir a raiva subir ao peito como um vulcão em erupção, as lembranças do dia anterior com Victor vieram como uma avalanche, e o medo sobrepujou a raiva... e se ela acabasse destruindo o quarto e matando a própria mãe?!

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora