-- Capítulo 6: O Inverno mais Frio --

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— Mãe…? Qual o problema? — fala Klay, ainda não tendo despertado totalmente. A mulher ilumina o quarto através de uma lamparina.

— Levante! Temos que sair dessa fazenda imediatamente! — responde, estando com uma expressão nervosa.

— Mãe…?

Após o garoto se levantar e calçar um par de botas, a mulher o agarra pelo braço e o puxa enquanto corre pela casa. Klay fica assustado com a situação, mas a acompanha sem esboçar resistência. Os dois descem do segundo andar por uma escada de madeira, atravessam a sala e saem da casa pela porta na cozinha. Do lado de fora, ainda em carreira, Klay avista Kelicia; ela os aguarda com um olhar desanimado para baixo, segurando o livro robusto com os dois braços. Apesar da jovem não esboçar praticamente nenhum indício de medo, o garoto repara que seus braços tremem, e não é pelo frio. Quando a mulher passa pela garota, ela a pega com a mão livre e a puxa para correr junto.

— Cuidado para não tropeçarem! — alerta a mulher.

— O que está acontecendo?! — finalmente Klay toma coragem para perguntar.

Sua mãe fica em silêncio por alguns instantes, finalmente o dizendo:

— Acabei de ser avisada por um comerciante importante que passava… Nossa capital será o alvo de uma enorme invasão dos bárbaros do sul, e para nosso azar eles escolheram uma rota que vai passar perto daqui. Aparentemente, eles ganharam do exército que os continha perto da fronteira. Sendo assim, temos que ir embora o mais rápido possível, aqui não é mais seguro.

Klay fica surpreso, mesmo tendo ouvido essas palavras, seu semblante deixa claro que ele ainda sim não entende direito a situação em que está. Kelicia por outro lado continua com a mesma expressão vazia.

A família chega em uma carroça que está perto do armazém, já havendo um cavalo pronto para puxá-la. Alguns sacos de suprimentos estão jogados por seu canto. A mãe de Klay sobe na carroça e puxa pelos braços as crianças, colocando-as dentro.

O garoto assobia, com o chamado não demora muito para o cachorro aparecer em uma corrida frenética, marcando o chão coberto de neve. Ao se aproximar o suficiente, Fonso pula para as mãos de Klay.

Depois de mais alguns momentos de preparação, a mulher pega as rédeas do cavalo e o faz começar a se mover até enfim se tornar uma corrida apressada.

A carroça viaja em alta velocidade por uma estrada que corta os campos de cultivos cobertos de neve, uma névoa branda cobre os arredores da paisagem. A única luz do ambiente é a que vem de cima, a da lua. Mesmo nessa parcial escuridão, a mulher dirige com destreza. Klay, Kelicia e Fonso estão próximos para se ajudarem a suportar o tempo frio, a mãe dos jovens está concentrada na pista, a temperatura não parece afetá-la. Dessa maneira a viagem continua por vários minutos.

Um barulho de relincho é emitido da retaguarda da carroça, a mãe de Klay olha surpresa para a rota da qual veio o som, acontecendo dos irmãos fazerem o mesmo. De trás deles, cortando a névoa e espancando a neve como se fosse insignificante, surge uma enorme carroça sendo puxada por dois cavalos robustos. Os animais estão vestidos com armaduras negras que têm o mesmo tom do transporte que puxam.

O semblante de todos da família é abatido pela visão da carroça dos perseguidores. A mãe de Klay incentiva o cavalo a correr o mais rápido que pode, com essa aceleração eles avançam pela estrada branca com mais ímpeto.

— Merda!! — xinga a mulher em sua mente. — Aquele comerciante desgraçado disse que eles ainda iam demorar alguns dias para chegar perto dessa região!

A quantidade de neve caindo do céu aumenta. A perseguição continua. Subitamente uma adaga se finca no meio da carroça da família, assustando as crianças. Risadas medonhas soam atrás.

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