Quase Completo

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***Bryan

Passei a noite totalmente em claro. Não consegui pregar o olho nem por um instante sequer.

Eu sentia como se alguma coisa muito ruim estivesse acontecendo... Me sentia impotente, sem poder ajudar. Tudo que eu ansiava, era que alguém atravessasse pela porta daquele quarto me trazendo boas notícias.

Eu tinha um forte pressentimento de que Addora estava com Esteban. Eu estava torcendo para que Ralph e os outros soubessem o que fazer, e que pudessem encontrar o Rosinha logo e, de preferência, a salvo... Antes que fosse tarde demais.

Apesar de toda aquela minha angústia, eu já me sentia muito melhor fisicamente. Eu só estava esperando a autorização de algum médico, para poder me levantar daquela cama sozinho. Eu precisava me sentir útil novamente... Precisava me sentir livre mais uma vez.

A porta do quarto foi aberta. Dona Vallentina entrou quase que sorrateiramente. Tinha um olhar de desânimo no rosto. Ela continuava abatida, porém, já havia voltado a se arrumar como antes.

Ela caminhou lentamente até o sofá, que ficava próximo aos pés da cama, largou a bolsa que carregava a tiracolo sobre o mesmo, virou-se para mim e disse bastante desanimada:

- Oi, filho!

Minha única reação, foi franzir o cenho. A mirei com todo o meu olhar de indignação. Eu não acreditava que após todo aquele tempo sumida, ela tivesse a audácia de chegar e dizer apenas um "oi, filho". O que diabos ela estava pensando?!

- "Oi, filho"???!!! É só o que tem a me dizer, mulher? Tu é inacreditável!!! - Reclamei.

- O que mais esperava que eu dissesse?! - Perguntou ela surpresa.

- Tu some pelo maior tempão, me deixa aqui nesse lugar sozinho, e agora aparece como se nada tivesse acontecido, dizendo só um "oi filho"?! - Revoltei-me.

- Querido, eu precisava esclarecer toda aquela história que você me contou... - Ela começou a se explicar quase atropelando as palavras. - Eu precisava ouvir de minha irmã a versão dela. Eu não consigo julgá-la sem ouvir o seu lado... Ela é minha irmã, tente me entender, por favor...

- Tua irmã?! - Eu balancei a cabeça negativamente. - Eu sei que ela é tua irmã! Mas tu ficar tentando fechar os olhos para a verdade, recusando-se a enxergar a realidade não vai mudar nada do que ela fez, mamãe, entenda isso logo de uma vez! Pessoas foram mortas por ela, pessoas estão correndo risco se cruzarem o caminho dela!

- Para com isso, Bryan! - A mulher deu um berro.

Silêncio... Foi o que predominou no ambiente nos instantes que se seguiram. Eu estava com meus olhos arregalados sem desviá-los de minha mãe. Era inacreditável a forma como ela tentava diminuir tudo que a irmã psicopata havia feito. Eu não podia deixar que dona Vallentina continuasse cega de amor por uma irmã que, talvez, nunca tivesse sentido o mesmo por ela.

Vi o exato momento em que uma lágrima solitária escapou de seu olho esquerdo e percorreu a lateral do seu rosto. Imediatamente, a mulher virou-se de costas e caminhou até à janela... Agora ela encarava a paisagem lá fora.

Eu não suportava ver minha mãe sofrendo. Mesmo sabendo o quanto aquela história estava a magoando, eu não podia mais recuar.

Dei um profundo suspiro, e perguntei calmamente em seguida:

- Posso te fazer uma pergunta?

Sem emitir qualquer som, ela apenas assentiu com a cabeça. Então eu continuei:

- E por um acaso conseguiu ouvir a versão da sua irmã? Conseguiu conversar com ela?

- Não. - Ela respondeu bem baixinho. - Eu não disse à enfermeira por telefone que sua tia estava fora? Ela não lhe passou o recado?

B and E [Livro 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora