Capítulo Dezasseis

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- Dorme, filha, não tenha medo. A mãe está aqui.

A voz doce de Beatriz embala Anastásia, que contraria com todas as forças a chegada do sono. Desde pequenina que não conseguia adormecer sozinha. Por um motivo que desconhecia. Mantinha medo do escuro, não receava os pesadelos e nem sequer temia do bicho-papão imaginário escondido debaixo da sua cama ou dentro do armário. Os seus medos não eram, seguramente, iguais aos dos outros garotos da sua idade.

- Não me deixe, mãe! - pedia Ana, a apreciar cada segundo do carinho no cabelo que a mãe lhe fazia.

- Nunca filha!

Era nesse instante que um arrepio a percorria dos pés à cabeça. Maria agarrava-se mais à mãe, com se a quisesse prender a si para sempre. Só mais tarde, na adolescência, ela percebera o que aquele arrepio significava. Era esse, afinal, o seu maior medo. O medo de que a mãe a deixasse.

Todos os seus colegas de escola tinham pais, mães, tios, primos, avós... Uns mais que outros, mas todos tinham família.

Familia: Substantivo coletivo para designar um conjunto de pessoas unidas por laços de sangue, ou graus de parentesco.

No caso de Anastásia, esse conjunto limitava-se apenas a ela e à mãe. Se algum dia ficasse sem a mãe, o conceito de família, para ela, deixava de existir.

- Você gostava de conhecer os seus avós? - pergunta a mãe, um dia, enquanto a ajudava com os trabalhos de casa, de português.

Maria negou. Para quê?! O que quer que tenha levado a mãe a cortar relações com os pais, era o motivo suficiente para que ela própria não os quisesse conhecer. E o assunto ficou por ali. Foi a primeira e a última vez que a mãe lhe falou dos avós. À exceção de outra conversa, anos mais tarde, mas essa na cama do hospital.

First Love (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora