Thomas.
Minha vontade era de gritar para o mundo inteiro ouvir. A angústia que perpetuava em meu peito havia se multiplicado, se é que aquilo era possível. Natasha estava esperando um filho meu, e eu nem tive a capacidade de ouvir aquilo da boca dela. Ao invés disso, estava bêbado, em um quarto, com outra mulher.
A minha auto-estima sempre esteve intacta, mas naquele momento, eu me odiava. Nunca me imaginei com um filho. Pretendia morrer sozinho, sem procriar e sem ninguém ao meu lado. Me achava fodido demais para criar uma criança, mas desde que aquele furacão chamado "Natasha Somerset" havia aparecido na minha vida, meus planos haviam mudado, e a ideia de ter um filho com ela me agradava.
Sem que pudesse evitar, pelos meus olhos já caiam lágrimas, e de minha boca eram emitidos soluços. Eu estava chorando. Na minha vida toda eu havia chorado daquela forma apenas três vezes; na morte da minha mãe, no desaparecimento de Natasha, e naquele momento. Meu coração estava apertado, e por um momento senti faltar ar em meus pulmões.
Quianna, percebendo meu estado, caminhou até a cozinha que ficava próxima de onde estávamos, pegou um copo de água e me entregou cuidadosamente, colocando a mão em meu ombro e me olhando com compaixão.
— Fica calmo. — Ela apaziguou, sentando-se ao meu lado novamente.
— Como? É minha culpa. — Eu suspirei.
— Não é sua culpa. Você foi um otário, mas Natasha te amava. — Especulei, paciente.
— De quanto tempo ela estava?
— Três meses.
— Por que ela não havia me contado antes? — Me mostrei surpreso.
— A barriga daquela menina não crescia. — Riu. — Ela descobriu na semana do casamento porque estava com alguns sintomas e menstruação atrasada, me contou de imediato. Ela te ligou justamente naquele dia porque percebeu que não poderia casar com Elec naquelas circunstâncias.
— Grávida? — Deduzi.
— Grávida... E também, te amando. — Admitiu.
Ao ouvir aquelas palavras umedeci meus lábios e desviei meu olhar de Quianna. Era como se eu finalmente tivesse recebido um belo soco no estômago. Eu estava desconcertado, agoniado e ressentido. Havia finalmente entendido o que Joshua quis dizer com "perda em dobro". Ele, de alguma forma, sabia desses fatos.
Elevei o copo até a boca e tomei um gole de água, e pude notar que Quianna havia adicionado açúcar nele. Agradeci mentalmente por ela ter feito aquilo. Mas nenhum copo de água com açúcar conseguiria amenizar a situação que eu criei. A culpa de tudo havia sido minha. Tudo.
— Me conte tudo o que aconteceu naquele dia, Quinn. — Ordenei, apreensivo.
— O que quer saber especificamente? — Engoliu em seco. — É um assunto difícil.
— Eu sei disso, mas esquivei desse assunto por tempo demais. O que aconteceu com Natasha e com nosso filho? — Perguntei enquanto pousava o copo que estava em minhas mãos na mesa de centro. Minhas pernas tremiam levemente. Não queria saber, mas precisava.
— Não falei mais com Elec e nem com Brad, Thom. Havia desistido do plano sem contar o porquê. Eles ficaram bravos no começo, mas aceitaram, e inclusive, me contaram que não iriam fazer mais nada para prejudicar a Natasha, eu acreditei. — Ela suspirou. — Mas no dia do casamento, antes da Nat entrar no altar... ela estava em prantos. Desculpe te dizer isso, mas ela ficou chateada de você não ter aparecido aonde vocês haviam combinado de se encontrar naquele dia, e não restou outra opção a não ser encarar o casamento com Elec, porém, na hora mais importante, Natasha saiu correndo, deixando Elec plantado no altar.
— James havia me contado essa parte... Ela saiu correndo na hora de aceitá-lo como marido. — Não escondi o nojo na hora de pronunciar a palavra "marido".
— Então você deve saber que Elec ficou muito bravo, saiu chutando tudo e brigando com todo mundo que entrasse em sua frente. Ele estava procurando pela Natasha, e por Deus, ele estava tão irado que todos torcemos para que ele não encontrasse. — Balançou a cabeça negativamente.
— Não me fale que...
— Ele encontrou. — Me interrompeu. — Assim que abandonou o altar, Natasha seguiu pela floresta, com a esperança de te achar. Eu fui atrás dela na intenção de acalmá-la, mas Brad, meu ex, que também era amigo de Elec, estava logo atrás de nós duas.
— Eu não sabia...
— Ninguém sabia, Thom. Você é a primeira pessoa para quem eu conto isso. — Respirou fundo.
— A culpa é minha, Quinn. — Apoiei minha testa em minhas mãos, enquanto repousava os cotovelos em meus joelhos. — Sempre minha.
— Não, Thomas. Não diga isso. — Me abraçou. Por minutos fiquei naquele abraço, chorando baixo e relembrando de tudo o que eu havia colocado a perder.
— Não mereço ela. — Respondi, com a voz embargada no choro. em um sussurro. Não era digno de tê-la.
— Nem eu. — Quianna se afastou. — Ainda não te contei tudo. Me deixe terminar.
Respirei fundo e olhei os olhos castanhos escuros de Quianna. Seu rímel estava levemente borrado, com isso pude ver que mediante as circunstâncias eu não era o único abalado com a situação. Quianna estava visivelmente devastada. Não imaginava que ela sabia de tantas coisas e carregava todo aquele fardo sozinha, sem compartilhar com ninguém. A verdade, cedo ou tarde, vem a tona. E por mais que seja doída, eu teria que aceitar. Me esconder não era uma opção. Me escondi muito tempo atrás de bebidas, festas e de uma vida supérflua. Não iria fazer aquilo novamente.
Minhas decisões me levaram a ruína, e o pior não foi o fato de ter me levado. O pior foi o fato de ter carregado Natasha para ruína junto comigo. Não entendia o que uma garota na idade dela havia feito para receber tanta crueldade assim. Nada fazia sentido. E apesar de toda dor sofrida, de todo trauma encoberto, de memórias dolorosas revividas, ela conseguia sorrir, me olhar e me perdoar.
Natasha era mais boa comigo do que eu realmente merecia, e tinha mais compaixão com as minhas atitudes do que a minha própria compaixão comigo mesmo.
Desde que vi que de fato ela estava viva, senti que carecia penosamente resguardá-la e ampará-la a qualquer custo, e não somente porque eu compartilhava desse sentimento de culpa e obrigação, mas porque também não suportaria ficar longe dela. Do seu rosto corado, da sua feição zangada ou até mesmo das suas respostas atravessadas.
Perdê-la uma vez fez com que meu medo recorrente de perdê-la novamente submetesse o meu ser, pois o sentido da minha vida era unicamente zelar a vida dela, e assim eu iria me redimir de todo o caos que eu causei.
— Continue. Preciso saber de tudo. — Consenti.
Não estava preparado para saber o que houve com a minha Natasha, mas aquela era a hora. Finalmente eu iria saber a sua trajetória naquele dia fatídico.
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HOPE
RomanceHope é uma jovem cujo desconhece sua origem, nome e idade. Não se lembra de nenhum fato referente a sua vida desde que foi encontrada na costa oceânica de Brighton, na Inglaterra, extremamente machucada. Depois de um tempo confinada em um convento...