Bryan, o Imprevisível VII

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***Esteban

Ainda de pé e, meio que sem reação, eu continuava a encarar o tal detetive Markson face a face. O homem também não parava de medir-me de cima a baixo. O silêncio no interior da cafeteria fazia com que toda aquela cena se tornasse ainda mais tensa.

Eu continuava a me perguntar mentalmente: o que um detetive tão próximo à poderosa família Greggio Lancaster poderia querer comigo?

Eu tentava imaginar que tudo que Ralph e Benjamin haviam dito, pudesse ser verdade. Talvez, realmente Bryan tivesse encarregado o homem de realizar alguma tarefa, já que o garoto, com certeza, não faria questão de me avisar nada de antemão.

Certamente meu amigo, que naquele momento encontrava-se em coma na clínica, não quis me dizer que contrataria alguém para investigar algo ao meu respeito, pois eu seria contra. Nunca que eu permitiria que aquele garoto pagasse algo para mim.

Quebrando totalmente aquele silêncio inicial, que havia se instalado e teimava em se manter presente, ouvi a voz de Ralph, dirigindo-se ao homem. Confesso que, a princípio, ele pareceu um tanto rude:

- E então... Por que o senhor pediu que Esteban viesse até aqui?! O que quer com ele?!

- Calma rapaz... - Respondeu o homem, fitando-o, enquanto voltava a se sentar e fazia sinal com a mão por cima da mesa, mostrando as duas cadeiras à sua frente. - Não precisam se preocupar. Não sou nenhum inimigo de vocês, muito pelo contrário... Sentem-se, por gentileza... Vamos conversar, pois não tenho muito tempo.

Eu e meu namorado nos entreolhamos. Ele arqueou a sobrancelha direita e assentiu com a cabeça. A seguir, eu me sentei. Logo após, Ralph foi quem se acomodou ao meu lado.

O senhor à nossa frente, pousou os antebraços sobre a mesa, e nos encarou com certa seriedade, antes de perguntar:

- Gostariam de beber ou comer alguma coisa? Podem ficar a vontade.

- Não, senhor! - Recusei de imediato. Não tinha estômago pra nada naquele momento. - Estamos bem.

- Valeu mesmo assim. - Completou Ralph logo a seguir. - Mas agradeceríamos muito mais se fosse direto ao ponto.

O homem pegou um óculos de leitura que estava sobre a pasta preta na mesa. Em seguida, ele colocou pacientemente o mesmo no rosto, enquanto falava calmante olhando para mim:

- Então o senhor que é o jovem chamado Esteban, não é isso mesmo?

- Exatamente. - Confirmei.

- É amigo do jovem Bryan Greggio Lancaster... Interessante.

- Cara, dá pra parar de enrolar?! Não temos todo tempo do mundo! - Meu namorado estava tão ansioso quanto eu para descobrir o que o homem queria comigo. - Não foi o senhor mesmo quem disse há uns minutos atrás, que não tinha muito tempo? Por que raios está enrolando agora?!

- Perdão, meu jovem... - Desculpou-se o homem, fazendo uma pausa a seguir. - Só queria ter certeza de que estou falando com a pessoa certa. Afinal, não conhecia esse jovem pessoalmente.

- Beleza! - Ralph bufou enquanto revirava os olhos.

- Mas, enfim... - Interrompi a conversa dos dois, que já pareciam ter começado um certo estranhamento. - Pode, por favor, me dizer o que quer comigo? Não posso ficar muito tempo longe da clínica... Meu amigo vai precisar de mim por perto logo!

- Clínica???!!! - Senhor Markson arregalou os olhos enquanto franzia a testa.

- O senhor não está sabendo???!!! - Questionei, olhando-o com desconfiança. - Que espécie de amigo da família é você, que nem sequer sabia que o Bryan está internado?... E em coma?!

- Nossa!!! É tão grave assim???!!! Então por isso não consegui contatá-lo. Realmente tomei a decisão certa em te procurar!

- Infelizmente é muito grave! - Intrometeu-se, Ralph. - Muito me admira o senhor não saber, já que se diz um amigo de longa data da família do moleque!

O homem contorceu os lábios e ajeitou o óculos antes de falar:

- É que não moro na cidade. Sempre tive negócios com o pai do jovem Bryan. Eu era bem mais presente quando meu amigo era vivo. Depois da morte dele, eu só tive contato com a família por telefone ou e-mail. Sempre que eles precisavam de algum trabalho meu, essas eram as formas que eles me contatavam.

- Hum... - Resmungou Ralph.

- Entendi. - Falei.

- Mas, enfim... - Continuou senhor Markson. - Estou aqui hoje, a pedido do jovem Bryan... Ele queria que eu investigasse algumas coisas para ele... Ou melhor, algumas pessoas.

Meu namorado me deu uma cotovelada de leve do lado da costela, em seguida, inclinou-se para a frente, debruçando-se sobre a mesa para encarar melhor o senhor à nossa frente:

- Quando ele te pediu isso?!

- Alguns dias atrás... Ele me pediu respostas rápidas. - Respondeu o homem calmamente. - Disse que era assunto que, talvez fosse de vida ou morte. E como eu faço o possível para conseguir respostas rápidas, acabei descobrindo algumas coisas que achei bastante perturbadoras. Pra falar a verdade... Sinto pena da pobre Vallentina.

Ao ouvir senhor Markson falar daquele jeito, sem demonstrar qualquer outro sentimento que não fosse lamento, confesso que senti um frio na barriga. Só me perguntava o que ele queria dizer com "pena de dona Vallentina".

- Já pode nos dizer o que descobriu então?! - Pressionou-o Ralph. - Quem e o que, exatamente, o Bryan pediu que tu investigasse?!

O homem pigarreou, desviou o olhar de nós para a pasta sobre a mesa e, a abriu em seguida.

Depois de abrir na primeira página, ele virou o primeiro documento para nós e empurrou para a nossa direção, deslizando a pasta sobre a mesa de madeira.

Quando eu comecei a correr os olhos sobre cada linha, me surpreedi ao avistar alguns nomes familiares. Nomes como os de Addora, Debby, Tobias e Tristan. Também haviam alguns outros nomes, desconhecidos para mim. Mas o último nome da lista, foi o que me deixou mais chocado quando li, pois tratava-se do nome do investigador Summers.

- O quê???!!! - Olhei para o senhor à nossa frente. Eu estava bastante descrente.

Ralph, vendo que eu não estava em condições de questionar qualquer coisa naquele momento, pois havia pedido a voz, franziu o cenho e perguntou ao homem:

- E por que, exatamente, o Bryan pediu que tu investigasse essas pessoas?!

O homem tirou a mão da pasta, voltou a reclinar o corpo para trás, ajeitou a gravata, e respondeu por fim:

- O garoto estava desconfiado que eles tinham algum tipo de ligação. E que também, alguém deles poderia estar envolvido com tudo que estava acontecendo com vocês.

- E... Ele estava certo?! - Ralph hesitou um pouco ao perguntar. Parecia estar me preservando de ouvir algo ruim.

- Garotos... - Ele começou a falar mais baixo do que já estava, quase sussurrando. - O que vocês mais precisam saber é: a briga aqui é com cachorro grande! Têm mesmo certeza que estão prontos para enfrentar todas as consequências?!

- Do que o senhor está falando?! - Eu estava começando a ficar nervoso. Não conseguia mais esperar para ouvir a verdade. - Que consequências?! Como assim, briga de cachorro grande???!!!

Senhor Markson voltou a inclinar-se sobre a mesa e folheou a primeira página da pasta para que eu e Ralph pudéssemos ver a seguinte. Na segunda página, estavam estampadas duas fotos... As fotos de Addora e do investigador Summers.

- Eles! - O homem bateu com o polegar sobre a página. - Tudo começou com eles!

B and E [Livro 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora