-- Capítulo 46: O Nascimento da "Insanidade" --

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  Os arredores estão repletos de árvores altas, possuindo troncos finos e galhos que só se espalham pela parte mais de cima dessa flora, sendo essa a espécie mais predominante nessas terras. O solo em maioria tem uma grama tímida, que deixa boa parte da terra exposta por vários cantos. O sol está forte, com poucas nuvens atrapalhando-o.

  Em algum lugar desse bioma se localiza uma aldeia, com todas as casas tendo sido construídas no alto das árvores, sustentadas pelas próprias e alguns pilares fincados no chão. Uma das moradias chama mais atenção que as demais, sendo a maior e estando acoplada na árvore de maior proporção no bioma, possuindo vários adornos e objetos artesanais de caráter religioso.

  O interior do estabelecimento é iluminado por tochas presas nas paredes, por onde também se estendem muitas peles de animais e formas de madeira tingidas de muitas cores. No fundo do lugar, próximos da uma parede arredondada, estão sentados alguns senhores de bastante idade, sendo o no centro o que impõe mais presença com as muitas bijuterias que usa. À frente deles está um homem de meia-idade, expondo bastante raiva pela sua expressão. Ele ouve calado o que os idosos dizem até certo ponto, levantando a voz após ouvir algo, o que inicia uma discussão acalorada e resulta nos guardas expulsando-o do local. Durante a noite, o expulsado parte da vila com o pequeno filho.

  Anos se passam. Em uma parte distante da floresta reside uma única casa, formada de pedaços de madeira e rochas. O garoto acompanha o pai na realização de muitas tarefas diárias, como conseguir comida na mata, cuidar da horta, pegar água, cortar lenha e etc… Além disso, na noite ele é treinado em conhecimentos de luta com armas de verdade, enfrentando seu pai sem ambos terem receio de se acertarem, despejando faíscas nas colisões das lâminas. O confronto dura até o horário de mais profunda escuridão da noite, continuando sem se importarem em acender algo como uma tocha, acompanhados apenas da aura que ronda seus corpos.

  Mais anos se passaram. O jovem cresceu bastante nesse período, estando atualmente com um físico notável, manchado por algumas cicatrizes. A luta dessa noite acaba rápido, com o sol ainda mal tendo se posto no recém fim de tarde, pois o rapaz já havia derrotado o seu pai. O homem está ajoelhado no solo, sangrando, com os cabelos e barba, que estão muito maiores que anos antes, escondendo boa parte de sua face.

  — Está feito… — diz para o garoto. — Agora… você deve me "salvar"… — O rapaz se aproxima com passos lentos, observando o pai através dos olhos congelados, não esboçando qualquer reação. — Aplique tudo o que te ensinei… sei que nunca vai esquecer, afinal seus olhos são abençoados… Lembre-se, o auge da felicidade de todos é quando são "salvos". Você, "-------", foi enviado da terra sagrada com o dever especial de salvar a todos… — Um sorriso medonho se forma no rosto do homem. — ...sem qualquer medo, sem qualquer hesitação. Eles podem se contorcer, mas não pare. Eles podem implorar, mas não pare. Eles podem tentar fugir, mas não pare. Bem… isso é o suficiente, meu papel de te aconselhar acaba aqui. Já sabe muito bem por onde começar a primeira fase do trabalho divino.

  O jovem finca as facas no pescoço do homem, deixando-o cair no momento em que as retira. Sangue mancha o rosto e roupa do rapaz, com seu pai o encarando ainda com a mesma face de insanidade. Ele fica encarando o cadáver sem sair do lugar, se mantendo parado por horas, mesmo quando inicia-se uma chuva forte, que o acerta com o vento e gotas afiadas sem qualquer fraquejar. As trevas da noite o engolem, afundando-o em um mundo de desolação, no qual desaparece.

  — Eu vou… honrar o meu papel.

  O dia amanhece. O jovem está em cima de um galho, fintando a localização da aldeia por meio de um olhar desprovido de vida, estando com a aparência do rosto repleta de escuridão.

  — Salvarei… todos.

  Não foi necessário sequer o sol surgir para aquela comunidade sofrer uma devastação causada pela calamidade. Casas pegam fogo, corpos estão estirados por todos os lados, incluindo os daqueles velhos. Tudo foi dizimado.

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