Cap. 27 - Consciência

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Um suspiro e um rangido no estrado da cama denunciaram que Yashalom acordava.

Num salto, Wojtyla já estava de pé e completamente despertado.

Olhava para dentro do quarto pela porta entreaberta. Ela não apenas se remexia na cama, mas realmente estava acordando.

O garoto bufou um riso abafado.

A hipnose nunca funcionava como ele previa e Yashalom sempre subjugava o seu magnetismo, libertando-se.

Voltou para a sala apenas para pegar o par de tênis e se desmaterializar, teletransportando-se para casa.

Ainda de olhos fechados, Yashalom levou a mão sobre o peito onde sentia um peso extra. Embora não visível, ela sentiu o volume e a textura de plumas.

Tocou de leve, cautelosamente apenas com as pontas dos dedos, até que, confiante, deitou a palma da mão, acariciando as costas emplumadas da criaturinha. Só então abriu os olhos.

–– Há quanto tempo não te vejo!

A pequena Serpe negra, um pouco maior do que um gato por causa de sua cauda retorcida, ergueu a cabeça triangular de mandíbula forte, olhando para a garota com os seus olhos reptilianos e vermelhos.

Sua crista de penas se movimentou, demonstrando seu estado de ânimo como um cão faz com a cauda. Yashalom piscou em profusão, confusa.

Por que a criatura não desvanecia, como acontecia todas as vezes?

Assustada, ela se ergueu, sentando-se na cama e olhando com espanto para a Serpe. Aquilo era mesmo real ou a sua esquizofrenia estava se elevando de nível?!

A Serpe rolou do peito para as pernas da garota enquanto ela se erguia, e o estranho animalzinho se mostrou aborrecido, retorcendo-se para pôr-se de pé.

Sibilou para Yashalom que a olhava feito boba, mostrando-lhe a língua bipartida, abrindo as asas e, com as fortes patas traseiras, se impulsionou para o ar e só então se desvaneceu.

A garota arfou surpresa, assustada e maravilhada, tudo ao mesmo tempo.

Jogou os pés no chão, sentando-se ereta e olhando com olhos estatelados a parede ensombrada.

Uma sequência de imagens inundou a sua mente, de tudo que havia ocorrido nas últimas doze horas.

Porém, as imagens eram confusas, uma mistura de fantasia e realidade... mas os absurdos pareciam tão mais frescos, tão mais nítidos, que ela não tinha certeza se eram tão fantasiosos assim, principalmente porque muitos de seus sonhos, várias vezes, se mostravam mais vívidos e reais do que a própria realidade, que muitas vezes lhe parecia tão fosca e desbotada.

Ante a lembrança de seus sonhos realistas, o seu peito gelou e levou, instintivamente, as mãos aos lábios.

E a lembrança do beijo entre ela e Józef estava cristalina demais para se tratar apenas de um sonho.

Os sentimentos, as sensações e a névoa branca eram reais e concretos demais para serem apenas sonho.

O problema é que, seja sonho ou realidade, ambos eram aterradores!

Se foi apenas um sonho, era terrível por ser a manifestação de um desejo oculto seu; se era realidade... bem, não se sentia com coragem suficiente de encarar o fato.

Levou as mãos ao rosto, repassando o momento efêmero daquele beijo, sentindo novamente as emoções que sentiu, até mesmo a decepção pelo arrependimento de Wojtyla.

Mas, mais importante do que tudo isso que aconteceu, foi o que ele fez antes que ela apagasse: ele queria que ela acreditasse que o beijo não aconteceu e tentou fazer algo para que ela se esquecesse... mas ele errou em beijá-la pela segunda vez, mesmo que tenha sido um beijo rápido, porém aquele beijo de despedida estava carregado com os sentimentos do rapaz. Ele não havia se dado conta disso.

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora