Semente Da Amizade

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***Esteban

Eu já estava circulando pelo campus há horas... Tinha passado pelo gramado onde minhas roupas e as de Benjamin haviam sido jogadas, e por sorte, elas ainda estavam lá. Depois de as recolher e me vestir, saí perambulando pelas dependências da faculdade com as peças de roupa do meu colega de quarto nas mãos. Eu precisava encontrá-lo.

A noite já estava começando a cair, e junto com ela aquele típico frio noturno de WorldHidden se aproximava. Eu estava com medo de que eu ou Benjamin pegássemos um resfriado e já fôssemos prejudicados antes mesmo do início das aulas.

Cheguei em uma pequena praça aos fundos do campus. Em volta de um grande canteiro central com uma árvore plantada bem no centro, haviam vários bancos e pequenas mesas de concreto. Na grande árvore localizada no canteiro, avistei Benjamin... Totalmente nu com as mãos amarradas ao redor do tronco como se estivesse a abraçando. Nas costas dele estavam escritas as palavras: eu sou um arrombado.

- Benjamin!!! - Gritei correndo na direção do rapaz.

- Esteban, é você, cara?! - Ele não conseguia olhar para trás seu rosto estava totalmente encostado no tronco que amassava uma de suas bochechas.

Assim que subi no canteiro, imediatamente comecei a soltar as cordas. O rapaz estava tremendo de frio e seus lábios já apresentavam certa palidez.

Quando terminei de desatar os nós, arremessei as cordas para longe. Benjamin, quase não se aguentou de pé. Com certo receio, por conta dele estar totalmente nu, o segurei e entreguei-o suas roupas dizendo:

- Aqui... Vista-se antes que tenha uma hipotermia.

- Valeu, meu amigo! - Ele pegou as peças de roupa rapidamente e começou a se vestir. - Eu não sei o que eu faria se não fosse você.

- Que isso! Somos colegas de quarto... Eu sabia que boa coisa aquele cara não ia fazer com você, por isso assim que consegui, eu vim te procurar.

Benjamin deu um suspiro enquanto fechava o zíper da calça, logo em seguida ele começou a vestir a camisa e me perguntou:

- E quanto a você e os outros calouros? O que aqueles outros imbecis aprontaram com vocês?

- Nos jogaram na piscina gelada, mas pra mim isso nem foi o pior... - Engoli em seco ao me lembrar da cena de mais cedo.

- Como assim, não foi o pior pra você?! Cara, é água gelada... Essa cidade é fria pra caralho! - Assim que terminou de se vestir, Benjamin me encarou com certa indignação.

- Venha... Vamos andando... - Desci do canteiro. - Precisamos tomar um banho quente, vestir roupas limpas e ir jantar.

Meu colega de quarto fez o mesmo que eu logo em seguida e começou a acompanhar os meus passos... Caminhávamos lado a lado. Ele ergueu uma das sobrancelhas e perguntou mais uma vez:

- E então? O que foi a pior parte da piscina gelada pra você?!

- Bem... - Eu olhava para os meus pés, como se contasse os passos. - É que eles já chegaram jogando todo mundo na piscina, Benjamin... E tipo... Aquela piscina é enorme e funda... E eu não sei nadar!

- Mas que filhos da mãe! Irresponsáveis do caralho!!!

- Fica calmo... Já passou. Se não fosse por um rapaz gentil ter me tirado da água, nem sei o que poderia ter me acontecido. - Expliquei pausadamente.

- Aqueles playboys são uns bundas moles, isso sim! Onde já se viu sair jogando as pessoas numa piscina assim sem ao menos saber se elas sabem nadar? - A indignação de Benjamin só parecia aumentar.

- Não liga pra eles... Acho que agora acabou, não é mesmo?! É normal esse negócio de trote quando entramos pra faculdade... Eles só estavam se divertindo e querendo demarcar território... Espero que eu não os veja novamente. - Desabafei por fim.

- Como você consegue ser tão gentil, hein? Os caras foram os maiores idiotas e tu ainda tenta amenizar as coisas. O que eles fizeram foi grave, você podia ter morrido! - Meu colega me olhou com descrença.

- Ah... Eu só tento ser bom o suficiente para com os outros. Se cada um fizesse sua parte, o mundo só melhoraria cada vez mais, não é mesmo?

Benjamin começou a rir de repente, fiquei sem entender aquela reação do rapaz. A essa altura do campeonato, nós já estávamos a meio caminho do bloco dos dormitórios... Ele passou a mão nos cabelos crespos na intenção de ajeitá-los, em seguida me olhou e disse:

- Acho engraçado o jeito como você fala, sabia?

- Como assim? - O olhei confuso.

- Às vezes você tá falando alguma coisa e no fim da frase solta um: "não é mesmo?" Só que tipo em um tom mais agudo.

- Que vergonha! Nunca tinha reparado nisso! Vou tentar controlar isso. - Falei cobrindo a boca em seguida com uma das mãos.

- Que nada... É engraçado e fofo... Não precisa mudar isso. É legal. - Ele sorriu.

- De qualquer modo acho que devo me policiar... As outras pessoas podem achar estranho. - Comecei a rir.

- E quem nesse mundo não tem um pouco de anormalidade, meu caro? O mundo seria chato demais se todos fossem tão certinhos... É como dizem: cada louco com sua mania.

- Depois eu é que sou o gentil com as pessoas... - Revirei os olhos.

- O que quer insinuar? - Perguntou o rapaz.

- Nada... É que você tá aí todo gentil, senhor Benjamin, tentando me fazer aceitar um defeito totalmente estranho meu.

- Que nada! Tô longe de ser gentil... Só sou gentil com quem merece. E algo me faz querer ser seu amigo, sabe?

- A propósito... Obrigado por ter me dado a chance de ser seu amigo. Mesmo eu sendo tão diferente dos outros... Tem pessoas que preferem manter certa distância de mim. - Fui sincero.

- Não tem nada de diferente em você, Esteban... E a propósito, já que somos colegas de quarto e eu acredito que seremos grandes amigos.. Você tem toda a liberdade pra me chamar só de Ben... Se você se sentir confortável com isso, é claro. - Ele deu de ombros.

- Obrigado... É até melhor! Seu nome é lindo, mas se eu tiver de te gritar quando algo me acontecer, quando eu terminar de pronunciar já será tarde.

- Ei, seu espertinho! Então você sabe fazer piada, é?! - Benjamin passou o braço ao redor do meu pescoço e esfregou seu punho fechado no meu couro cabeludo.

Começamos a rir. Que sensação boa eu estava sentindo... Em anos de vida, eu não me lembrava de ter tido um amigo antes. Já havia tido amigas garotas, mas do sexo masculino nenhum intimamente. Ter a amizade de Ben seria uma experiência totalmente nova pra mim.

Realmente é verídico quando dizem que nossa vida muda totalmente quando entramos pra faculdade... E já estava mais do que claro para mim, o quanto a minha estava mudando.

B and E [Livro 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora