Fantasmas

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***Bryan

Abri os olhos lentamente e notei que já era noite lá fora. Sentei-me na cama e fiquei olhando através das janelas àquela paisagem gélida e silenciosa.

Depois da visita dos policiais, eu tomei um banho e após muita insistência de minha mãe, resolvi me deitar um pouco.

Pregar o olho foi um grande sacrifício, eu não conseguia tirar Cris de minha cabeça em nenhum momento.

Depois de muito lutar, então consegui pegar no sono... Eu nem imaginava o quanto estava cansado.

Óbvio que antes de eu me deitar, dona Vallentina me encheu de perguntas. Ela queria muito saber sobre o que eu conversei com o investigador assim que ela abandonou a sala... Mas eu não podia revelar a verdade a ela.

Era mais do que óbvio que, se ele soubesse que eu desconfiava que sua irmã tinha alguma parcela de culpa na tentativa de assassinato do Cristopher, ela surtaria. Jamais compreenderia eu ter colocado o nome de tia Addora na linha de investigação. As duas eram muito ligadas, apesar de muitas vezes discutirem por motivos fúteis.

Naquele momento, por algum motivo pensei na faculdade. Eu havia faltado naquele dia. E eu não estava com a menor vontade de comparecer às aulas no dia posterior... Estava sem cabeça para outras coisas.

Também ainda havia o trabalho para dar continuidade com Esteban. Eu queria honrar minhas palavras à Cris, e me tornar um cara melhor...

Não podia vacilar com o meu colega de classe Rosinha, e deixá-lo fazer o trabalho sozinho. Precisava também dá-lo uma satisfação do por que eu ainda não havia marcado de continuarmos a fazer o nosso trabalho.

Levantei-me da cama e apanhei o celular em cima da mesinha de cabeceira. A seguir, caminhei até a janela e procurei o contato do garoto no meu aplicativo de mensagens. Assim que encontrei, enviei a seguinte mensagem:

"Não fui à faculdade hoje pois estou com uns problemas. E quanto ao nosso trabalho, assim que eu estiver com os pensamentos mais em ordem a gente continua, pode ser? Foi mal!"

Eu enviei a mensagem e continuei a olhar através da janela. A noite estava tão escura... Também parecia estar bastante frio lá fora. Flocos de neve espaços pairavam pelo ar, sendo levados pela brisa noturna.

Mais uma vez meus fantasmas pareciam querer me atordoar... Comecei a pensar em tudo que já havia passado até aquele presente momento de minha vida... As confusões, os medos, o problema de saúde que me assolava e a qualquer momento poderia ceifar a minha vida... Lembrei-me também, do dia em que Cris confessou seus verdadeiros sentimentos por mim e eu agi de forma tão medíocre e acabei nos afastando.

Apesar de eu ter me aberto com minha mãe sobre a minha verdadeira sexualidade, eu ainda não me aceitava de fato... Algo em mim, me impedia de aceitar quem eu era. Eu estava fazendo um duro trabalho, mas aquele sentimento de mediocridade insistia em me atormentar.

Vivi minha vida inteira tentando ser alguém que eu sabia que, jamais conseguiria ser... Fiz tudo por medo. Medo de rejeição... Medo dos pensamentos, julgamentos e olhares tortos da sociedade que vive ditando padrões. Isso era o que mais me doía: não me encaixar em lugar nenhum, eu sentia que precisava ser aceito, quando na verdade, eu é quem precisava me aceitar antes de qualquer coisa... Porém, era uma tarefa dolorosa para mim, pois eu não conseguia lidar com o fato de que eu era gay.

Só quem passa pela pressão de atender às expectativas das pessoas, é que sabe realmente como é difícil se aceitar da forma que tu é.

Eu sabia que eu ainda teria um longo caminho a percorrer pela frente. Sabia que se eu fosse forte o suficiente, um dia eu conseguiria me aceitar como eu era... Mas para isso, eu precisava de duas coisas muito importantes: sobreviver ao meu problema de saúde e ter Cristopher ao meu lado.

B and E [Livro 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora