Vítor 💭
Cheguei do trampo cansado, tava doido pra tomar uma gelada com os moleques mas nenhum me atendia, sumiram todos. Bando de filha da puta, certeza que estão com rabo de saia.
Eu tava jogado no lixo, não tinha ninguém pra dar uns beijinhos quando desse vontade, e nem é por falta de opção, porque isso eu sempre tive. A real é que desde que eu e a Elisa voltamos a conversar eu parei com toda a putaria por um tempo, não queria mostrar que eu não tinha mudado nada, até porque não era mentira, eu mudei sim.
Admito que errei pra porra com ela, fui um cuzão e não dei valor quando tive a oportunidade. No fim eu só me fodi. Agora que eu me aproximei e entrei na vida dela fiquei com uma ponta de esperança, não posso negar que quero ela de volta mas também não sou bobo o suficiente pra não enxergar que ela não me quer.
Entrei com o carro na garagem, coloquei a chave pra destrancar a porta mas para a minha surpresa estava aberta. A Rebeca que nos últimos tempos andava bem sumida tava largada no sofá de baixo do edredom. — Tá doente?
— Que? — pausou o filme que estava assistindo e me olhou.
— Você em casa antes de meia noite, isso é novidade.
— Não posso não? — bufou — Ou você quer controlar a minha vida até nisso?
— Epa epa — dei um passo para trás, não entendi a revolta comigo — Tá assim comigo porquê?
— Nada Vítor — respondeu.
— O que tá acontecendo Becca? — sentei ao lado dela — Fala comigo pô, do nada a gente se afastou.
— Porque será? — me encarou — Você tem sido um merda nos últimos anos, ainda quer que eu seja sua amiguinha?
— Se for sobre o lance da Elisa eu já to ligado...
— Nem tudo gira em torno da sua vida amorosa, Vítor — me interrompeu — Você é egoísta demais.
— Calma, me explica o que aconteceu, por favor — pedi baixo e ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas — Ei, vem cá — puxei-a para um abraço — Agora me conta o que aconteceu.
Nós dois éramos aquele tipo de irmãos que brigavam toda hora mas também não se largavam, eu defendia ela e ela me defendeu. Mas, de um tempo pra cá tudo mudou, eu não tenho sido presente, confesso, e ela parou de me contar o que acontecia em sua vida.
— Tá doendo — falou soluçando — Eu não sabia que iria doer tanto.
— Onde está doendo? — coloquei a mão indicando o coração — Aqui? — assentiu — Conta pro seu irmão, eu tô aqui pra te escutar.
Namoral, odiava ver a minha irmã chorar, dava vontade de chorar junto só por ela estar chorando.
— Eu amo alguém que não pode ficar comigo.
— Eita porra, tu tá saindo com cara casado Rebecca?
— Que? Não Vítor! — me encarou — Tá doido?
— Desculpa pô — passei a mão no rosto tentando não rir daquela situação — Porque você não pode ficar com ele? É ele né? Se for ela não tem problema também, tu sabe.
— É ele — suspirou — Porque ele pensa que se ficarmos juntos vai acabar magoando alguém que ele considera muito, e a pessoa vai acabar se afastando.
— É ex? — negou — Então não tem caô porra, se essa pessoa se afastar é porque não quer a felicidade dele e de gente assim ele precisa ficar distante, entendeu?
— Acho que ele e a outra pessoa não entende isso — limpou as lágrimas — Eu tô bem.
— Tá bem o que? Tá aí chorando porra.
— Vou ficar bem maninho, acho que no fundo era melhor acabar mesmo — me olhou — Eu tô com fome.
— Orra — gargalhei — Pensei que você iria falar "te amo, obrigada por tudo, você é o melhor irmão que eu tenho".
— Eu só tenho você, idiota — riu — Que vontade de comer um dogão da praça — fez uma carinha de triste e passou a mão na barriga.
— Folgada pra porra mané — levantei — Só vou comprar porque você tá toda pra baixo, não se acostuma.
— Te amo!
Nem troquei de roupa, peguei meu celular e chave do portão. No caminho fui mandando mensagem no grupo dos moleques, nenhum dos três recebiam. Tô abandonado mesmo!
Como o dogão era pertinho de casa, não demorou nem cinco minutos na caminhada. — Dois completos, por favor.
— Ou, você não viu que tem gente na sua frente não, garoto? — senti um cutucão e uma voz conhecida.
Era a cachinhos do dia que eu joguei futebol com os parceiros, com a mesma pose de marrento.
— O destino é brabo viu? — dei risada.
— Vai tomar no cu, eu ein — virou a cara.
— Desculpa morena, não te vi aí, pode passar — deu licença pra ela.
— Não quero mais — cruzou os braços e eu ri novamente — Tá rindo do que?
— Você não foi com a minha cara né? — perguntei e ela desviou o olhar — Que tal começarmos de novo? — estiquei a minha mão — Eu sou o Vítor, muito prazer.
O que tinha de linda, tinha de marrenta. Me olhou de cima a baixo com a maior cara de deboche, terminou olhando para a minha mão que ainda estava esticada e finalmente respondeu. — Lavínia, mas não é um prazer pra mim.
Caralho, me apaixonei.
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Quase sem querer
RomanceCansada de estar em um relacionamento no qual apenas um ama por dois, Elisa mergulha em uma aventura com ninguém mais do que o seu amor semi-correspondido. O que ninguém sabe, ninguém estraga mas será que o silêncio é o suficiente para os dois? +1 r...