Capítulo 18.3: Bônus

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VIVIANE E CONVERSAS SINCERAS

As primeiras semanas de Viviane na escola não foram fáceis. Ela esperava por isso. O que ela não imaginava era que suas dificuldades seriam em relação aos professores, não com os alunos. E, tudo pareceu piorar quando ela conseguiu um feito inacreditável para muitos deles. Os demais professores da EPMG eram do tipo que, se não conseguissem alguma coisa, achavam que todos eram incapazes.

Viviane foi a primeira professora que se tem conhecimento que ganhou o total respeito do 10ºC em suas aulas. Eles conversavam? Sim. Ninguém, ou quase ninguém, consegue ficar uma hora em absoluto silêncio. Mas, as conversas não atrapalhavam o andamento das aulas.

Na verdade, o 10ºC era uma turma divertida para se dar aula. Eles colaboraram. E, por ser uma turma unida, aqueles que compreendiam a matéria com facilidade ajudava os demais, dando exemplos que, talvez, Viviane não conseguisse pensar com rapidez.

A sua única preocupação relacionada àquela sala era Barbara. A garota deixou de fazer as atividades e deveres. Não copiava. Tentava atrapalhar a aula. Conversava e ria mais alto que os demais. Seus próprios colegas reclamavam com ela. A menina apenas revirava os olhos.

No primeiro dia em que conseguiu fazer com que os alunos do 10ºC ficassem calados e ouvir suas explicações, Viviane saiu da sala com um sorriso no rosto. Foi um grande passo como professora nova e sem experiência. Não conseguiu não se comparar a Diogo. Ele era um dos seus maiores exemplos na vida. E, se ela continuasse se esforçando, seria tão boa professora quanto ele era arquiteto.

Porém, foi só sair da sala para seu sorriso se desfazer. Paloma e Joseane apareceram em sua frente. Elas observavam a novata como se ela fosse uma espécie rara de algum animal diferente. E, não um diferente bom.

— Você estava no 10ºC? — Joseane perguntou.

A primeira coisa que apareceu na cabeça de Viviane foi uma resposta a altura da pergunta bem estúpida que a professora de química fazia. Elas viram quando ela saiu da sala 03. Ou teria esquecido que aquela sala era o 10ºC? Porém, pensou melhor. Não daria mais motivos para que os professores a odiasse. Aliás, qual motivo ela deu a eles para que a detestassem?

— Sim. Acabei de sair.

— Foram apenas alguns alunos, não é? — Joseane supôs — Teve um dia que os alunos combinaram de faltar. Foram só uns três ou quatro que não souberam do plano.

— Na verdade, vieram todos.

Viviane não entendia aonde aquelas perguntas chegariam. Só sabia que não era nada de agradável. Nenhuma das conversas, que pareciam despretensiosas, que viam delas levava a um bom lugar.

— Todos? — Joseane estava incrédula — Mas, eles não estavam na sala, não é?

— Estavam.

— Dormindo? — Joseane tentou completar. Viviane balançou a cabeça.

— Fizeram o voto do silêncio? — Paloma perguntou. A professora de matemática negou mais uma vez — Como os alunos ficaram quietos? Principalmente com você, que é a primeira vez que dá aula?

Viviane percebeu o tom ofensivo que Paloma usou para fazer aquela pergunta. Ela deveria imaginar. Aquelas duas não eram o tipo de colegas de trabalho que ajudavam na adaptação dos novatos. Pareciam adolescentes de filmes juvenis que faziam o possível para dificultar a entrada de alunos novos na escola. Elas não chegavam a fazer brincadeiras. E apenas porque deveriam lhes custar o emprego.

Mas, se elas queriam usar palavras venenosas, Viviane também usaria. Ela não estudou quatro anos em uma faculdade, se formando com as melhores notas, para ser inferiorizada por adultos com comportamentos infantis. Ela era uma professora. Não só isso, ela era uma pessoa. E merecia o respeito, como qualquer outro.

Gêmeas - Nada Será Como Antes  [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora