Capítulo 3

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Thomas.

Sem camisa, deitado em minha cama, olhando para o teto branco do quarto, e pensando como tudo estava desmoronando bem à minha frente. O trabalho me aguardava, estavam acontecendo várias coisas ao mesmo tempo na empresa; um dispositivo de GPS que nossos terceirizados desenvolveram ao nosso comando havia falhado. Aquele dispositivo não poderia falhar, pois ele havia sido feito com exclusividade para clientes muito importantes, que são gestores de uma renomada marca automotiva. Minha imagem e toda minha empresa estavam em jogo. Mas com que foco iria voltar ao serviço?

Não demonstrei, mas ao ver aquela garota me desestabilizei totalmente. Ela mexia com a minha cabeça e com todos os meus sentidos, e após dois anos esse sentimento continuava mais vivo do que nunca. Confesso, era estranho chamá-la de "Hope", mas estava começando a me acostumar. "Hope" não combinava com a antiga pessoa que ela costumava ser, mas com certeza, combinava com a atual.

Imagino tudo o que ela deve ter passado para ter sido encontrada daquela maneira. Me sinto culpado constantemente por sentir que em partes, fui responsável por tudo aquilo. Me torturei de todas as formas após o seu desaparecimento, tentei saber aonde ela estava, e quando realizaram uma ligação anonima dizendo que ela se encontrava no convento de Portslade, imediatamente fui ao seu encontro, junto ao seu pai. Recebemos a notícia que ela havia perdido a memória devido aos acontecimentos. Especialistas falaram que a perda de memória pode não ter acontecido somente pelo impacto na cabeça, mas também, por um evento traumático. A sua família optou por deixá-la no convento por aquele tempo, pois seus raptores ainda estavam ainda estavam em seu encalço, e aquele local seria um ótimo refúgio.

Natasha Somerset, nascida em 17 de novembro de 1999, e morta dia 22 de fevereiro de 2018. Aquilo doeu no fundo da minha alma. Eu compareci em seu falso velório com pesar, senti que não dei o meu máximo para que aquilo pudesse ser impedido. Não sou digno dela. E agora que ela está aqui, com outro nome, sem saber de nada sobre sua vida, sinto que posso ter uma nova oportunidade. Porém, ao mesmo tempo, sei que estaria começando tudo de maneira errada novamente. Eu tenho muitos pecados, e se ela soubesse de cada um deles, não desejaria nunca mais me ver em sua frente.

— Porra! — Resmunguei.

Em meio aos pensamentos turbulentos que rodeavam minha cabeça, ouvi meu celular vibrar, era uma mensagem. Meu estresse aumentou ao visualizar quem era. Tereza.

"Meu amor, estou com saudades. Você está tão ocupado ultimamente. Me liga quando der."

Tereza era uma mulher interessante, porém, eu não tinha cabeça para me relacionar agora. Nem com ela e nem com ninguém. Frequentemente passo à noite com mulheres de todos os tipos, mas objetivando somente o meu prazer, descartando sentimentos. Eu já havia sentido demais, durante muito tempo. A dor acumulada permanecia em meu peito. As minhas tentativas de neutralizar essa dor saindo com várias pessoas diferentes, e em festas regadas a álcool, acabava sendo totalmente falha. Porém, por um determinado momento, eu conseguia neutralizá-las, mesmo que depois, tudo voltasse em dobro.

Poucos minutos depois que a mensagem chegou, e eu ignorei sem hesitar, escutei o celular tocar. Achei que mais uma vez fosse Tereza, mas confirmei que não era. Era James Somerset, pai de Natasha, ou Hope, seja lá por qual nome eu deva chamá-la.

— Oi. — Atendi sem ânimo.

— Natasha está bem? — A sua voz era de preocupação.

— Está, James. Mas agora o nome dela é Hope — Ouvi um suspiro nervoso do outro lado da linha. O nome da filha ter "mudado" de nome não havia agradado.

HOPEOnde histórias criam vida. Descubra agora