Estranhamento

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***Bryan

Eu estava em meu quarto, pensando em tudo que havia acontecido mais cedo com a minha tia. Aquele nosso enfrentamento, claramente estava começando a me afetar.

Eu caminhava de um lado para o outro totalmente inquieto. A voz de Addora ecoava na minha cabeça, eu não conseguia esquecer o tom de ameaça que ela usou para falar comigo.

Minhas mãos estavam suando frias, meu coração estava um pouco acelerado, minha respiração estava pesada. Eu precisava encontrar um jeito de me acalmar, antes que desse defeito de vez. Ainda era cedo para eu ser carta fora do baralho... Aquele jogo estava começando a ficar ainda mais importante.

Caminhei até à janela do quarto e mirei a noite fria e escura lá fora. Apanhei o celular no meu bolso, e logo a seguir, disquei um número e fiz uma importante chamada.

A ligação chamou algumas vezes insistentemente antes de ser atendida. Do outro lado da linha, uma voz grave de alguém que era de total confiança de minha família, atendeu a ligação:

Ele: Alô!

Eu: Oi, cara... É o Bryan Greggio Lancaster! Tudo bem contigo?

Ele: Ah! Oi, rapazinho! Como vão as coisas?!

Eu: Vão bem, eu acho!

Ele: Sério?! Se estivessem mesmo bem como acabou de dizer, não teria me ligado! Fala... O que foi que aconteceu?!

Eu: Cara, eu preciso de um favorzão teu! É caso de vida ou morte! Acha que tem um tempo na tua agenda pra mim?! Sei que tu é mega ocupado!

Ele: Mas é claro! Como eu poderia recusar um pedido do filho de um velho cliente e amigo meu!?

Eu: Então... Eu prometo que vou te pagar muito bem! Mas eu preciso de resultados o quanto antes, acha que consegue?!

Ele: Bem... Acho que você sabe que sou um dos melhores do país, né? Resolvo casos em tempo recorde!

Eu: É exatamente por isso que estou entrando em contato contigo! Meu pai sempre confiou muito no teu trabalho. Eu era muito jovem, lembro pouco, mas sempre ouvia ele dizer ótimas coisas sobre o seu trabalho.

Ele: Pois então... Seu pai sempre confiava em mim quando precisava. Pode me passar as informações do que precisa?!

Eu: Vou te mandar um e-mail assim que desligar, com nomes, endereços e suspeitas que eu tenho... Quero que investigue essas pessoas e o motivo de suas ligações. Mas preciso de respostas urgentes, vidas estão em jogo... Tenho certeza que se eu demorar a provar minhas suspeitas, algo de muito ruim pode acontecer!

Ele: Então faça isso! Começarei a investigar ainda amanhã. Vou fazer o possível para que tenha as suas respostas, garoto!

Eu: Valeu! Mas espera... Posso te pedir outro favor?

Ele: Mas é claro!

Eu: Não comente nada com minha mãe ou minha tia que eu entrei em contato e te pedi essa investigação! Preciso que tudo ocorra em sigilo absoluto!

Ele: Pode deixar! Sigilo é meu lema! Somente devo satisfações à você, que é quem contratou os meus serviços...! Pode ficar tranquilo quanto a isso!

Eu: Valeu! Mas... Tem outra coisa também...!

Ele: O que mais seria?!

Eu: Também vou te mandar no e-mail, o nome e o número de telefone de uma pessoa que estou ajudando, ele se chama Esteban... Quero que, se por um acaso acontecer alguma coisa comigo, tu entre em contato com ele e entregue-o todo o dossiê da investigação.

Ele: Garoto, está mexendo com coisa muito perigosa pelo visto! Estou enganado?

Eu: Não sei... É exatamente o quão perigosa é essa história, que eu tô tentando descobrir!

Ele: Espero que não se meta em problemas e que fique bem... Mas pode ter certeza que farei o meu melhor para ajudá-lo! Quanto ao dossiê, quando eu tiver alguma resposta eu entro em contato... Ou como você disse: se te acontecer algo, eu entrego a esse outro rapaz que acabou de falar!

