Capítulo 32

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Natasha.

— Elec, me solta! — Protestei, me desfazendo de suas mãos que estavam pressionadas em minha boca, enquanto tentava me livrar de seu corpo que estava acochado no meu.

— Sem chances. — Respondeu, deslizando as mãos pela minha cintura. Ele fácilmente me levantou em suas costas, enquanto eu me debatia sem parar.

Seus passos rápidos nos direcionaram até um carro na cor preta, com vidros esfumados. E bruscamente, ele abriu a porta, me colocando sentada no banco do passageiro, e em seguida se direcionando para o lado do motorista.

— Natasha! — Ouvi um grito distante, e assim que olhei pelo retrovisor avistei Thomas.

— Se esse desgraçado está achando que vai roubar você novamente, está enganado. — Elec deu partida no carro e saiu do estacionamento derrapando o pneu pelo chão de pedra.

Era período da tarde e a estrada estava repleta de carros, mas nenhum carro foi capaz de impedir que Elec  continuasse em alta velocidade e saísse contornando todos automóveis que estavam presentes na pista. Meu coração estava acelerado, e eu já estava temia pelo pior. Minha cabeça tentava encontrar algum modo de sair daquela situação, porém, meu desespero não me deixava raciocinar direito. Lágrimas silenciosas brotavam em meu rosto, e eu endireitei minha cabeça para janela do carro. Elec não poderia ver as lágrimas. Eu não podia demonstrar fragilidade na frente dele.

Ao lado de fora, pude avistar o pier de Brighton, e as diversas aves que rodeavam o local, fornecendo uma visão encantadora aos meus olhos. Tentei pensar em outra coisa, tentei me imaginar ali com o Thomas, com o nosso filho, sem toda maldade que sempre nos rodeou. Não era apenas um sonho, seria um realidade futura, mas primeiramente, teria que encarar o demônio ao meu lado.

Encarei Elec, ainda com as mãos tremendo. Ele estava tão concentrado na estrada e com um ódio tão intenso nos olhos, que só um louco para perturba-lo nesse estado. Mas eu não me importava, estava disposta a ser essa louca. Sei que não haveria nenhuma consonância da sua parte, seja lá o que eu diga, mas se ao menos pudesse distraí-lo até que Thomas pudesse nos alcançar já seria um grande avanço. Sem pensar ou hesitar, questionei:

— O que te motiva?

— Quer tentar entender minha mente agora, porra? — Ele me olhou com raiva.

— Não quero tentar entender o impossível. — Retruquei, e percebi seu olhar furioso mais uma vez me encarando.

— Você não está em posição de falar assim! — Gritou, levando suas mãos até minha coxa e apertando com força, fazendo com que eu sentisse dor e repulsa. Em seguida suas mãos deslizaram, tateando com malícia entre minhas pernas, fazendo que o terror me dominasse completamente.

— Para! — Gritei, empurrando seu braço com toda a força que consegui dispor no momento.

Elec manteve em suas feições a raiva, e em um movimento ágil uma de suas mãos entrelaçou em meus cabelos, enquanto a outra se mantinha fixa no volante, e com toda brutalidade acumulada dentro de si, em um impulso, ele bateu minha cabeça na janela do carro, fazendo com que eu ficasse levemente atordoada. Se o vidro não fosse tão forte, com certeza teria quebrado.

— Acho que você tem dificuldades de perceber quem está no comando aqui. — Afirmou, ainda com raiva.

— Eu só quero te entender. Quero entender cada mensagem que enviou... Elas eram estranhas. — Respondi com a voz trêmula. Eu queria acalmá-lo, mas ao mesmo tempo sentia que estava apagando um incêndio jogando gasolina.

— Você tirou sarro da minha cara, fez eu me sentir irrelevante. Como acha que eu me senti quando soube que você estava viva? — Ele gritou. Seu ódio era tão nítido que dava para ser sentido. — Revoltado. Enganado. Obcecado.

— Isso por causa que eu te abandonei...

— Não só isso! — Ele me interrompeu. — Você era minha noiva e mesmo assim eu não consegui te ter. Aparece um filho da puta, te engravida e você foge no dia do nosso casamento. Quer que eu me sinta como? Eu sou fodido da cabeça desde pequeno, garota. Eu sou perigoso, e não digo isso só por causa da minha família. Você nunca deveria ter mexido comigo.

— Elec, você está sofrendo... É isso? — Eu questionei, tentando parecer calma, mas meu coração continuava acelerado e o nó na minha garganta parecia que iria desatar em um choro a qualquer momento. Me perguntava se estava fazendo a coisa certa quando quanto mais eu falava, mais ele pisava no acelerador, para o meu pânico.

— Não. — Ele sorriu abertamente, como se tivesse alegria em ver toda aquela situação. — Eu sinto rancor.

— Aonde estamos indo? — Indaguei, enquanto olhava para a janela e observava que havíamos passado do pier há muito tempo.

— Primeiro, despistando seu namoradinho. — Assumiu, olhando para o retrovisor.

Thomas estava logo atrás de nós, em alta velocidade também. Os carros estavam tão rápidos que era estranho não ter nenhuma viatura nos seguindo à aquela altura. Ao lado de fora conseguia ouvir o ressoar de várias buzinas.

Ouvi um telefone tocando, e logo percebi que era o de Elec. Seu celular estava no centro do carro, perto do freio de mão. O nome que estava na tela causou um arrepio por todo meu corpo, e finalmente confirmei que minhas intuições estavam certas. Quem estava ligando para ele era Abigail Nicols. A loira do restaurante. A loira do meu casamento. A loira da farmácia. De certa foma, sabia que nenhuma dessas situações eram coincidências.

— Abigail Nicols... — Pronunciei. — Então ela estava com você esse tempo todo.

— Essa mulher é um incomodo, sempre atrás de dinheiro. — Bufou, olhando para a tela do celular, pisando ainda mais no acelerador, ainda com foco no retrovisor.

— O que não é problema para você e sua família. — Admiti, tentando distraí-lo. Diante daquela fuga, me manter no controle da situação sendo uma vítima era praticamente impossível, mas o que me restava era tentar.

— Minha família não sabia que eu quase te matei. E quando ficaram sabendo por um descuido de Brad, tiraram tudo de mim. Queriam me colocar em uma clínica psiquiatrica... — Revelou. — Como se eu precisasse disso.

— Magina... Você? — Especulei, tentando mostrar indignação, mas percebi que soou mais como ironia.

— Você está zombando de mim, Natasha? — Indagou, furioso. — Minha família me tirou tudo; carros, dinheiro, mordomias. Eu perdi tudo por causa de você.

— E Abigail Nicols seria uma namorada que te ajudou com isso?

— É sério que você não sabe quem ela é? — Riu em irônia.

— Não. — Afirmei.

Elec me encarou com seriedade, e em seguida deu mais uma olhada para o retrovisor. Já havíamos entrado em uma estrada estreita e deserta, com quase nenhum caso circulando nas mediações. Thomas ainda estava a toda velocidade atrás de nós, poderia imaginar seu desespero, pois eu tinha um parecido dentro de mim.

Olhei confusa para o rapaz ao meu lado, que mantinha uma expressão carrancuda. Seu casaco de couro constratavam com seu cabelos pretos arrepiados e olhos azuis. Após um tempo observando suas feições, sua visão encontrou novamente a minha, e um sorriso maligno brotou em seus lábios.

— Uma boa filha sempre reconhece a mãe, mesmo que a mãe não seja tão boa assim. — Pronunciou com deboche, esperando pela minha reação.

— Você está querendo dizer que...

— Sim. Abigail Nicols é sua mãe. — Admitiu, e em seguida voltou a encarar a pista que estava à nossa frente.

Tudo me levava a acreditar que Elec não estava blefando. Na verdade, eu mesma preferiria acreditar que era um blefe. A verdade era dolorosa demais para que minha mente aceitasse. 

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