Capítulo 32

9.1K 853 153
                                    

Bruna 💭

Desde pequenos, a maioria dos filhos são ensinados que os pais sempre querem o bem, as ações e medidas são totalmente para o bem da criança.

Eu acreditei nisso por um tempo, até a minha mãe falecer e eu ser responsabilidade do meu pai.

No fundo das minhas memórias eu consigo ver o pai que eu amava, aquele que me protegia do mundo e me colocava como prioridade. Hoje, posso dizer que fui forçada a enxergar dessa forma mesmo com todos os abusos que ele cometia sobre mim. Abusos psicológicos, emocionais que eram colocados como algo para o meu bem, sendo que nunca passou de uma fonte meramente egoísta por parte dele.

Apanhar da sua madrastra todos os dias, sentir fome e medo em um local que era pra ser o seu lar é a coisa mais desesperadoras que uma criança pode sentir. Não havia opção, eu não podia fugir, era obrigada a aguentar calada segurando todas as lágrimas.

Fingi tantas vezes ser uma criança bem cuidada e feliz, me apresentei em festas familiares como a menina de ouro e quando eu consegui sair de toda essa imagem, passei a ser a garota suja que não merecia o amor do pai e da madrasta que mesmo não sendo mãe de sangue, cuidava com todo amor.

Cometi tantos erros, fui julgada como se estivesse em um tribunal justo, porque segundo eles, eu envergonhei quem apenas me dava amor.

Quando finalmente consegui sair daquele lugar, jurei que nunca mais me sentiria tão baixa e suja como me senti nos últimos anos. E foi assim, suportei todas as mensagens de baixo nível. Não era pessoalmente, eles não conseguiriam encostar em mim.

Mas naquela situação era diferente, meu corpo tremeu só de escutar a voz de quem gritava me batendo cada vez mais. Eu não tive reação, meu corpo não sabia definir o que fazer, não havia modo de defesa.

— Eu falo que estou cheia de pessoas incompetentes e você me traz a maior de todas? — lá estava ela, minha madrasta, me olhando com toda a superioridade e sabendo o domínio que eu sempre tentei lutar contra continuava aqui.

— Qual é o seu problema, Luciana? — Caio a olhou bravo — Não sabe tratar os outros com educação?

— Eu sei bem como eu devo tratar cada um — continuou me encarando — Principalmente você — apontou pra mim.

— E-eu vou embora — comecei a tremer tanto achar a saída, tinha dado tela azul total.

— Quando você vai fazer o que deve fazer e ir embora para sempre? — começou a se aproximar lentamente — Porque além de ser mal agradecida, continua fazendo besteira e afetando quem sempre te quis bem.

— Cala a boca — murmurei.

— Você é um desgosto pra sua família, estou aguardando ansiosamente pra te abandonarem e você voltar correndo pra nós. Aliás, como a Eloisa consegue te aguentar? — ficou perto o suficiente — Seu pai não vai esperar mais, ele já mandou o recado pra você, só resta aceitar o que estamos propondo — sussurrou.

— Eu quero ir embora, Caio — me afastei rapidamente encostando em uma parede.

— E o emprego? — perguntou.

— Ela não conseguiu, não tem a inteligência necessária pra educar alguém — ela piscou.

Ela conseguia manter todo o controle, eu odiava isso, sempre odiei e agora mais do que tudo eu sinto o nojo no olhar. Assim que o Caio me arrastou pra fora daquele lugar eu consegui respirar. — O que aconteceu lá? Vocês já se conhecem?

— Me leva pra casa.

— Que? Me explica, Bruna — insistiu.

— Eu preciso ir pra minha casa — passei por ele, eu iria embora dali de qualquer jeito.

— Espera — segurou a minha mão — Eu levo, não tem problema.

Não trocamos nenhuma palavra durante o caminho inteiro, segurei todas as lágrimas que queriam sair porque tudo o que eu precisava agora era da minha mãe. A mãe que cuidou de mim quando mais ninguém queria, a minha segunda mãe. Desci do carro sem me despedir, se eu soltasse alguma palavra eu iria desmoronar ali mesmo, nem mesmo ele chamando o meu nome conseguiu me impedir.

— O que aconteceu? — Elisa perguntou — Você não ia na entrevista?

— Cadê a mãe? — andei desesperada pela casa.

— Tá na cozinha — me seguiu — Você e o Caio brigaram?

— Que foi, filha? — me olhou preocupada.

— Que recado o meu pai passou? — perguntei secando as lágrimas que não queriam me obedecer. Elas se encararam, tinha algo ali. — O que vocês estão escondendo de mim?

+100

Quase sem querer Onde histórias criam vida. Descubra agora