Eu: Então estamos combinados, por hora! Tenho que ir agora...! Mas já vou te mandar um e-mail com tudo que precisa saber para iniciar as investigações! Também vou fazer a transferência da grana assim que me enviar o valor, pode ser por mensagem.

Ele: Okay! Vou ficar esperando!

Eu: Boa noite!

Ele: Boa!

Encerrei a chamada imediatamente após nos despedirmos. Eu havia acabado de colocar o caso nas mãos de um antigo cara de confiança do meu pai. um dos melhores detetives particulares que se tinha notícia no país.

Abri meu aplicativo de e-mail no celular, e comecei a digitar tudo que precisava: incluindo nomes, endereços, suspeitas... Também adicionei o número de telefone e nome de Esteban... Por fim, anexei um vídeo... Aquele vídeo!

Cliquei em enviar, bloqueei a tela do telefone e voltei a gurdá-lo em meu bolso.

Dei um profundo suspiro tentando aliviar toda a tensão que sentia pesar sobre meus ombros... Foi quando ouvi a porta de meu quarto ser aberta bruscamente e me virei um tanto assustado. Dei de cara com dona Vallentina entrando no quarto bastante exaltada:

- Você me deve explicações, rapazinho! Não pense que vai se safar dessa conversa!!! Pode me explicar que raios de cena foi aquela, com sua tia, no jantar???!!! Ela foi embora super contrariada!!!

- Além de ter tirado as minhas chaves, agora vai entrar sem bater???!!! - Desviei do assunto, a princípio.

Minha mãe parou na minha frente cruzando os braços e revirou os olhos indignada. Sua testa estava franzida e ela quase fazia um bico:

- Não venha querer mudar de assunto, Bryan! Me responda: o que está acontecendo com vocês?! Não estou conseguindo entender a razão de tanto estranhamento!!!

- Mãe, na boa... Não tô afim de discussão com a senhora. Vamos evitar esse assunto por enquanto? - Pedi.

- Você maltrata sua tia sem eu saber exatamente o motivo, e ainda me tem a pachorra de pedir que eu ignore o assunto?! - Ela se revoltou ainda mais.

- Olha... - Me afastei um pouco dela e sentei-me na cama. - Eu sei que tu tem seus motivos para achar que eu estou errado em agir assim... Perdão, mãe. Mas é que não consigo ver certas coisas acontecendo ao meu redor, e fingir que nada está acontecendo.

- Talvez se me dissesse o que, de fato, está havendo eu poderia tentar te entender melhor, meu filho. Mas você só se esquiva de mim! Só me omite as coisas! Eu me sinto uma estranha para o meu próprio filho!

- Não se sinta assim, por favor! Tu sabe como é meu jeito. - Falei cabisbaixo. Queria contar a verdade a ela, mas não podia arriscar e colocar tudo a perder. - Eu faço tudo errado mesmo... Sempre fiz! Mas agora, uma vez na vida eu tô tentando fazer algo certo, e preciso que me dê esse voto de confiança.

- Como posso confiar em você se está maltratando a minha irmã, Bryan? Você sabe o quanto ela significa pra mim!

- Então... Eu realmente lamento muito, mãe! Não posso fazer mais nada. - Levantei-me de onde estava, e comecei a caminhar em direção à porta do quarto.

- Onde pensa que vai?! Não terminamos de conversar! Você ainda não me abriu o bico, Bryan!!! - Ela voltou a gritar ainda mais alto.

Eu parei, já perto da porta, olhei para trás e falei:

- Vou dar uma volta lá fora. Preciso colocar meus pensamentos em ordem.

A seguir, me retirei do quarto imediatamente deixando dona Vallentina ainda mais contrariada aos gritos dentro do cômodo:

- Bryan Greggio Lancaster, volte aqui imediatamente!!! Eu não terminei de falar com você!!!

Não dei ouvidos, apenas continuei seguindo meu caminho em direção às escadas. Queria logo atravessar a sala de estar e sair de dentro daquela casa. Mesmo que o frio estivesse de doer lá fora, com certeza o clima estaria muito melhor do que dentro da minha casa.

B and E [Livro 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora