Cap. 22 - Confronto

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Enzo descia a escadaria da casa aos galopes, pulando os dois últimos degraus e saindo apressado pela porta, não antes de ser interrompido pela voz irritante da mãe, que estava afundada no fofo estofado, assistindo a um desses programas femininos que passam nas tardes durante a semana.

Ele nem se deu conta de que a mulher estava ali, pois, para ele, ela já fazia parte da decoração da sala.

––  Enzo! Você está saindo?

–– Claro! – Respondeu com rispidez, a mão já na maçaneta da porta.

–– E você não pensa em voltar tarde ou virar a noite fora, não é mesmo?! Hoje é segunda-feira ainda, nem deveria pôr os pés pra fora desta casa! Deveria estar no seu quarto, estudando!

O garoto suspirou com impaciência, o que era, vindo dele, algo extraordinário.

Geralmente levava tudo na esportiva, raramente se aborrecia e sempre era bastante compreensível... mas, a sua agradável família postiça costumava testar a sua quase infinita paciência.

–– Combinei de ir à livraria do shopping com uma garota da escola. Não vou levar nem duas horas lá, mãe.

A mãe se debruçou sobre o encosto do sofá, encarando o filho com severidade.

–– Eu vou fingir que acredito em você, Enzo, mas vou lhe avisando: nada de chegar tarde; nada de álcool; nada de drogas! E, principalmente: nada de filhos! Se vai sair pra namorar, tenha certeza de que tem um preservativo na sua carteira! Eu não vou me cansar de avisar isso pra você e sua irmã! Que Deus me perdoe, mas se um dia um de vocês aparecer aqui com criança, vão se virar por conta própria pra se sustentarem! Agora vá, garoto! Te quero em casa antes das oito!

Embora o discurso fosse sempre o mesmo nos últimos dois anos, Enzo ainda não perdeu a capacidade de se aterrar com tamanha falta de sensibilidade.

Com um sorriso irônico, replicou.

–– Não se preocupe comigo, mas saiba que você vai traumatizar a sua filha com isso! Daqui há alguns anos, não vá se queixar de que ela nunca lhe dê netos! Existem formas mais inteligentes de se educar os filhos, senhora!

Não esperou por uma tréplica. Saiu e bateu a porta, passando em passos largos pelo calçamento do quintal e pulou o murinho na preguiça de ter que abrir o portão.

Por pouco não caiu sobre a irmã que estava sentada na calçada com as amigas, todas com livros, cadernos e agendas espalhadas pelo chão.

As meninas gritaram com a aparição repentina de Enzo.

–– Enzo! Você quer matar a gente?! Eu vou contar pro papai que você continua pulando o muro ao invés de sair pelo portão feito gente! – Fabiana gritou estridente. Era a irmã caçula de Enzo, cinco anos mais jovem que ele.

–– Hoje não é o meu dia! – Enzo virou-se aborrecido para a irmã, lançando na direção dela e das amiguinhas um olhar letal que havia aprendido com seu melhor amigo.

Não fazia o seu estilo, mas tinha que concordar que surtia bastante efeito.

– Cuide de si, pirralha! Se ficar me enchendo, o dia que arrumar um namorado, eu serei o guarda-virgindade mais irritante deste mundo! Fica na tua, estudando e quietinha!

Tanto Fabiana quanto as outras três meninas ficaram caladas e acuadas, não se atrevendo sequer a respirar.

~*~

O casalzinho caminhava pelo shopping.

Manu, uma negra de cabelos encaracolados, não parava de falar um instante, a ponto de fazer Enzo se arrepender de ter aceito o convite de sair com ela.

Hybrida - Asas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora