Capítulo 34

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Thomas.

Não deveria ter deixado Natasha sozinha. Porra!

A culpa sempre me assombrava, e eu mais do que nunca me questionava como seria se eu não houvesse aparecido em sua vida, se tudo estaria melhor ou se ela estaria mais feliz. É irrefutável toda dor e sofrimento que ela já passou, e pelo jeito, continua passando, dia após dia.

E se eu não houvesse visitado James naquele dia? E se eu não me hospedasse na sua casa? E se eu tivesse parado essa relação antes que de fato ela acontecesse?

São muitos "e se?" para poucas respostas concretas. Eu havia que aceitar aquela realidade, e no momento, eu não poderia imaginar a minha realidade sem Natasha ao meu lado. Queria chegar em um futuro que lembraremos disso como obstáculos que superamos juntos. Mas para que isso pudesse acontecer eu só poderia torcer, pedir aos céus e sonhar.

Quem diria! Um homem como eu sonhando!

Se meu "eu" do passado pudesse olhar para o meu "eu" do presente com toda certeza estaria rindo, desacreditado. Mas meu "eu" do presente, olhando para o meu "eu" do passado se sente extremamente feliz. Sou agradecido por ter conhecido Natasha, por todos sentimentos que ela me despertou desde o começo, por todos os momentos que passamos, por todas batalhas que já enfrentamos, por seu olhar ter me hipnotizado logo no primeiro dia em que a vi, por ter descoberto em seu sorriso minha salvação. Natasha aqueceu, além do meu corpo, meu coração.

Caralho de Elec!

Quando cheguei ao estacionamento, ele já havia colocado ela dentro do carro e saído em alta velocidade. Sua expressão era assustada, e minha primeira atitude foi ir atrás do meu carro para que pudesse persegui-lo, e nem tempo de ligar para polícia eu tive. Pretendia acabar com aquilo, como havia dito, meu objetivo não era mais ser pacifista. Eu vou mata-lo com o maior prazer do mundo, e enfim, ficar livre da sua perseguição, das suas ameaças, e de toda dor que ele já causou.

Não tinha e menor ideia qual era o destino que aquele desgraçado pretendia alcançar, mas ele já havia percorrido um longo caminho e estávamos praticamente em outra Cidade. O velocímetro do carro indicava que eu estava correndo a 180km, mas meu batimento cardíaco estava muito mais acelerado que isso.

A estrada em que chegamos depois de um longo tempo era deserta, os únicos carros da pista eram os nossos. Elec estava com um Aston Martin V12 na cor preta. Esse carro tem um enorme potencial para corridas, mas por sorte, o Bentley Continental GT, que era o carro em que eu estava, conseguia acompanhá-lo.

Conforme fiquei colado em sua traseira pude ver que ele foi aumentando a velocidade e eu fiz o mesmo para que não nos distanciassemos. Elec colocou o braço para fora do carro, e sem nenhuma prudência, me mostrou o dedo do meio.

Desgraçado!

Assim que suas mãos voltaram ao volante, Elec freiou o carro com tudo, fazendo com que os pneus delizassem no chão. Eu estava logo atrás, não consegui frear a tempo, e nossos carros colidiram por um breve momento, porém, gerando um impacto muito forte, acionando o airbag do meu carro. Além do choque, o carro de Elec capotou para trás pressionando o teto solar do meu carro contra o meu corpo, fazendo que uma dor intensa atingisse minha cabeça e minha vista apagou. A única coisa que eu possuía naquele momento era minha audição aguçada na qual pude ouvir que o carro de Elec capotando várias vezes seguidas assim que saiu de cima do meu.

De duas, uma; ou Elec não sabia que freiar um carro em alta velocidade geraria isso, ou ele sabia, e fez isso de propósito para que acontecesse exatamente isso.

A única coisa que erradicava a minha fúria era que ele estava com a minha mulher. O destino não pode roubá-la de mais uma vez, a vida não pode ser tão cruel e injusta dessa forma. Se o futuro era viver sem Natasha, eu me recusava a vive-lo também.

Em meio a escuridão da minha visão, e a dor intensa na minha cabeça e por todo o meu corpo, uma claridade surgiu, como se o sol estivesse logo à minha frente. A intensidade da frequencia daquela luz era tão forte qualquer desnorteado, e eu não era exceção. Estava atordoado o suficiente para que não conseguisse me mover. Por um momento, senti que a luz me chamava, mas me recusei a ir até ela, e aos poucos, sua intensidade começou a diminuir, até que pude ver claramente a estrada, os cacos de vidro, o sangue, e o corpo de Elec estendido no chão. Devagarosamente consegui me livrar dos entulhos que cobriam meu corpo, me sentindo ainda com a vista turva. Meu corpo estava tão leve que mal o sentia, e a dor de antes havia cessado. Fui em direção ao Elec, sua pele apresentava vários cortes devido aos cacos de vidro espalhados pelo local, pude ver em seu rosto esboçado um sorriso diabólico, e seus olhos paralisados focando o céu aberto, enquanto uma parte de seu carro perfurava sua barriga. No fim, ele morreu sorrindo.

Segui correndo em direção ao seu carro que havia ficado um pouco distante de nós devido as várias vezes em que capotou, mas ainda nas mediações. O que antes era um Aston Martin havia se tornado destroços, com pedaços espalhados por toda parte. Pude ver cabelos ruivos saindo por onde parecia ser uma janela, indicando enfim aonde minha mulher estava. Me aproximei do carro, e pude ver seu rosto mais pálido do que nunca, só que dessa vez, com pequenos cortes no rosto. Seus olhos estavam abertos, sua expressão séria, e suas mãos estavam acolhendo sua barriga.

— Natasha... — Murmurei, sentindo as lágrimas molhando meu rosto.

Eu me recusava a ver aquilo, mas não conseguia me distanciar. Com cuidado, consegui retirar seu pequeno corpo pela janela. Em meu colo, mantive nossos corpos entrelaçados, enquanto várias lágrimas tomavam conta da minha face. Minha mente queria acreditar que tudo aquilo era um engano, mas não era. Seus cabelos ainda cheiravam camomila, e sua pele ainda cheirava cereja, seu corpo mole ainda me trazia corforto, e ao encarar seu rosto e deslizar meus dedos pelo mesmo, pude sentir sua pele macia. Não era engano nenhum, era ela. Era Natasha Somerset, morta, em meus braços.

— Não...

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