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***Bryan

Logo que entrei no meu quarto, a primeira coisa que fiz foi jogar a mochila sobre a cama e depois me trancar no banheiro. Nem esperei que Cristopher chegasse ao local.

Abri a torneira da pia e comecei a lavar o meu rosto, o esfregando com certa brutalidade. Obviamente eu estava descontando minha própria raiva sobre mim.

Depois de me torturar por alguns minutos em silêncio, fechei o fluxo da água, apoiei minhas duas mãos sobre a bancada, e me encarei no espelho.

Meu reflexo mostrava minha face molhada, vermelha e assustada. A água escorria por todo o meu rosto, se juntando abaixo do meu queixo, onde se formavam gotas que pingavam. Meus olhos claros começavam a adquirir uma cor avermelhada, assim como meu rosto, eu sentia ódio... Vontade de chorar... Mas não o faria. Eu não me entregaria.

Passei tanto tempo odiando a mim mesmo, que aquele seria apenas mais um episódio comum. Eu sairia daquele momento turbulento sem dar o meu braço a torcer... Eu precisava continuar sendo forte.

Embora eu tivesse aceitado o desafio de Cristopher para iniciar uma drástica mudança em meu comportamento, eu não deixaria em hipótese alguma que aquilo me transformasse em um manteiga derretida. A única coisa que ainda me restava para preservar, era minha pose de durão. A pose que fazia com que as outras pessoas me respeitassem, ou temessem.

Me fazendo emergir de meu pequeno e atormentador inferno pessoal, ouvi batidas na porta do banheiro e a voz de Cris a me chamar:

- Bryan! Tu vai demorar aí ainda? A tia já gritou a gente lá de baixo!

- Já vou sair! - Gritei.

Apanhei a tolha de rosto e sequei toda água da minha face. A seguir, ajeitei o meu cabelo que estava um pouco bagunçado, depois abri a porta e saí do banheiro passando por Cristopher.

- Vai lavar as mãos pra gente comer. Vou te esperar lá embaixo com a minha mãe. - Falei seco.

- Beleza. - O rapaz imediatamente entrou no banheiro.

***

Ao chegar na sala de jantar, o almoço já estava servido. Minha mãe estava sentada em uma das poltronas na cabeceira da mesa. Ela abriu um largo sorriso e questionou:

- Demorou, meu filho. Aconteceu alguma coisa?

  - Não. - Respondi enquanto me acomodava em uma das poltronas do lado esquerdo da mesa. - Só demorei um pouco mais do que deveria no banheiro.

- E o Cris?

- Ele já vem. Está lavando as mãos.

- Que ótimo. - Dona Vallentina, sempre mantinha aquele lindo sorriso iluminado no rosto.

Aquela qualidade de minha mãe era admirável. Eu Nunca havia dito a ela, mas o que eu mais amava nela era o jeito como seu sorriso iluminava todos ao seu redor. Parecia um sol particular.

Não demorou muito até que Cristopher aparecesse. O rapaz parecia estar super bem humorado. Mas uma coisa que não dava para passar despercebida nele era: por mais que ele sorrisse, seus olhos sempre tinham o mesmo aspecto triste. Era uma qualidade ímpar demais. Como eu eu podia ter deixado de reparar naquilo algum dia? E por que eu estava voltando a reparar em cada detalhe de Cris depois do incidente que me ocorreu? Eu tinha medo de descobrir a resposta para qualquer pergunta relacionada a ele.

- E então? O que tem pra comer? - O rapaz perguntou para minha mãe, no momento em que arrastava a poltrona para se sentar ao meu lado.

- Hoje eu pedi para a cozinheira fazer coisas leves. - Explicava minha mãe com todo seu bom humor. - Uma saladinha bem colorida, arroz integral e peixe grelhado, você gosta?

B and E [Livro 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora