SPILLED BLOOD [1]

• Capítulo Vinte-Nove - Oficialmente

• ARIANA GRANDE •
— Califórnia, Estados Unidos.

O meu jantar com o Justin estava armado, nós estávamos sentados naquela toalha de mesa forrada no chão sob as estrelas.

A comida escolhida por mim estava uma delícia, nossas bebidas geladas e as sobremesas - ainda intocadas - estavam belíssimas.

Mas nada fazia com que eu me sentisse bem na presença de Justin depois de tudo o que Chaz me disse sobre ele.

— Você está bem? — Justin me analisa. — Você está muito quieta.

— Estou sim. — Tento sorrir.

Justin suspira pesado.

— É sério, Ariana. — Ele fala com calma. — Achei que tivéssemos dando um tempo nas brigas e vivendo uma trégua, mas isso não vai funcionar se você não me dizer o que está acontecendo.

— Não sei do que você está falando. — Eu bebo um pouco do meu vinho.

Onde eu aprendi a ser tão cínica?

— Você estava animada com esse piquenique, mas desde que chegamos aqui você mal olhou na minha cara e sinceramente, eu não faço ideia do que eu fiz de errado. — Ele suspira.

Eu poderia mesmo contar a ele tudo o que o Chaz me disse, despejar nele todas as minhas frustrações por causa das malditas mentiras dele, mas o que isso tudo causaria ao meu amigo?

Tudo o que eu precisava era de uma resposta boa o suficiente para eu estar distante dele de uma hora para outra.

— Você quer a verdade? — Eu o olho com raiva. — A verdade é que temos uma trégua, mas isso funciona apenas para você!

— O que você quer dizer? — Ele parece perdido no que eu estou dizendo.

Nem eu sei direito o que eu quero dizer.

— Você tem ideia de que você quer que a nossa relação funcione, mas eu não sei nada sobre você? — Eu praticamente cuspo as palavras. — E enquanto isso você tem um arquivo sobre mim.

— Ariana...

Eu não deixo ele falar.

— Você quer saber tudo de mim, mas não deixa eu te conhecer nenhum pouco sequer. — Eu o acuso. — Você quer que eu confie e acredite em você quando você não faz o mesmo por mim.

— O que você quer saber? — Ele me olha nos olhos. — Pode me perguntar qualquer coisa que eu vou responder.

Seu tom era calmo e isso me fez parar de falar.

Eu estava praticamente surtando com ele por causa do que o Chaz me disse, mas ele agora parece disposto a confiar em mim.

— Até sobre a sua infância? — Eu pergunto.

Se ele me negar isso, é porque isso tudo é um jogo, ele não confia mesmo em mim, apenas espera que eu esteja nua em sua cama.

— Acho que você merece um voto de confiança meu. — Ele tenta sorrir. — Então sim, pode me perguntar sobre isso.

— O que aconteceu com você de tão terrível na sua infância, Justin? — Eu pergunto a ele. — Que faz com que você odeie que alguém toque nesse assunto.

— Eu odeio lembrar da minha infância porque ela foi perfeita, Ariana, ao contrário de tudo desprezível que me aconteceu depois. — Ele me olha nos olhos, eu sequer sei definir o que eu vejo nele agora. — Minha mãe era incrível, era a melhor pessoa do mundo.

Eu estou calada, um pouco surpresa por ele ter dito que a vida dele era perfeita, mas espero que ele continue me contando tudo.

— Ela conseguia tornar o mundo melhor, não importava o quanto ele fosse feio. — Justin sorri, de lembrando dela aparentemente. — Jeremy vivia dizendo que ela estava me criando errado, ele tentava me mostrar as coisas horríveis que existiam, mas ela me protegia de tudo, inclusive dele.

Meus olhos estão cheios de lágrimas, ele fala com sentimentos quando se trata dela e agora eu me sinto arrependida por ter praticamente o obrigado a me contar sobre isso.

— Justin, você não precisa..

Ele me interrompe.

Acho que ele passou tempo demais calado sobre esse assunto, talvez agora que ele começou a se abrir, talvez ele precise disso.

— Eu te contei que sempre fui um líder nato, minha mãe me dizia que não tinha problema roubar docinhos das festas, organizar expedições no meu bairro para encontrar cachorrinhos de rua para dar um lar para eles. — Ele sorri, seus olhos brilham. — Ela me deixava organizar os lanches compartilhados na escola, fazia bolo para que eu também ajudasse, ela era um anjo.

Ela parecia mesmo incrível.

— Mas então ela se foi, a minha casa pegou fogo e tudo o que eu me lembro foi do meu pai me arrancando da cama. — Ele olha para o chão. — Minha mãe morreu no quarto deles, Jeremy foi baleado e Zokov saiu ileso enquanto alguns de seus homens foram detidos pelo pessoal do meu pai.

Eu engoli seco.

Essa história se parecia comigo, talvez seja por isso que o símbolo da família Zokov seja fogo, porque é assim que eles matam seus inimigos, queimando-os.

Minha mãe também morreu desse jeito.

— Jeremy precisou de muito tempo para arrumar todos os danos que Zokov nos deixou, ele lidou com o luto se afogando cada vez mais em missões enquanto eu tentava crescer ao meu modo, sem ninguém. — Justin funga e isso me leva a crer que ele está segurando o choro enquanto eu estou chorando livremente. — Foi a época em que eu me revoltei, com o passar do tempo as minhas brincadeiras deixaram de ser inocentes e tudo passou a ser sempre para mostrar que eu tinha o poder.

— Como tudo o que vocês fizeram no carro do professor, você queria mostrar que não seguia regras. — Eu relembro algo que ele já me contou e ele balança a cabeça assentindo.

— Fui parar no reformatório e tudo lá pareceu piorar, porque quando eu apanhei de garotos que não me conheciam e não se importavam nenhum pouco com tudo o que eu já havia passado, eu aprendi que as pessoas são ruins e que eu tinha que ser poderoso se quisesse fazer com que elas pagassem. — Ele suspira. — Não aprendi boas lições naquele lugar, só aprendi a ser pior.

— Mas seu pai te tirou de lá. — Eu tento conter as minhas lágrimas.

Eu estou com um misto de sentimentos que eu sequer entendo.

Só queria poder pegar esse Justin criança/adolescente no colo e dizer a ele que tudo ficaria bem.

— Jeremy me tirou de lá porque isso era necessário e não porque ele me amava ou se importava comigo, Ariana. — Justin ri, sem humor. — Ele achou que precisava de um herdeiro, um soldado perfeito e então foi por isso que ele me tirou daquele buraco junto com os meninos, porque ele queria me treinar para ser uma versão melhor dele e que eu tivesse uma equipe tão foda quanto a dele foi um dia.

Jeremy era oficialmente um filha da puta.

— Justin, eu...

Ele não me deixa falar.

— Eu ainda não terminei. — Me olha nos olhos.

Onde essa história termina?