Capítulo 2

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Hope.

A casa de Thomas Carter era enorme e revestida por uma combinação de tons pretos e cinza claro. Os móveis também eram estrategicamente oscilados entre essas cores. Observei a cara de Thomas e me indaguei em pensamentos se aquele homem havia sido capaz de fazer minuciosamente a escolha desses móveis. Não. Não era. Provavelmente deve ter tido algum tipo de ajuda. Ele, apesar de ser alguém sério e respeitoso, ao meu ver, apresentava também um certo tipo de brutalidade, provando sua incapacidade de fazer escolhas tão detalhistas e delicadas como aquelas.

Uma parte da casa era coberta por um vidros escuros completamente esfumados, tornando a visão para o lado de fora praticamente impossível. Aquele local inteiro exalava o perfume sedutor que ele usava, me deixando inebriada, e com um arrepio percorrendo todo o meu corpo. Dispensei os pensamentos involuntários quando percebi o rumo que eles estavam tomando. Me senti mal por contemplar sentimentos como aquele. No convento, cujo passei um ano após ser encontrada, sempre me ensinaram que era pecado sentir aquilo. Eu não deveria sentir desejo, e por mais que não soubesse como evitar aquela sensação, me esforçava constantemente para conseguir superá-la.

Madre Cecil sempre respeitou minha individualidade, e meu desejo de não seguir carreira como freira, e além das aulas particulares sobre várias matérias educativas, me ensinando sobre diversos assuntos que nos acercam, me mantendo ciente das notícias; como política, economia, saúde, e até mesmo, tecnologia. Apesar de não ter muito acesso ao último item citado, pois a unica tecnologia que tinha contato era um televisão velha que Madre Cecil havia conseguido através de doações.

Eu havia perdido a memória completamente, mas ainda tinha noções básicas de algumas coisas, como os tipos de alimentos que eu gostava, e eu também sabia redigir um texto perfeitamente. Meus pensamentos e comportamentos era de uma pessoa adulta, mas meus sentimentos e acontecimentos passados eram quase totalmente extintos em minha cabeça. O "quase" é porque ainda tinha sonhos com alguns desses acontecimentos. Eu sonhava frequentemente com o rosto de um rapaz. Ele tinha cabelos pretos, olhos claros e um sorriso perverso. Associava ele com o próprio demônio. Não sabia se ele já havia feito parte de meu passado algum dia, mas se fez, não gostaria de um dia reencontrá-lo. Em compensação, também sonhava uma outra pessoa, porém, essa pessoa não conseguia enxergar a face. Era um homem também, que ao contrário do primeiro, me causava sensações boas. Às vezes sonhava que eu e esse homem estávamos fazendo promiscuidades, acordava no meio da noite e fazia uma oração pedindo perdão por sonhar esse tipo de coisa, mas voltava a dormir com a esperança de voltar a sonhar as mesmas promiscuidades. Contraditório. Eram minhas crenças lutando contra os meus desejos.

— Seu quarto é no segundo andar, na última porta. — Pronunciou, desabotoando os primeiros botões da camisa social.

Eu ainda estava parada no mesmo local, observando atentamente suas mãos que desabotoaram os primeiros botões da camisa social. A minha mente já imaginava Thomas Carter desabotoando o restante. Quando me dei conta aonde meus pensamentos estavam me levando, minhas bochechas ficaram vermelhas em reação da minha ousadia, e pude ver no rosto do homem à minha frente uma fisionomia confusa tomar conta de seu semblante.

— Adorei a cor da camisa. — Disfarcei, apontando para a sua camisa azul clara. — O padre usa uma igual.

— Obrigado. Eu acho. — Respondeu, com a testa franzida. — Vamos. Eu te levo até seu quarto. — Suspirou, se dando por vencido.

Não respondi, apenas segui seus passos pelas escadas bem projetadas que davam início a um imenso corredor com umas quinze portas diferentes. Confesso, fiquei curiosa para saber o que havia em cada uma delas. Porém, Thomas logo me guiou até a porta que realmente me correspondia; meu próprio quarto. Era rosa e lilás. Havia uma cama de casal no centro do quarto, um criado-mudo ao lado, e duas portas em suas paredes. Era um ambiente amplo e superava todas as minhas expectativas. Sempre quis ter um quarto só meu, dormir com todas aquelas freiras em um único quarto era evasivo demais.

HOPEOnde histórias criam vida. Descubra agora