B and E [Livro 3]

Emboscada

***Bryan

Eu caminhava pela noite fria e silenciosa. Tentava colocar os meus pensamentos em ordem. Queria alcançar uma paz de espírito que eu sequer sabia se existia.

Estava a alguns quarteirões da minha casa. Já havia dado várias voltas, no intuito de não enlouquecer... Precisava aliviar toda a minha tenção da discussão com tia Addora e minha mãe.

Eu já me sentia muito diferente, qualquer desentendimento com dona Vallentina já me abalava profundamente, acho até que estava ficando mais sensível do que gostaria.

Para mim, evitar qualquer atrito com a mulher, já seria um grande ganho... Por esta razão, resolvi sair de casa e fazer uma caminhada noturna. Queria evitar mais aborrecimentos.

Não me dei conta de que várias horas já haviam se passado. Quando dei por mim, já estava em uma praça deserta... A mesma ficava não muito longe do campus e também de onde eu morava.

Sentei em um banco de concreto que se encontrava úmido e gelado, o mesmo estava localizado abaixo de uma árvore não muito grande, que estava praticamente sem folhas. Já era possível notar que aquele frio que vinha castigando WorldHidden, estava mudando todo o seu cenário. As vegetações já não eram as mesmas que antes, pareciam estar morrendo lentamente.

A cidade sempre teve um clima instável, a maior parte do ano sempre fazia mais frio e nevava bastante, mas de alguns dias para os atuais, as nevascas pareciam estar se tornando cada vez mais frequentes, o sol quase não aparecia mais...

Tentando me aquecer daquele frio que castigava naquela madrugada, enfiei minhas mãos nos bolsos do grosso casaco que eu vestia, senti meu celular com a mão direita, segurei-o, e comecei a apertá-lo, enquanto pensava na vida.

Depois de alguns minutos imerso em meus pensamentos, apanhei o aparelho e o ergui até à altura do rosto. Comecei então a deslizar o polegar pela tela, até que um sentimento incontrolável de conversar com alguém me invadiu por completo.

Carência... Era um dos sentimentos que eu tinha mais medo. Acho que eu nunca havia sentido tal coisa, sempre havia sido tão seguro de mim, sentia como se não precisasse ter ninguém por perto... Mas aquilo, infelizmente, parecia estar mudando completamente.

Depois que Cristopher me propôs tentar uma mudança, depois que ele se declarou para mim naquele galpão, depois que ele sofreu a brutal tentativa de homicídio, eu comecei a perceber que eu precisava sim de ter pessoas por perto, mais necessariamente, ele... Como eu sentia falta de Cris, com certeza eu daria tudo para tê-lo ali do meu lado naquele momento tão difícil pelo qual eu estava passando.

Mas, infelizmente, não é o que o destino havia planejado. Depois de tamanha desgraça que aconteceu com meu amigo, senti-me me aproximar cada vez mais da pessoa que eu mais me lembrava de ter odiado durante a vida: Esteban.

Nem eu mesmo sabia explicar o porque de tal comportamento tão agressivo com aquele garoto tão gentil. Sim... Eu havia sido um idiota durante muito tempo com ele, mas agora, eu percebia o quanto estava errado. Talvez aquela aproximação com o garoto, tivesse algum propósito a mais.

Enfim, após tantos anos, eu estava começando a deixar meu orgulho de lado. Estava começando a me abrir verdadeiramente para as pessoas que me transmitiam confiança... Era uma tarefa difícil para alguém como eu, cercado por tantos traumas e inseguranças, me abrir para os outros... Mas algo me fazia querer tentar com o Rosinha... Algo me dizia que aquele garoto valia à pena.

Procurei o contato de Esteban na minha agenda e troquei algumas mensagens com o mesmo. Eu sabia que já era super fora de hora, mas sem Cris por perto, a única pessoa que eu tinha para conversar e tentar ser eu mesmo, era o Rosinha... Era o único que eu sentia que podia confiar.