Capítulo 37

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Natasha.

Sete meses depois.

O tempo passou, para ser mais especifica, sete meses. Aqueles lindos olhos azuis ainda não podiam ser apreciados, pois mantinham-se fechados. Eu já estava de nove meses, minha barriga estava consideravelmente grande, porém, optei por saber o sexo do bebê apenas no dia do nascimento, que estava previsto para semana que vem. Eu estava morrendo de medo de ter esse filho. Passei minha gravidez inteira com esse temor, e agora que estávamos em um periodo crucial, esse sentimento havia aumentado. Pensei que Thomas estaria aqui comigo. Acordado. Bem.

Desde que tudo aconteceu, tenho praticamente morado aqui no hospital. Dormia com Thomas todas as noites, trocava a água das plantas que eu havia trazido até ao seu quarto, todos os dias. E quantas plantas! Haviam girassóis, rosas vermelhas, margaridas e peônias. No fim, encontrei um novo hobbie, a jardinagem. A enfermeira às vezes brincava, falando que meu objetivo era fazer o hospital virar uma floricultura. Talvez seja. Aquele ambiente apagado me deixava angustiada.

Conversava com Thomas todos os dias, mesmo com ele inconsciente. Não sei se ele conseguia me escutar, mas às vezes parecia que sim. Contava para ele tudo o que havia acontecido nesses últimos tempos, e sinceramente, havia acontecido muita coisa.

Abigail Nicols foi presa por tráfico de drogas e proxenetismo. Proxenetismo é a manutenção de prostíbulo, e em alguma parte de seu passado ela foi condenada por isso, e havia fugido antes de cumprir sua pena. Abigail, como uma antiga "conhecida" da justiça, estava sendo procurada por todos seus atos, inclusive, tentativa de sequestro da própria filha. Tudo o que meu pai fez foi entregá-la para as autoridades.

Falando no meu pai, nós estamos nos entendendo aos poucos, nos aproximando como pai e filha, e isso inclui, claro, o meu irmão. Após muito tempo de conversa, ele decidiu não só passar sua empresa para mim, mas também para Joshua. Quando James se aposentar, eu e meu irmão seremos sócios de negócio, o que não seria problema. Sinto que cada vez mais meu irmãozinho está amadurecendo, e até mesmo uma namorada ele arranjou. A vitima é Quianna Johnson. Eles assumiram esse romance não faz muito tempo, mas é possível perceber o quanto ele é abobalhado por ela.

Gostaria de ficar feliz por eles, mas toda vez que via eles juntos, espelhava minha verdadeira realidade. Um quarto de hospital.

Encarei o homem sem consciência deitado em minha frente, me perguntei há quanto tempo eu não escutava o som da sua voz e da sua risada. Eu estava desorientada, mas em hipótese alguma havia perdido as esperanças. Todos os dias eu acordava com o mesmo pensamento de que ele iria voltar.

Nesses momentos em que eu estava quase por um fio, costumava a lembrar de uma frase dita pela madre superior do convento, Cecil. A mulher que me acolheu, sem ao menos saber nada sobre mim. A mulher que realmente me ensinou o forte significado da palavra esperança. Me lembro perfeitamente de como foi nosso primeiro diálogo, e como ele marcou a minha vida:

Meu corpo todo doía, e haviam machucados espalhados por toda minha pele; bochechas, braços, e inclusive, nos meus olhos, que estavam tão inchados que mal dava para enxergar a cor da minha íris. Haviam pontos na minha cabeça, e minha barriga estava roxa de tantos golpes que foram desferidos nela. Faziam três dias que eu havia acordado, não sei por quanto tempo fiquei inconsciente, e ninguém me falava nada. Todo dia entrava uma enfermeira pela porta da frente e me fazia a mesma pergunta.

— Você se lembra da sua identidade? — A enfermeira questionava, sorridente. Como se estivesse me oferecendo um pudim de chocolate.

— Não. — Dizia, já sem paciência para esse tipo de pergunta.

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