-- Capítulo 3: Limiar para o Desastre --

70 15 16
                                    

Uma barulheira decorre do movimento lento das portas se abrindo. Engrenagens e correntes são o mecanismo que as puxam. Uma forte corrente de ar vaza do lugar para o corredor do qual o rapaz veio; Klay, por reflexo, se protege colocando os braços à frente do rosto, tendo seu cabelo chacoalhado. As esferas verdes que flutuavam foram levadas embora; após o estrondo que as portas fazem quando param, a ventania cessa.

Klay desfaz a defesa com os braços. Pelo seu semblante tenso, fica claro o quanto de nervosismo está o afligindo, mas não um intenso o suficiente que o faça fugir. Com um primeiro passo hesitante, o rapaz adentra no território do salão. Várias tochas se acendem em pares por vez, chegando até as dua últimas, que expõem uma criatura corpulenta rondada por correntes, ficando com a cabeça abaixada.

O ambiente tem pilares grossos e ornamentados. Os fogos das tochas se tornam mais intenso, revelando melhor a aparência do monstro. É uma criatura humanoide, com uma altura aproximada a dois metros. A pelagem que cobre seu corpo tem uma cor cinza. A besta levanta a cabeça mesmo com as correntes impondo forte resistência por suas articulações e músculos, encarando Klay através de seus olhos brilhantes de cor azul; sua face possui características semelhantes a de leões, mostrando as presas no abrir da boca. Essa aparência acaba fazendo o rapaz recuar alguns passos.

Depois do aumento da intensidade das chamas, é revelado uma espada grande no meio do salão. A arma tem arranhões pelo metal, o cabo é proporcionalmente extenso à distância dos gumes.

Barulhos são emitidos das engrenagens e correntes que movimentam as portas, movendo-as. Devido ao som, a atenção de Klay é chamada, virando a metade de seu corpo para a direção da entrada. As portas se fecham de uma vez, causando um estrondo. Uma gota de suor frio escorre pelo rosto do rapaz, estando escancarado que a rota de fuga foi selada.

Olhando para os lados do salão, ele repara que não há nenhuma porta ou qualquer outro meio de saída além das que foram trancadas atrás dele. "Como ele sabe que foi trancada?" Isso é simples, o som da forte pressão que as engrenagens exercem sobre si mesmas dentro da parede chegam até seus ouvidos, e não havia esse som quando ele as abriu. O rapaz nota que provavelmente não tem opções além de confrontar a aberração acorrentada.

— Então é isso?... — pensa, olhando irritado para o monstro, que devolve a encarada com uma torcida enquanto seus rosnados soam. — O objetivo dessa sala é de me fazer cortar esse monstro com aquela espada?... Tch! Que absurdo! Mas pelo jeito que as coisas estão indo... só pode ser isso, não é? Maldição... às vezes me pergunto se eu estou outra vez dentro de um sonho... Quem eu quero enganar? É real demais para ser um. Toda a intenção assassina daquela coisa confirma isso.

As correntes que prendem um dos braços do monstro estouram, refletindo os estilhaços por todos os lados. É repentino, mas isso indica um fato: o monstro começou a se libertar. Klay se assusta, quase perdendo o equilíbrio ao recuar. Esse foi o sinal, e o rapaz entendeu. O sinal... para o começo da luta.

Ele retira a sacola do cinto, jogando-a pelo chão, em seguida corre com todas as forças na direção da espada. Uma a uma das correntes se partem; através da sua força tremenda, o monstro batalha pela liberdade de caçar a nova presa. Pela velocidade demonstrada, é indiscutível que o jovem irá alcançar a espada antes do monstro se soltar, sendo destruído neste instante o seu ânimo, sentindo os traços que o moldam serem abalados por um rugido. A criatura se solta de boa parte das correntes, inspirando fundo para soltar outro brado, que é alto, nos limites do que o tímpano pode suportar, ecoando por todo o salão e corredores. Klay tenta proteger seus ouvidos com as mãos, o chão e o teto tremem levemente, uma onda de vento se espalha.

— Nem... ferrando! Não tem como eu matar essa coisa!! — É a primeira que considera ao olhar outra vez para o monstro. A criatura está retirando as correntes restantes a força bruta do braço livre. Os fragmentos vão estourando para direções aleatórias. — Droga... Afinal... o que eu vim fazer em Rio Vermelho?... Foi realmente só para fugir? Tch... Não queria ter esse tipo de pensamentos... — Klay vê a imagem da criatura se distorcer na escuridão, tomando um aspecto demoníaco com os olhos e boca puxados em formatos maiores. — Mas com essa sensação que estou sentindo de morte se aproximando, não consigo parar de pensar nessas coisas! porcaria!! E a pior preocupação entre esses pensamentos, que até um idiota como eu chega ao ponto de ter que imaginar... como que vou abater essa coisa?!

Rio Vermelho - A Corrida da Vida (Piloto)Onde histórias criam vida. Descubra agora